Ataques a ônibus

Secretário não tem certeza sobre participação do crime organizado

Fernando Grella afirma que pode haver motivos diferentes para os 32 veículos incendiados na capital paulista este ano. Haddad descarta GCM fazendo trabalho da PM

Marcelo Alves/Folhapress

O veículo de hoje foi incendiado por volta das 12h, na altura do número 10 mil da Estrada do M’Boi Mirim

São Paulo – O secretário estadual de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella Vieira, afirmou hoje (29) não ser possível dizer com certeza se há atuação do crime organizado nos ataques a ônibus na capital. A declaração foi dada depois que a SPTrans, gestora municipal do transporte coletivo, anunciou que 32 veículos foram incendiados até agora neste ano – dois hoje.

“Não temos ainda clareza se é crime organizado ou se são meramente movimentos sociais. Por que razão? Porque as motivações confirmadas pelas próprias empresas são as mais distintas. Ora em razão da morte de uma pessoa, ora em razão de enchente, ora em razão de algum outro problema”, disse Grella, ao lado do prefeito Fernando Haddad (PT). O questionamento foi feito durante entrevista coletiva a respeito do programa Braços Abertos, desenvolvido pela gestão municipal com dependentes químicos na região do centro conhecida como “cracolândia”.

Grella explicou que na última sexta-feira houve uma reunião entre a equipe estadual de segurança e os empresários das concessionárias do transporte público para discutir o tema. “Fato é que não é uma situação normal. Estamos mobilizados com o setor de inteligência e duas linhas, fortalecendo as investigações. Há uma grande dificuldade, muitos não querem falar.”

Até segunda-feira havia sido registrado praticamente um incêndio de ônibus por dia no ano, mas o número aumentou com os ataques de ontem (28) a três veículos e com mais um destruído hoje na região de M’Boi Mirim, na zona sul da cidade.

A Polícia Militar (PM) informou que hoje o veículo foi incendiado por volta das 12h, na altura do número 10 mil da Estrada do M’Boi Mirim. De acordo com a PM, um grupo de manifestantes bloqueou a via, obrigando o motorista a parar. Eles pediram para os passageiros descerem e atearam fogo no veículo. A corporação disse não ter informações sobre o motivo do protesto.

Apenas ontem (28), três ônibus foram incendiados e um apedrejado. Dois foram queimados também na Estrada do M’Boi Mirim, na região do Capão Redondo. Um terceiro veículo foi apedrejado na mesma região por cerca de 15 pessoas, que obrigaram o motorista a sair do ônibus quando passava pela Rua Citeron.

Por volta das 23h, outro ônibus foi atacado na Rua Desembargador Arlindo Pereira, na região do Itaim Paulista, zona leste, com coquetéis molotov. O motorista e o cobrador conseguiram conter as chamas e o veículo ficou parcialmente destruído. Ninguém se feriu.
Em nota emitida hoje pela manhã, a SPTrans informou que dez linhas estão com os serviços prejudicados nos acessos aos jardins João XXIII, na zona oeste, e Ângela, na zona sul. A empresa informou que motoristas e cobradores têm receio de entrar ali durante a noite, o que vem levando a mudanças no trajeto. Frente a esse quadro, Grella decidiu atender ao pedido da autarquia e informou que será reforçado o policiamento nos dois bairros.

Durante a coletiva, Haddad afirmou entender que as empresas tomem a decisão de não entrar em bairros nos quais não exista segurança para o trabalho dos funcionários. “A concessionária tem todo o interesse em cumprir sua rotina. O problema é colocar os passageiros e o equipamento em risco, forçando entrada onde há ameaça real de vandalismo”, disse, descartando em seguida a possibilidade de acionar a Guarda Civil Metropolitana para exercer o papel de proteção dos veículos.

“Vamos ter de estudar alternativas. A guarda é para patrimônio imobiliário. A guarda não tem treinamento para enfrentar situações de combate com pessoas armadas e dispostas a tudo para fazer valer sua vontade. É preciso tomar muito cuidado para não colocar pessoas sem o devido preparo numa linha de frente para a qual não estão preparadas.”

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