Braços abertos

‘Pessoas em atividade ilícita na cracolândia não se sentirão seguras’, afirma Haddad

Prefeito de São Paulo divulgou balanço do programa ao lado de Fernando Grella, secretário estadual de Segurança. Em dez dias, foram realizadas 25 prisões e apreendidas 1.131 pedras de crack

Tiago Silva/ABCDigipress/Folhapress

A ideia, garantiu o prefeito (e), não é expulsar os dependentes que se reúnem no bairro da Luz, mas combater o tráfico

São Paulo – O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou hoje (29) que “pessoas que estão em atividade ilícita não se sentirão mais seguras na ‘cracolândia’”, região que é alvo do programa Braços Abertos, iniciativa da prefeitura em parceria com o governo do Estado. Em dez dias de operação, foram realizadas 25 prisões e apreendidas 1.131 pedras de crack. Apenas no dia 21, foram 346. Ao longo de todo este primeiro mês, 891 gramas de crack foram encontradas pela polícia na região.

Desde segunda-feira, a polícia tem posicionado viaturas próximas ao chamado fluxo, concentração de usuários e traficantes. A ação faz com que a massa de pessoas mude de lugar. No início da semana cerca de 70 usuários estavam na Rua Barão de Piracicaba. A rua tem três escolas e, em função do início das aulas, as pessoas foram induzidas a deixar o local. O fluxo passou a se concentrar na rua Dino Bueno. Ontem, nova ação da polícia, sem relatos de violência física, fez os dependentes irem para a Rua Helvétia, na esquina com a Duque de Caxias. No ínicio desta tarde, três viaturas estacionaram ao lado da concentração de cerca de 50 pessoas, o que levou uma parte delas a deixar o local. Mas muitos permaneceram na calçada, consumindo crack, sem ser incomodados pelo militares. Durante a noite, o fluxo cresce e cheg a ter 600 pessoas. Mas antes do programa, era comum ter mais de 1.500.

A ideia, garantiu o prefeito, não é expulsar os dependentes de crack que se reúnem no bairro da Luz, mas “fazer com que haja uma diluição do problema pelo combate da atividade ilegal”.

Para Haddad, o programa combate as duas pontas do problema – as questões sociais e o tráfico. “Nosso enfoque é universal, não é particular. Nós não entendemos que os dependentes tenham mais direitos que os outros cidadãos e vice-versa, não entendemos que os outros cidadãos tenham mais direitos que o dependente. Todos têm liberdade de se deslocar pela cidade. A exceção é quem está envolvido em atividade ilícita”, afirmou.

Haddad reuniu os secretários das pastas envolvidas no programa e o secretário estadual de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, na sala de imprensa da sede da administração municipal, para apresentar um primeiro balanço do programa Braços Abertos uma semana depois da operação da polícia civil, considerada “lamentável” pelo prefeito. O responsável pela segurança pública reafirmou o compromisso do governo do Estado em trabalhar em conjunto com a prefeitura para garantir o sucesso do programa.

Segundo Grella, a intenção da presença de 172 policiais militares divididos em dois turnos é “não deixar que as ruas do bairro se tornem uma zona livre de trafico de crack”. Ele também afirmou que a Polícia Civil está investigando, através inclusive de escutas telefônicas, os chamados “peixes grandes”.

Em dez dias, as equipes de saúde realizaram 1.394 abordagens junto às pessoas que aderiram ao programa, sendo que 127 delas receberam atendimento médico e 95 foram encaminhadas para atendimento médico, 57, para acompanhamento no Centros de Atendimentos Psicossocial (Caps) Sé e Prates. Quinze pessoas foram internadas para realizar desintoxicação. Quatro, por problemas de saúde em geral. Cento e vinte e cinco pessoas realizaram exames laboratoriais. Cinco foram diagnosticadas com tuberculose, três com HIV e duas com sífilis. Nove mulheres estavam gestantes.

Outras 101 abordagens foram feitas a pessoas que frequentam a região em busca de drogas, mas não quiseram participar do Braços Abertos. Ao todo, 316 pessoas aderiram ao programa, 309 receberam na última sexta-feira (23).

A RBA esteve na região no inicio da semana e hoje e notou ausência de agentes municipais de saúde e assistência social. Questionado sobre o assunto, o secretário municipal de Saúde, José de Filippi Júnior, afirmou que não houve redução de pessoal e que as equipes irão aumentar nos próximos dias. A aparente ausência seria causada porque eles estão concentrados em atender as pessoas nos hotéis e nos Caps para onde alguns usuários foram encaminhados.

José de Filippi também afirmou que há um grupo de trabalho formado por psiquiatras estudando a possibilidade de uso de medicamentos para diminuir os efeitos da abstinência dos usuários que estão tentando parar o consumo do crack.

A secretária municipal de Assistência Social, Luciana Temer, afirmou que a ideia de oferecer cursos de qualificação profissional imediatamente aos participantes do programa foi revista. Isso porque muitos ainda não têm condição física para acompanhar as aulas e dormem depois da jornada de quatro horas de trabalho.

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