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Polícia Federal prende cinco índios tenharim envolvidos no caso Humaitá

Eles são suspeitos de envolvimento no assassinato de três homens que atravessavam a rodovia Transamazônica, entre os km 100 e 150, em dezembro passado. As prisões terão validade de 30 dias

raolin magalhães/folhapress

Durante a investigação, foram encontradas em uma das aldeias peças do veículo ocupado pelos desaparecidos

Manaus – A Polícia Federal em Rondônia prendeu na noite de ontem (30) cinco indígenas da etnia tenharim, cuja reserva fica no Estado do Amazonas, suspeitos de envolvimento no assassinato de três homens quando estes atravessavam a rodovia Transamazônica, entre os km 100 e 150, em dezembro passado. As prisões foram expedidas pela Justiça Federal do Amazonas e terão validade de 30 dias.

Em nota enviada hoje (31) pela assessoria de imprensa, a PF de Rondônia diz que as conclusões da investigação “apontam para a ocorrência de homicídio praticado pelos presos dentro de uma das aldeias e posterior ocultação dos cadáveres”. Os corpos dos três homens ainda não foram localizados. Os desaparecidos são Stef Pinheiro, Luciano Freire e Aldeney Salvador.

A nota da PF não informa os nomes dos indígenas presos, mas a RBA apurou que são Gilvan Tenharim, Gilson Tenharim, Simeao Tenharim, Domiceno Tenharim e Valdimar Tenharim. Os dois primeiros são filhos do cacique da aldeia Taboca, Ivan Tenharim, cuja morte não explicada oficialmente teria sido um dos estopins do conflito ocorrido no final do ano, no município de Humaitá. Eles estão presos na Penitenciária Pandinha, em Porto Velho.

A Polícia Federal diz que os trabalhos da força-tarefa percorreram aproximadamente 270 hectares. Durante a investigação, foram encontradas no interior de uma das aldeias peças do veículo ocupado pelos desaparecidos.

Foi realizada perícia técnica nas peças encontradas, além da utilização de cães farejadores para localização de cadáveres e equipamentos modernos de rastreamento de peças metálicas escondidas.

A força-tarefa contou com a Força Nacional de Segurança Pública, Polícia Rodoviária Federal e Exército Brasileiro.

A PF informou que durante as investigações ouviu diversas testemunhas, entre indígenas e não indígenas. Na nota enviada à imprensa, contudo, a PF não diz quais as provas que levaram seus investigadores a concluir que os indígenas têm envolvimento no desaparecimento e nas mortes.

Em declaração anterior dada à RBA, Aurélio Tenharim disse que a PF ouviu aproximadamente 20 indígenas, inclusive ele, sem a presença de advogados.

“Nos chamavam e ficavam perguntando se foi algum de nós que matou os ‘homens brancos’. Ficavam nos pressionando. Disseram até que já existem provas para indiciar os índios. Mas por que eles não pegam outra linha de investigação? Querem nos culpar de qualquer forma”, contou Aurélio.

Segundo a PF, os trabalhos de polícia judiciária prosseguem até a apresentação do relatório final do inquérito policial. A PF também instaurou inquéritos para apurar o desaparecimento e destruição do patrimônio público da Fundação Nacional do Índio (Funai) durante os protestos da população contra os índios no final de dezembro.

Sitiados nas suas aldeias, os indígenas estão com dificuldade de comunicação. A reportagem tentou sem sucesso falar com os indígenas por meio de um orelhão instalado na aldeia (onde não pega sinal de celular). O advogado Ricardo Albuquerque não quis se pronunciar sobre o assunto. Ele afirmou que falará com a imprensa somente na próxima semana.

Interrogatório

O caso envolvendo os indígenas tenharim explodiu em dezembro passado, quando três homens desapareceram na rodovia Transamazônica, no sul do Amazonas. A demora da Polícia Federal em dar respostas sobre o caso levou os familiares dos desaparecidos a iniciar uma pressão que resultou em várias manifestações nas cidades próximas à reserva Tenharim.

No dia 25 de dezembro, uma grande manifestação no município de Humaitá com mais de 3 mil pessoas causou o caos na cidade. Prédios da Funai foram depredados e veículos incendiados. No dia 27, outra manifestação foi realizada na rodovia liderada por fazendeiros e madeireiros. Uma das aldeias chegou a ser invadida, mas a polícia conseguiu controlar os manifestantes.

Refugiados em um quartel do Exército desde a manifestação do dia 25, os indígenas tenharim e de outras etnias voltaram para suas aldeias no dia 30 de dezembro, onde permanecem sitiados até o momento.

Os protestos não foram apenas contra o desaparecimento dos três homens e a falta de resposta da polícia, mas também contra a cobrança do pedágio que os tenharim realizam na rodovia.

De seu lado, os tenharim afirmam que a cobrança é a forma que eles encontraram para receber compensações por terem suas terras atravessadas pela Transamazônica na década de 1970. Eles dizem que a rodovia não apenas cortou seu território como levou muitos impactos ambientais, sociais e culturais.

Atualmente, a área onde estão localizadas as aldeias tenharim está protegida por policiais da Força Nacional de Segurança.