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São Paulo vive pior crise hídrica da história no Dia Mundial da Água

“Se São Paulo recebesse um maior investimento em saneamento, não estaria na atual crise”, diz especialista

Luis Moura/Folhapress

Região onde está a Grande SP foi escolhida por seus fundadores por abundância de àgua

São Paulo – São Paulo vive atualmente a pior crise hídrica de sua história. O conjunto de açudes que abastece a cidade está com seu nível de água abaixo de 15% da capacidade, segundo os últimos dados do governo. O chamado Sistema Cantareira, que reúne seis açudes conectados por túneis e canais, tem capacidade para cerca de um trilhão de litros e é a fonte de água que a companhia de saneamento, Sabesp, distribui a 8,8 milhões de residências.

No local onde havia uma imensa reserva, hoje em dia só se vê um vale de terra, segundo constatou a Agência Efe em uma visita realizada hoje (22), quando é celebrado o Dia Mundial de Água. Para fazer frente à crise e amenizar os efeitos da seca provocada pelo verão mais quente dos últimos 70 anos, o governo de São Paulo anunciou nesta semana um plano de emergência para aproveitar as águas do Rio Paraíba, que é a principal fonte de abastecimento do estado do Rio de Janeiro.

O projeto, que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, apresentou à presidenta Dilma Rousseff, foi imediatamente criticado pelo governo do Rio de Janeiro, que também está preocupado com seu próprio abastecimento. A atual escassez de água contrasta não só com a geografia, mas também com a própria história de São Paulo, cidade que os jesuítas portugueses fundaram para precisamente aproveitar um local com abundância de rios e cursos de água.

Um estudo que a ONG SOS Mata Atlântica realizou para lembrar o Dia Mundial de Água mostra que mais de 82% das fontes de água de São Paulo estão com a qualidade inadequada e apenas 18% com qualidade regular. Nenhum dos rios tem uma qualidade de água considerada boa, segundo o relatório.

“A crise em São Paulo não obedece à falta de água. Estamos em uma região com certa abundância de disponibilidade hídrica. A crise é consequência em primeiro lugar da contaminação e depois da exploração insustentável e do esbanjamento”, disse à Agência Efe a coordenadora da Rede de Águas da organização, Malu Ribeiro. Segundo ela, é precisamente a abundância que gera uma mentalidade de esbanjamento e de falta de cuidado, com consequências que a população começa a sentir.

“Se São Paulo recebesse um maior investimento em saneamento, não estaria na atual crise”, diz a especialista ao lembrar que só 37,5% das águas produzidas pelo Brasil recebem algum tipo de tratamento. Malu questiona também que o país dê prioridade ao uso de água para a produção de energia. “Quando se aproveita a matriz energética dos rios para gerar energia se esquece ou se descartam outros usos possíveis”, diz a militante, que cita como exemplo a represa Billings, localizada na própria região metropolitana de São Paulo.

Com uma área total de 1.560 quilômetros quadrados, apenas as áreas marginais da represa são consideradas adequadas para o abastecimento devido a sua função energética prioritária. Uma maior captação de água para o consumo comprometeria o potencial elétrico. A especialista afirma que a crise no Sistema Cantareira pode ser administrada e prevista, e lembra que o sistema tem um histórico de fortes secas, a mais recente em 2001. “Se não é uma novidade para ninguém (a seca), por que não se investe em medidas que possam compensar ou minimizar esses eventos extremos para que não haja situações de crise?”, questiona.

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