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Dilma recorda 50 anos do golpe: ‘Quem dá voz à história somos nós’

Presidenta afirma que lembrar derrubada de João Goulart é uma obrigação do país com todos aqueles que morreram e desapareceram. Comissão da Verdade diz que reparação de injustiças é desejo da maioria

Roberto Stuckert Filho/Planalto

Presidenta considera que a própria eleição é uma demonstração das mudanças trazidas pela democracia

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff aproveitou discurso no Palácio do Planalto para recordar que hoje (31), há 50 anos, o país sofria um golpe de Estado. No marco das celebrações pela história da deposição de João Goulart, ela reiterou a necessidade de resgatar o passado e contar a história do país de maneira adequada para garantir a construção da democracia brasileira.

“As cicatrizes podem ser suportadas e superadas, porque hoje temos uma democracia, podemos contar nossa história. Nesse Palácio, dois anos atrás, quando instalamos a Comissão Nacional da Verdade, eu disse que se existem filhos sem pais, pais sem túmulos, nunca mesmo pode existir uma história sem voz. E o que dará voz à história são os homens e mulheres livres sem medo escrevê-la. Quem dá voz à história somos nós.”

Durante a assinatura de contrato para a construção de uma ponte sobre o rio Guaíba, em Porto Alegre, Dilma afirmou que o Brasil aprendeu o valor da liberdade, o que significa ter poderes independentes e ativos, contar com liberdade de imprensa e voto secreto. Ela citou sua própria eleição, de uma mulher que resistiu ao regime, como exemplo do funcionamento da democracia brasileira, cujo vigor teria sido demonstrado também pela eleição de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, um ex-operário.

“O dia de hoje exige que lembremos e contemos o que aconteceu. Devemos isso a todos que morreram e desapareceram, aos torturados e perseguidos, a suas famílias, a todos os brasileiros”, afirmou. “Lembrar e contar faz parte de um processo muito humano, desse processo que iniciamos com as lutas do povo brasileiro, pela anistia, Constituinte, eleições diretas, crescimento com inclusão social, Comissão Nacional da Verdade, todos os processos de manifestação e democracia que temos vivido ao longo das últimas décadas. Um processo que foi construído passo a passo, durante cada um dos governos eleitos depois da ditadura.”

Dilma disse que lembrar e contar o que aconteceu às novas gerações é parte do processo iniciado pelos brasileiros que lutaram pelas liberdades democráticas, pela Anistia, pela Constituinte, por eleições diretas e, mais recentemente, pela criação da Comissão Nacional da Verdade.

“Cinquenta anos atrás, na noite de hoje, o Brasil deixou de ser país de instituições ativas, independentes e democráticas. Por 21 anos, mais de duas décadas, nossas instituições, nossa liberdade, nossos sonhos foram calados”, lembrou. “Hoje podemos olhar para esse período e aprender com ele, porque o ultrapassamos. O esforço de cada um de nós, de todas as lideranças do passado, daqueles que viveram e daqueles que morreram fizeram com que nós ultrapassássemos essa época.”

Comissão da Verdade

Criada por Dilma em maio de 2012, a Comissão Nacional da Verdade emitiu nota na qual critica o legado deixado por 21 anos de regime autoritário e se defende de críticas sofridas desde o debate em torno de sua criação, reforçados nos últimos dias por grupos favoráveis à atuação dos militares que comandaram o Executivo.

“Esteia-se na certeza de que o esclarecimento circunstanciado dos casos de tortura,
morte, desaparecimento forçado, ocultação de cadáver e sua autoria, a identificação
de locais, instituições e circunstâncias relacionados à prática de violações graves de
direitos humanos, constituem dever elementar da solidariedade social e imperativo da
decência, reclamados pela dignidade de nosso país. Não deveria haver brasileiro algum
ou instituição nacional alguma que deles se furtassem sob qualquer pretexto”, diz o comunicado, que afirma ainda que o Brasil, ao se confrontar com a herança do golpe, é claramente outra nação.

“O país se renovou, progrediu e busca redefinir o seu lugar no concerto das nações democráticas. Não há por que hesitar em incorporar a esta marcha para adiante a revisão de seu passado e a reparação das injustiças cometidas. Pensamos ser este o desejo da maioria. É certamente o sentido do trabalho da Comissão Nacional da Verdade.”

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