Habitação

Sem contato com Haddad, movimento de moradia promete ‘pipocar ocupações’

Movimento dos Trabalhadores Sem Teto fez manifestação hoje (11) em frente à prefeitura; entre as reivindicações está bolsa-aluguel, política congelada desde o início da atual gestão

Marcelo Camargo/ABr

Protesto teve concentração na Avenida Paulista, na frente do Masp; sem-teto vieram de 12 ocupações diferentes

São Paulo – Após recusa do prefeito Fernando Haddad (PT) e de seus assessores em receber a comissão de negociação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a coordenação do grupo fez promessas em tom ameaçador, informando que promoverá mais ocupações na cidade, o que encerra em definitivo um primeiro ano de trégua com a gestão iniciada em janeiro.

A manifestação do movimento começou hoje (11) às 8h da manhã no vão livre do Masp. Os sem-teto rumaram depois para a frente da sede da administração municipal, no centro de São Paulo, onde chegaram por volta de 12h40. Depois de uma hora e meia de manifestação e espera, o coordenador do MTST, Guilherme Boulos, anunciou que o prefeito não iria receber o movimento.

“Tivemos a resposta que o prefeito não vai nos receber. Poderíamos reagir de muitas formas, se a gente quisesse e achasse que ia resolver, a gente botava essa prefeitura abaixo. Não ia ser Polícia Militar nem Guarda Civil que iam segurar, não. Se a gente quisesse quebrar, estourar e botar fogo nessa prefeitura a gente botava, mas nós achamos uma resposta melhor para o prefeito, vamos pelo caminho da inteligência, e não da violência.”

Ele prometeu mais ocupações para este mês e para o primeiro de 2014. “Hoje, amanhã, na virada do ano, São Paulo vai acordar com lona preta em todo terreno vazio da cidade, vai pipocar ocupação em tudo quanto é canto. Se não quiseram resolver por bem, vamos resolver por mal”, disse Guilherme Boulos do alto do carro de som estacionado em frente à sede da prefeitura.

Segundo estimativas da Polícia Militar, cerca de 2 mil pessoas protestavam em frente à prefeitura. A coordenação do movimento fala em 5 mil. A principal reivindicação do MTST é a volta do bolsa-aluguel. Desde o início da gestão Haddad esta política está congelada, com a não inclusão de novos beneficiários, sob a argumentação de que é preciso criar soluções definitivas para o problema da moradia, e não paliativos. Além disso, os sem-teto querem uma expansão da política habitacional permanente, com a viabilização de terrenos municipais para moradia popular.

“O diálogo com a prefeitura tem sido muito difícil, não tem se dado diálogo, está sendo bem diferente do que esperávamos da gestão de Haddad. O bolsa-aluguel não funciona mais e há ocupações em situação de despejo, com muitas famílias vulneráveis”, afirmou Boulos.

Os manifestantes de hoje vieram de 12 ocupações das zonas sul e norte da cidade. Depois dos protestos em frente à prefeitura, eles rumaram para a sede da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), empresa do governo estadual vinculada à Secretaria de Habitação. “Por incrível que pareça, nosso diálogo com o governo do estado tem se dado com mais facilidade do que com o governo municipal.”

Para uma moradora da ocupação da Vila Nova Palestina, na zona sul da cidade, que preferiu não se identificar, o sentimento é de traição. “Queremos moradia e queremos ser recebidos por Haddad. Todo mundo aqui votou nele, a gente espera educação dele em nos receber, é o mínimo.”

Resposta

A prefeitura de São Paulo, pela assessoria de imprensa da Secretaria de Relações Governamentais, informou que, apesar do que afirma o movimento, tem um diálogo estabelecido com todos os movimentos sociais da cidade, inclusive com o MTST. Ainda segundo a prefeitura, foram feitas duas reuniões com o movimento no primeiro semestre, e na última reunião marcada, no dia 17 de outubro, houve atos de vandalismo na sede da administração municipal que impediram a efetiva realização da reunião.

Haddad não recebeu a coordenação do MTST pois já informou aos movimentos por moradia que a política do aluguel-social não existe mais, de acordo com a prefeitura. A política para habitação da gestão atual é a proposta da construção de 55 mil moradias populares até 2016. A pressão do movimento, portanto, estaria sendo feita a partir de uma pauta já entregue em reuniões anteriores. Além disso, foi afirmado que a prefeitura não havia assumido o compromisso em receber o MTST no dia hoje.

Sobre a decisão do movimento em aumentar significativamente o número de ocupações na cidade, a gestão petista preferiu não se manifestar.

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