Consciência

Ao receber troféu Raça Negra, Lula diz que é preciso enfrentar raízes da desigualdade

Honraria foi entregue pela Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, por conta das ações afirmativas que ex-presidente desenvolveu durante seus dois mandatos

Foto:Thiago Bernardes/Frame/Folhapress

“Temos de enfrentar a história, o preconceito e a falta de vontade”, disse Lula

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu hoje (18), durante cerimônia na Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, o troféu Raça Negra, em função das ações afirmativas que desenvolveu durante seus dois mandatos presidenciais. O evento, que reuniu secretários de Estado, o reverendo norte-americano Jesse Jackson, representantes do governo angolano e o presidente da Guiné, Alpha Condé, faz parte das comemorações dos dez anos da faculdade e dos 50 anos da morte de Martin Luther King, um dos mais importantes líderes do movimento negro dos Estados Unidos e do mundo.

Durante seu discurso, Lula lembrou do julgamento que recebeu “daqueles que nunca tinham feito críticas à criação de um ministério”, quando ele criou a pasta da Igualdade Racial e iniciou a política de oficialização das terras quilombolas. “Eu lembro quantas vezes nos acusaram porque estávamos fazendo uma política de legalização das terras de quilombo neste país. Eu lembro quantas pessoas diziam: ‘Já não chega a terra dos índios, já não chega os sem-terra invadindo terra, agora vem esse Lula querendo que os negros recuperem as terras dos negros neste país’”, disse.

O reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente, afirmou que Lula é o “presidente negro” do Brasil e lembrou que também foi ele o responsável pela nomeação de Benedita da Silva, em 2003, para chefiar a Secretaria Especial da Assistência e Promoção Social, tornando-se a primeira ministra negra do país. Também lembrou a indicação do atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, relator da ação Penal 470, o chamado mensalão, para a Suprema Corte.

Vicente elogiou a sanção, em 2008, do Estatuto da Igualdade Racial, mas ponderou que a luta dos afrobrasileiros é anterior. “Antes de nós, os negros resistiram, lutaram e fizeram, através da sua formação moral, uma fonte de sobrevivência”, disse.

Lula pontuou que o enfrentamento do preconceito e das desigualdades entre negros e brancos ultrapassa questões legais, está enraizado na “cabeça da elite”. “Não é, companheiros, uma batalha fácil. Porque muito além da lei, nós temos de enfrentar a história, temos que enfrentar o preconceito e temos que enfrentar a falta de vontade.”

“Muito mais do que as conquistas materiais é a conquista da consciência política. A conquista da dignidade. Porque nós não queremos tirar nada de ninguém. Queremos apenas o que é nosso. E estamos conseguindo”, disse o ex-presidente.

 

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