Urbanismo

Vencedores de concurso ensaiam zoneamento do futuro em SP

Prefeitura distribui R$ 350 mil em prêmios para dez projetos. Desenhos serão usados para formulação de lei e apresentação de conceitos à população

Para não matar a cidade: 'A ideia é não ter essas grandes glebas', afirma Florent Vidaling, um dos premiados <span>(IAB/Divulgação)</span>Schultzer: 'Temos que aproveitar esses momentos de reconstrução para fazer emergir esses córregos' <span>(IAB/Divulgação)</span>'Essa ideia é mais fácil de aplicar em áreas menos consolidadas da cidade', avalia Adriana Matsufuji <span>(IAB/Divulgação)</span>

São Paulo – Coeficiente de aproveitamento, volumetria, recuo. É mais fácil desenhar para entender. Com esse espírito, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo e o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) promoveram um concurso sobre o futuro zoneamento da capital paulista. A ideia era se apropriar de normativas e conceitos que são debatidos na Câmara dos Vereadores para a revisão do Plano Diretor Estratégico (PDE) do município, para materializar, em desenhos, ensaios sobre a Lei de Zoneamento, que deve entrar em pauta na cidade seis meses depois da aprovação do novo PDE.

A missão das centenas de arquitetos que apresentaram 54 projetos era propor cinco tipos de zoneamento. Um dos principais critérios para selecionar os vencedores é que, apesar de se localizar em espaços específicos, as propostas tinham de ser passíveis de generalização pela cidade.

Dez projetos foram premiados ontem (4) e dividiram um prêmio de R$ 350 mil. Outros três receberam menções honrosas.

“Ao invés de pensarmos e discutirmos o zoneamento na sua abstração de índices e parâmetros, o gabarito, o recuo, a taxa de ocupação, o coeficiente de aproveitamento, que, em si, não qualificam nada, a gente inverteu no momento que propusemos que se modele, que se ensaiem visões de cidade”, afirma o secretário de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco.

No desenho em que Adriana Matsufuji colaborou, por exemplo, a ideia foi criar áreas de usufruto público dentro de quadras com imóveis privados, aproveitando espaços não utilizados dentro dos lotes para desenvolver eventos que podem ir de uma simples galeria ou a presença de serviços, até eventos culturais. Quanto mais eventos os proprietários permitirem, mais podem se beneficiar de incentivos do poder público. “Tem uma questão importante: essa ideia é mais fácil de aplicar em áreas menos consolidadas da cidade”, explica Adriana.

A crítica à falta de permeabilidade aos pedestres e lotes fechados em si mesmos também está presente na proposta que contou com a colaboração dos arquitetos Mariane Takahashi e Florent Vidaling. “Nossa grande crítica era a esses condomínios enormes que só ocupam o miolo da quadra com uma torre alta. Você gera pouca relação com o lote e a cidade. Produz uma calçada estreita com um muro alto. Isso mata a rua”, diz Mariane. “A ideia é que essas grandes glebas, que existem principalmente em zonas que eram industriais, não existam mais. E que as quadras sejam mais abertas aos pedestres”, destaca Vidaling.

Já a ideia contida no projeto que contou com a colaboração do arquiteto José Guilherme Schultzer é aproveitar processos de reconstrução da cidade, como operações urbanas, grandes projetos de mobilidade, para que a cidade se reencontre com rios e nascentes. “Esse conceito pode ser replicado em várias nascentes. Em áreas não ocupadas, a tarefa que temos é evitar ocupação ambientalmente degradada, mas, nas áreas consolidadas, temos que aproveitar esses momentos de reconstrução para fazer emergir esses córregos”, defende.

O secretário Mello Franco explica que os desenhos premiados não têm objetivo de virar lei, mas de servir como parâmetro para a elaboração do zoneamento da cidade e como forma de incluir toda a sociedade na discussão. “A gente vai usar esse material que cria imagens da cidade para falar com todos aqueles que são leigos, que é a maior parte da população. A imagem é mais fácil de comunicar. Então estamos, também, ensaiando outra forma de estabelecer nossos processos de participação.”

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