São Paulo

Mesmo com mudanças, principal reservatório de água de SP tem cenário sombrio

Recomendação da Agência Nacional de Águas aponta risco de Sistema Cantareira esgotar em cinco meses e pede que Sabesp se prepare para reduzir ainda mais volume de água enviado à população

Lucas Lacaz Ruiz/Fotoarena/Folhapress

Seca é a pior desde os anos 1930 e pode desabastecer 10 milhões de pessoas em São Paulo e região metropolitana

São Paulo – As mudanças promovidas esta semana pela Sabesp no abastecimento de água das regiões metropolitanas de São Paulo e de Campinas não alteram o cenário sombrio traçado pela Agência Nacional de Águas (ANA). Na prática, a alteração feita pela empresa estadual após pedido da ANA consegue, a esta altura, no máximo postergar um cenário em que o Sistema Cantareira renovará recordes negativos de queda em seus níveis, chegando ao ponto de poder estar zerado.

O nível do reservatório de águas do Sistema Cantareira caiu mais uma vez hoje (7), chegando a apenas 15,8% de sua capacidade, o menor da história. A ANA estima que, prosseguindo a falta de chuvas e mantendo-se a atual vazão de água para a população, o volume útil da represa deve se esgotar em agosto. Restaria somente o chamado volume morto, água que fica abaixo do nível de captação das atuais bombas de sucção, que ainda depende de instalação de infraestrutura para ser aproveitado.

Ontem (6), a ANA e o Departamento de Águas e Energia (DAEE), do governo estadual, emitiram comunicado conjunto em que anunciaram a redução da saída de água do Sistema Cantareira para 27 m³/s para a Grande São Paulo e 3 m³/s para Campinas e região. A outorga que dá à Sabesp o direito de explorar os reservatórios, assinada em 2004 e que tem validade apenas até agosto deste ano, permitiria até 31 m³/s para a região metropolitana de São Paulo e 5 m³/s para a de Campinas.

Cenários projetados pela própria ANA deixam claro que esta medida é insuficiente. Mantida a vazão anterior, o reservatório Cantareira, responsável pelo fornecimento de água a 10 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, estaria completamente esgotado em cinco meses.

Mesmo com um aumento nas chuvas, o sistema chegaria a dezembro com apenas 5% da capacidade. Isso porque com a vazão atual, de 30 m³/s saindo dos reservatórios, o consumo de água do Sistema Cantareira é o dobro do ritmo de reposição dos reservatórios.

De acordo com o relatório diário do grupo de trabalho que reúne ANA, DAEE e Sabesp para acompanhar a situação do Sistema Cantareira, até hoje, os rios que alimentam o Sistema Cantareira apresentavam vazão de 15,5 m³/s.

Saiba mais:

O mesmo documento obriga a companhia a preparar plano de contingência para reduzir ainda mais o nível de vazão das águas para os consumidores, caso a incidência de chuvas não melhore durante o mês de março. E também ressalta que o plano de trazer água de outros reservatórios, como Guarapiranga e Alto Tietê, só deve começar a operar em maio.

Ainda assim, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e a Sabesp continuam descartando a possibilidade de racionamento de água na capital, muito embora o procedimento já ocorra nas cidades de Guarulhos e Campinas.

Redução de perdas

A Sabesp não respondeu à RBAsobre o andamento do Programa Corporativo de Redução de Perdas de Água. Trata-se de uma tentativa de diminuir a perda de água tratada da companhia, que no ano passado foi em torno de 25% do total produzido, para 13% até 2019. No entanto, a previsão era de que em 2013 o nível de perdas estivesse reduzido a apenas 20%, segundo relatório da 24ª Audiência de Sustentabilidade – Redução de Perdas, de 21 de julho de 2010, o que revela um atraso nas ações.

A companhia recebeu repasses de US$ 440 milhões para acelerar o programa, a partir de um convênio firmado com o governo japonês, em 2012. O projeto foi criado em 2009 e, além do objetivo de reduzir as perdas de água em vazamentos e ligações clandestinas, pretende trocar 875 mil ramais prediais – ligação de água da rua até o hidrômetro –, substituir 1,6 milhão de hidrômetros, trocar 674 quilômetros de redes de água, do total de quase 66 mil quilômetros, e fiscalizar outros 150 mil quilômetros em busca de vazamentos ainda não detectados.

No último dia 21, a Rede Nossa São Paulo, que agrega 600 organizações não governamentais, entregou uma carta à diretora-presidenta da Sabesp, Dilma Pena, reivindicando informações sobre o andamento de tal programa, além de medidas emergenciais e de médio prazo para o uso racional da água. A entidade também não teve resposta.

O documento da Nossa São Paulo destaca que o índice de perdas em outras cidades do mundo é bem inferior ao de São Paulo: Chicago (EUA), 2%; Amsterdam (Holanda), 3%; Frankfurt (Alemanha), 3,3%; Tóquio (Japão), 3,6%; Barcelona (Espanha), 6%; Pequim (China),12,5%, e Mumbai (Índia), 13,6%.

Leia também

Últimas notícias