repressão

Prisão de rapper na cracolândia revolta participantes do programa De Braços Abertos

Outros dois homens foram presos. Sete horas depois de serem levados para delegacia, registro ainda não havia sido feito

São Paulo – A prisão do rapper Kawex revoltou equipes de saúde e frequentadores da região conhecida como Cracolândia, no bairro da Luz, centro de São Paulo. Kawex foi levado por policiais militares na manhã de hoje (24). Ele vestia o uniforme da frente de trabalho do programa De Braços Abertos, implementado há pouco mais de um mês pela prefeitura. Segundo testemunhas, ele respondeu a um PM, que teria agredido verbalmente uma mulher, e foi preso por desacato. O programa prevê renda, moradia e assistência social e de saúde para usuários de crack na região.

Segundo o tenente William Thomaz, responsável pela base comunitária instalada na região, a informação é de que o rapper havia cuspido nos policiais. Outros dois homens também foram levados ao 77° Distrito Policial, na Santa Cecília – um sob acusação de tráfico e outro, por ter esfaqueado uma pessoa durante a confusão.

A RBA presenciou a ação. Um dos PMs entrou no “fluxo”, como é chamada a concentração de usuários e traficantes, com uma arma de grosso calibre em punho à procura de um homem que carregava uma mochila.

O homem tentou correr, mas foi contido e levado para a calçada do equipamento do programa da prefeitura. Um dos policiais chegou a bater com a mochila no rosto do homem, que já estava imobilizado, e apontar uma pistola enquanto ele permanecia sentado no chão.

Ao lado, Kawex foi algemado, o que revoltou quem acompanhava. “Ele não é noia, não. Solta ele”, gritavam. Enquanto os policiais atentavam para as pessoas que pediam a libertação do rapper, o homem que deu origem à ação tentou fugir. Seis policiais o imobilizaram, um deles com uma pistola em punho.

Há exatamente um mês, Kawex conversou com a RBAe afirmou que iria usar o dinheiro obtido com a frente de trabalho para tentar se aproximar de sua família. “Ele é muito querido aqui, um artista. Muito injusto isso”, disse um dos assistentes sociais.

Participantes do programa contaram que, desde sexta-feira, a situação está mais tensa na região, com abordagens policiais violentas e muitas vezes sem fundamentos. “É assim direto aqui. Só injustiça desses vermes aí”, disse uma das usuárias, que preferiu não se identificar. “Esses policiais ficam provocando a gente, depois arrastam por qualquer coisinha”. Arrastar é sinônimo de prejudicar, na gíria usada por muitas pessoas na região, enquanto verme é como chamam os policiais. Durante a confusão, um homem esfaqueou outro e também foi levado para o 77° DP.

Segundo o tenente William, a tensão tem a ver com diminuição do volume de drogas no fluxo, graças à ação policial. “Eles estão sendo monitorados 24 horas por dia. Isso elimina o tráfico. Estamos fazendo de duas a três prisões todos os dia. A droga está mais difícil de chegar”, afirmou.

A reportagem tentou saber como foram registrados os boletins de ocorrência das pessoas levadas para a delegacia, mas sete horas depois, no fechamento desta matéria, ainda não havia essa informação.

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