Reivindicação

Ao lado de Dilma, Haddad é vaiado por catadores e moradores de rua em São Paulo

Retiradas de barracas de praças, em outubro, motivou hostilidade a prefeito petista em evento natalino. Líder relata que administração iniciada este ano foi 'jato d'água fria'

©jorge araújo/folhapress

Prefeito de São Paulo deixou o evento após seu discurso

São Paulo – O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), foi vaiado hoje (19) durante o Natal Solidário dos catadores de materiais recicláveis e população em situação de rua, em cerimônia da qual participou a presidenta Dilma Rousseff e vários ministros, além de parlamentares. A maioria dos presentes se manifestou contra Haddad quando seu nome foi anunciado.

Entre as autoridades, apenas Haddad e o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) foram vaiados. O ex-prefeito, porém, foi bem mais hostilizado, com longas e unânimes manifestações de desprezo, complementados com gritos de “Fora! Fora!”. O descontentamento com o petista seu deu por conta de ele ter mandado desmontar acampamentos de moradores de rua que ocupavam praças da cidade, em outubro.

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Nove ministros também assistiram à solenidade, acompanhada ainda por secretários municipais. A cerimônia integrou a programação da 4ª Expocatadores, feira de negócios e troca de experiências sobre a gestão eficiente de resíduos sólidos, na zona norte da capital. Organizada pelo Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) em parceria com Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), a feira é também um espaço de reivindicação social.

Ao lado de sua esposa, Ana Estela, Fernando Haddad teve uma participação rápida. Ao microfone, parabenizou Dilma pelo mais baixo índice do desemprego desde 2002, 4,6%, divulgado hoje. O prefeito também falou sobre a política de resíduos sólidos implementada por sua gestão, prometeu reciclar 10% dos resíduos secos produzidos na cidade até 2016 e comemorou a formatura de 384 moradores de rua em cursos técnicos. Após seu discurso, o primeiro da tarde, deixou o local.

Em janeiro, o movimento se reuniu com Haddad para pedir melhorias nos serviços municipais à população de rua. E fomos recebidos”, explica Anderson Miranda, coordenador regional do MNPR em São Paulo. No início do mandato, Anderson se dizia satisfeito com o diálogo aberto pela nova gestão. “Mas tomamos literalmente um jato d’água fria quando o prefeito mandou retirar as pessoas da rua à força. Parecia que estávamos de volta ao governo de Gilberto Kassab (PSD).”

O coordenador do MNPR explica que algumas medidas desagradaram especialmente a população de rua. Uma delas foi o recolhimento de barracas de acampamento que utilizaram durante o inverno para aplacar as noites frias. “Isso machucou muito a gente, porque a maioria da população de rua votou no Haddad”, explica. “Queremos moradia, saúde, educação, emprego, enfim, políticas que rompam o preconceito que enfrentamos.”

Apesar das críticas, Anderson aponta avanços importantes na gestão. “As secretarias de Direitos Humanos, Assistência Social e Segurança Urbana nos fortaleceram”, explica. “Não houve nenhum morador de rua que morreu vítima de violência na cidade em 2013. E a Guarda Civil Metropolitana (GCM) não está mais nos agredindo.” Entre reclamações e elogios, o militante diz que o primeiro ano da gestão foi morno. “Precisa esquentar. Precisa atender mais os movimentos sociais.”

Anderson atesta que os despejos e o alto preço dos aluguéis na cidade jogou mais paulistanos às ruas. De acordo com o movimento, o número de pessoas em situação de rua subiu de 14 mil para 20 mil no último ano. “Aumentou mesmo. Não é impressão, é verídico”, sustenta, criticando a situação dos albergues na cidade e a falta de políticas habitacionais voltadas à essa parcela da sociedade. “São famílias inteiras na rua. Nunca tínhamos visto isso.”

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