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Sem Alckmin, Dilma inicia obra de casas no Pinheirinho e diz que luta está em cada tijolo

Presidenta afirma que construção de 1.700 moradias é o 'bom resultado' da mobilização de moradores do bairro em São José dos Campos, reprimidos pela PM paulista em janeiro de 2012

Roberto Stuckert Filho/PR

‘Diálogo é fundamental numa democracia porque garante de direitos. Hoje um novo Pinheirinho está surgindo’

São Paulo – Dois anos depois do despejo violento da ocupação Pinheirinho, em São José dos Campos, no interior paulista, a presidenta Dilma Rousseff assinou hoje (25) o contrato de construção de 1.700 casas para as famílias. A ausência notada foi a do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, responsável pela Polícia Militar e alvo de críticas de organizações devido à repressão promovida durante cumprimento de mandado de reintegração de posse. O representante da gestão estadual na cerimônia foi o secretário de Habitação, Silvio França Torres, que não se pronunciou.

“No dia 22 de janeiro de 2012 tivemos um terrível episódio que é um marco na luta de vocês”, disse a presidenta sobre a violenta desocupação da área. “Apesar daquele dia estar gravado na memória, hoje também ficará gravado na memória e no coração de vocês como o dia em que a luta chegou a um bom resultado.” Dilma foi ovacionada pelos participantes do evento.

Mais cedo, a presidenta se pronunciou pelo Twitter sobre o caso e disse que o despejo das famílias da comunidade “nunca será esquecido”. “Sabemos que diálogo é fundamental numa democracia porque cria consensos e permite a garantia de direitos. Hoje um novo Pinheirinho está surgindo no horizonte.”

Na primeira etapa da obra, contratada hoje, serão construídas 1.461 casas, e em abril será assinado acordo para a construção de mais 239, totalizando as 1.700 residências. “As casas vão proporcionar a cada uma das famílias a oportunidade de recomeçar a vida, com essa dignidade que vocês demonstraram ao lutar pela moradia, sem os sobressaltos que por anos marcaram a vida de vocês”, disse Dilma.

O investimento será de R$ 165 milhões e irá beneficiar 7 mil pessoas. O projeto é resultado de uma parceria entre a prefeitura de São José dos Campos, que entrará com R$ 8,4 milhões na infraestrutura do local, o governo do estado, que investirá R$ 20 mil em cada moradia, e do governo federal, que custeará R$ 76 mil por residência, pelo programa Minha Casa, Minha Vida.

Memória

Lideranças de movimentos sociais que participaram do evento lembraram da desocupação militar que ocorreu na área. “Se passou por muita dor para chegar a esse momento. Víamos esses mesmo rostos com lágrimas de dor, porque tiveram suas casa destruídas e seus utensílios e sua caixa de lembranças enterrados. Por que tanto sofrimento para se conquistar a casa própria, que é um direito de todos nesse país?”, questionou o advogado das famílias, Toninho Ferreira. “Queremos reivindicar para a presidenta, que na época classificou Pinheirinho como barbárie, que está na hora de o Brasil ter uma lei para acabar com despejos violentos, para que nunca mais a gente volte a ver aquela cena de guerra que aconteceu aqui.”

O presidente da Associação Democrática por Direitos Sociais, Valdir Martins, conhecido por Marrom, disse que hoje é um dia para “ser lembrado” porque se inicia “o sonho de milhares de famílias aqui de São José dos Campos e do país inteiro”.

“Acordamos com a tropa do governador Alckmin detonando a cidade de São José dos Campos. O pessoal não perdeu só a casa, começamos a perder nossa dignidade. Eu encontrei uma senhora cinco dias depois que dizia: ‘a casa eu construo outra, mas o CD de fotos do meu filho, que morreu há dois anos e que era minha única recordação, esse o trator enterrou e eu não vou conseguir recuperar’”, contou. “A maior discussão hoje é a Copa. Nós somos a favor da copa… da cozinha, do quarto e do puxadinho também”.

“Hoje é o dia em que a luta chegou a um bom resultado, que estará em cada tijolo, nas telhas e no cimento. Vai estar na copa, na cozinha e no quarto. A casa é onde você guarda as coisas que são importantes, cria os filhos, recebe os amigos, toma uma cervejinha e assiste TV. Assiste à Copa. Duvido que alguém aqui não vai assistir à Copa”, respondeu Dilma.

Até o final do ano, a meta da presidenta é contratar a construção de 2,75 milhões de moradias pelo Minha Casa, Minha Vida. Somadas as casas contratadas no segundo mandato do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, serão 3.750.000. Ao todo, 1,6 milhão já foram entregues e 1,7 milhão estão em construção. Outras 450 mil serão contratadas ainda em 2014.