Resistência

Comunidade ameaça usar molotov contra policiais em reintegração em São Paulo

Juiz federal nega liminar suspendendo operação de retirada de moradores que desde junho ocupam 940 apartamentos construídos pela Caixa para famílias de baixa renda. Cinco mil pessoas estão no local

Raoni Maddalena/RBA

Moradores fazem cordão humano em torno do conjunto habitacional. Reitegração está autorizada desde agosto

São Paulo – O juiz Wilson Zauhi Filho, da 13ª Vara Cível Federal, negou o pedido de suspensão da reintegração de posse de um empreendimento da Caixa Econômica Federal financiado com recursos do Minha Casa, Minha Vida em Itaquera, na zona leste de São Paulo. A decisão foi tomada ontem, quando a Polícia Militar tentou negociar a saída pacífica dos moradores, que desde junho ocupam os 940 apartamentos que estavam destinados a outras famílias.

Desde a madrugada de segunda-feira, os moradores, calculados em 5 mil, fazem vigília em torno dos cinco blocos do complexo e prometem “usar o que for necessário” para impedir a ação da polícia, que está postada com Tropa de Choque e Força Tática. Ontem, barricadas com móveis foram montadas nos acessos às entradas dos cinco blocos do conjunto. De mãos dadas, os moradores formaram cordões humanos no entorno. Eles prometem incendiar barricadas e usar coquetéis molotov contra os agentes.Um dos líderes dos moradores afirmou que haverá uma “carnificina” se os policiais tentarem entrar no conjunto. 

A reintegração estava marcada para ontem. Mas os representantes da Polícia Militar decidiram dar mais um dia para que os mais de cinco mil moradores saíssem pacificamente. Agora, se revezam diante do Bloco B, o primeiro que será reintegrado. “Eles querem entrar no B para poder entrar nos outros. Mas não vamos dar nenhum bloco pra eles”, afirmou um morador, que não quis se identificar.

Os apartamentos do conjunto habitacional Caraguatatuba seriam entregues em agosto do ano passado, caso não tivesse havido a ocupação, para famílias com renda de até R$ 1.600 per capita provenientes de áreas de risco. Entre os beneficiados, estavam ex-moradores do Jardim Pantanal, bairro também da zona leste da capital que ficou alagado 40 dias seguidos, entre dezembro de 2009 e janeiro de 2010.

A reintegração de posse foi autorizada há seis meses pela juíza Maria Fernanda de Moura e Souza, à época substituta na 13ª Vara Cível Federal. Em sua decisão, ela deu prazo de 15 dias para que os moradores saíssem voluntariamente. O prazo foi estendido desde então em função de tentativas de negociações entre lideranças dos moradores e a Caixa.

Ontem, durante uma conversa em via pública com representantes da PM, Luiz Munhoz, o Mancha, que se intitula porta-voz da comunidade, afirmou que só aceita duas possibilidades: o encaminhamento imediato dos moradores do conjunto para outras moradias ou a permanência no Caraguatatuba.

Policiais e oficiais de Justiça incentivaram os moradores a buscar respostas junto à prefeitura, que não é responsável pelo imóvel. Chegou a circular entre os moradores a informação de que Fernando Haddad (PT) iria receber uma comissão de dez pessoas na sede da administração municipal, no centro da cidade, o que foi desmentido pela assessoria de comunicação do prefeito.

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