Descaso

Pedestres relatam que Samu recusou atendimento a morador de rua em São Paulo

Homem foi encontrado no chão em uma rua do centro da capital e acabou atendido uma hora depois por outra ambulância. Atendentes disseram que não era nada grave. Secretaria promete investigar

Yasmim Abou

O homem foi levado por fim a um hospital a doze quilômetros de onde estava, no centro

São Paulo – Uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) se recusou a atender um homem em situação de rua na rua Rego Freitas, no centro de São Paulo, na tarde de hoje (10). Ênio Lacerda Salgado, de 40 anos, foi encontrado no chão por pessoas que passam pelo local, tremendo e com diversos ferimentos.

“Quando cheguei, uma argentina disse que já havia ligado para o 192, mas eles não tinham chegado ainda. Ela falou um carro da policia parou, mas não quis sujar a viatura, e por isso não prestou socorro. Eu liguei novamente para o 192, mas quando chegaram disseram que ele ‘não estava morrendo’ e não podiam levá-lo”, conta a historiadora Paula de Montes.

Ela relata que nenhum membro da equipe o tocou, mas, ainda assim, concluiu-se que seus sintomas eram provocados pela abstinência de álcool. A historiadora foi orientada a ligar para a Coordenadoria de Atendimento Permanente e de Emergência (Cape), órgão subordinado à Secretaria Municipal de Assistência Social.

Inicialmente, Paula foi informada que Ênio não podia ser atendido pelo serviço porque estava passando mal. Mas, depois, o paramédico convenceu a atendente do Cape que o estado dele não era grave e que ele podia ser atendido.

O número do Cape é divulgado em campanhas da prefeitura para atender uma pessoa em situação de rua em emergência ou durante noites muito frias. Uma hora depois de realizar a chamada e oficializar o pedido de socorro, o Cape não havia chegado.

Ênio foi finalmente atendido quando chegou uma segunda ambulância do Samu, por volta de 16h45, uma hora depois de a emergência ser acionada. Mas, mesmo estando a poucos metros da Santa Casa de Misericórdia, ele foi levado até o Pronto Socorro Bandeirantes, no quilômetro 12 da Raposo Tavares, a 12 quilômetros de onde foi encontrado.

“A situação é ridícula. Absurda. Uns não quiseram socorrê-lo porque ele estava passando mal, outros porque ele não estava morrendo. Disseram que era bebida e que ele estaria do mesmo jeito na semana que vem, mas não importa. A gente tinha que salvar ele hoje”, afirma a estudante de Direito Yasmim Abou, uma das que prestaram o primeiro atendimento a Ênio. Depois, ela o acompanhou até o pronto-socorro. Ele foi diagnosticado com sarna e passará a noite sedado.

Segundo o membro do Conselho Municipal de Assistência Social Francis Larry Santana Lisboa, a situação é irregular, mas “corriqueira”. “Eles não atendem mesmo. Inclusive, muitas vezes, quando você liga avisando que há alguém com mal-estar em via pública, eles perguntam se é pessoa em situação de rua. Quando é, eles não vão ou demoram muito”, afirma.

A assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde informou que o caso será investigado.

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