Ditadura

Comissão da Verdade atribui morte de JK a acidente e contraria conclusão da Câmara de SP

Relatório rechaça suspeita de que ex-presidente teria sido vítima de atentado durante viagem pela Via Dutra em 1976. Coordenador afirma que está disposto a debater conclusões com vereador paulistano

Valter Campanato/Agência Brasil

Dallari afirmou ter lido com atenção relatório que acusa de homicídio os agentes da ditadura

São Paulo – Relatório parcial divulgado hoje (22) pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) descarta a versão de assassinato do ex-presidente Juscelino Kubitschek e de seu motorista Geraldo Ribeiro. Pelo documento, ambos morreram em consequência de acidente na rodovia Presidente Dutra, no Rio de Janeiro, em 22 de agosto de 1976. A conclusão da CNV contrasta com a da Comissão da Câmara Municipal de São Paulo, que sustenta como causa da morte um atentado preparado pela ditadura brasileira (1964-1985). O presidente da comissão paulistana, vereador Gilberto Natalini (PV), já pediu que seja marcado um encontro com a comissão nacional. O presidente da CNV, Pedro Dallari, disse que a reunião poderá ser feita “a qualquer momento”.

“Não há documentos, laudos e fotografias trazidos para a presente análise, qualquer elemento material que, sequer, sugira que o ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira e Geraldo Ribeiro tenham sido assassinados, vítimas de homicídio doloso”, diz trecho do relatório apresentado hoje. Pelo documento da CNV, JK e seu motorista “morreram em decorrência de lesões contundentes, sofridas quando da colisão frontal entre o veículo Chevrolet Opala, em que viajavam, e o Scania Vavis”, referência ao caminhão que se chocou com o automóvel em que viajava JK, após este ser tocado por um ônibus da viação Cometa.

A CNV diz que a análise foi montada com base em vestígios materiais. “Esse laudo é público. Qualquer elemento que venha a ser trazido será considerado. Lemos com muita atenção o documento produzido pela comissão municipal”, afirmou Dallari, acrescentando ter “mais do que apreço, admiração” por Natalini. Em março, o vereador chegou a enviar ofício à presidenta Dilma Rousseff pedindo que a causa da morte de JK fosse atribuída a agentes da ditadura.

Ainda conforme o documento divulgado pela CNV, os peritos envolvidos concluíram que o fragmento metálico encontrado na cabeça de Geraldo Ribeiro era um cravo usado para fixar o forro do caixão. Existiam suspeitas de que o motorista havia sido baleado na cabeça. “Não dá para confundir a peça de ferro encontrada no crânio com um projétil”, comentou o perito criminal Pedro Cunha. Segundo ele, se o motorista tivesse recebido um tiro, ainda mais na cabeça, o carro que dirigia daria uma guinada “muito maior” para o lado. “Mas, nesse caso, ele virou à esquerda, tendo uma perda de controle momentânea do veículo e, em seguida, tentou voltar à pista, quando o caminhão surgiu. Isso mostra que o senhor Geraldo Ribeiro estava consciente, tentando retomar o leito da via. Ele não foi vítima de disparo de arma de fogo.”

Segundo o membro da CNV José Paulo Cavalcanti Filho, responsável pelo relatório, qualquer colaboração será relevante, principalmente se trouxer dados inéditos. “Sem dado novo, é muito difícil rediscutir um laudo como este.”

Com informações da Agência Brasil