Gilberto Carvalho

‘É um desconforto enorme, mas bendito seja’, diz ministro sobre manifestações

Fernando Frazão/Agência Brasil Carvalho admite que o plano proposto pelo PT a partir de 2003 está próximo do esgotamento Porto Alegre – O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, […]

Fernando Frazão/Agência Brasil

Carvalho admite que o plano proposto pelo PT a partir de 2003 está próximo do esgotamento

Porto Alegre – O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho (PT), disse ontem (24) que as manifestações de junho do ano passado causaram um desconforto no governo federal, que estava acostumado a dialogar com organizações sociais tradicionais, baseadas em uma liderança e uma pauta específicas. O petista considera que esse desconforto é positivo e faz com que o governo procure entender a formatação e as propostas expressadas pelas mobilizações de 2013.

“Dá um incômodo? Claro que dá. Estamos acostumados a dialogar com movimentos de pauta anual, de disciplina, de comando. E agora temos que dialogar com movimentos que não têm liderança e pauta formais. É um desconforto enorme, mas bendito seja esse desconforto, porque nos dá a possibilidade de avançar”, declarou o ministro, durante o painel “As jornadas de junho e o futuro da democracia no Brasil”, realizado às 18h no Conexões Globais, em Porto Alegre, durante o Fórum Social Temático.

Gilberto Carvalho entende que o projeto petista à frente do Palácio do Planalto “vai se esgotando, na medida em que realizou aquilo a que se propunha” e disse que “a elaboração de um novo projeto não será fruto de questões partidárias, mas dessa grande e desorganizada forma de se fazer democracia e de se mobilizar”. O ministro considera que o governo e o PT devem “ter respeito por tudo isso e não queremos nos apropriar, cooptar e achar que isso tem que vir a serviço de um projeto nosso”.

O governador Tarso Genro (PT), que também participou do debate, disse que nenhum setor político soube interpretar de forma clara as manifestações. “Nenhum partido político compreendeu o que aconteceu. Todos, sem exceção – não importa em que parte da esquerda se situem -, foram apanhados de surpresa. Mesmo os que estavam no movimento não podiam dizer seus nomes, pois estavam lá clandestinamente”, comentou, referindo-se à rejeição manifestada pelas pessoas aos partidos.

Pablo Capilé, liderança do Fora do Eixo, opinou que as manifestações foram, em parte, resultado de uma quebra de diálogo entre o governo federal e movimentos sociais que vinha se consolidando desde 2002, com a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “É um movimento muito difuso, que envolve temas diversos. A única certeza que temos é que ele não começou em junho e não terminou em junho. Faz parte de um processo de renovação das representações políticas no Brasil, de um amadurecimento da democracia”, disse.

A professora da Escola de Comunicação da UFRJ Ivana Bentes destacou que as primeiras analises das manifestações “foram um erro atrás do outro”. “A direita dizia que era um golpe comunista. A esquerda dizia que era uma articulação da direita para desestabilizar o governo Dilma”, compara.

Ivana acredita que a repressão policial “criou um Estado de exceção que saiu das favelas e foi ao Leblon”. Ela também criticou a criminalização da tática Black Bloc. “O Estado não pode ignorar um grupo que usa a linguagem da violência e que coloca em xeque o próprio monopólio da violência pelo Estado. É uma das linguagens novas que temos que encarar e dialogar. As linguagens adotadas em junho se diferenciam dos carros de som e das bandeiras de partidos das manifestações tradicionais. Não são um ataque à democracia, são novas linguagens. Temos que olhar para elas de forma mais sofisticada antes de criminalizá-las”, explica.

A pesquisadora também entende que Copa do Mundo precisa ser ressignificada. “A palavra de ordem que mais coloca pânico no mercado, no governo, no Estado, na direita e na esquerda é: não vai ter Copa. Temos que ressignificar essa expressão pela esquerda: não vai ter a Copa das remoções, por exemplo”, comentou.