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Guaranis-Kaiowá realizam ritual de rezas para relembrar assassinato de cacique no MS

Líder espiritual foi assassinado por fazendeiros do agronegócio em novembro de 2011 e seu corpo está desaparecido até hoje. Indígenas realizarão ciclo de rezas pela memória do cacique Nísio Gomes

Mariany Martinez/Funai Ponta Porã

Os indígenas Guaiviry se reúnem anualmente para rezar pela alma do cacique Nísio Gomes

São Paulo – Dois anos após o assassinato do cacique Guarani-Kaiowá Nísio Gomes por fazendeiros, os indígenas das terras Guaiviry, do município de Aral Moreira, no Mato Grosso do Sul, iniciam hoje (18) um ciclo de rezas de 48 horas para marcar a morte do líder espiritual. O corpo de Nísio Gomes está desaparecido desde novembro de 2011, ano em que foi morto por funcionários da empresa de segurança pessoal Gaspem. Os pistoleiros agiram a mando de um dos fazendeiros da região, devido ao conflito por terras entre indígenas e iniciativas do agronegócio.

Para as populações tradicionais, o rito de passagem para o mundo dos mortos é uma das cerimônias essenciais a serem realizadas. Em 2012, foi inaugurada uma casa de reza na data do assassinato e este ano lideranças da comunidade se reunirão em reza para que o corpo seja encontrado.

“A cada ano, o dia 18 de novembro é marcado por reza na expectativa de se encontrar o corpo do grande rezador, Ñanderu, nosso pai, para que os indígenas possam realizar os rituais fúnebres que até hoje não foram feitos. De fato, dentro dos Kaiowá isso é uma grave violação, porque não poder realizar os rituais mantém as famílias sofrendo constantemente em vista dessa não passagem para o outro mundo”, explicou o coordenador do Conselho Indigenista Missionário do Mato Grosso do Sul, Flávio Machado, em entrevista hoje à Rádio Brasil Atual.

Nos últimos anos, o assassinato de lideranças em função da luta por território aumentou consideravelmente na região. Em 2009, os irmãos educadores indígenas Rolindo Vera e Genivaldo Vera também foram assassinados por fazendeiros. Eles integravam a liderança de povos tradicionais que buscavam recuperar a terra indígena Ipoy, ocupada pela Fazenda São Luís, em Paranhos (MS). O corpo de Rolindo continua desaparecido até hoje. Segundo Machado, os restos mortais de Genivaldo foram encontrados perto de um riacho, 20 dias depois de sua morte, com traços de tortura.

Os Guarani-Kaiowá cobram ações incisivas do governo federal para barrar a violência rural. Para o coordenador do Conselho Indigenista Missionário, a permanência das populações tradicionais naquela terra representam empecilho para a produção em larga escala do agronegócio.

“As violências se renovam e se repetem todos os dias, da mesma forma como ocorria no período da ditadura. O Brasil vem se mostrando incapaz de cumprir a sua própria Constituição no que diz respeito à defesa e à efetivação dos direitos básicos das populações vulneráveis, especialmente os indígenas”, afirmou Flávio Machado.

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