FoMerco

Mídia distorce percepção sobre Mercosul, avaliam acadêmicos em fórum internacional

Para historiador, visão veiculada do bloco econômico é negativa; grupos midiáticos seriam contra a integração regional

São Paulo – O bloco do Mercosul está garantido pela Constituição brasileira. O texto diz que um dos deveres do governo brasileiro é perseguir a integração com os demais países da América Latina. Porém um dos grandes obstáculos enfrentados pelo Mercosul no Brasil é a falta de conhecimento da população sobre sua natureza, o que tem influência direta da mídia, afirma o professor de pós graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Williams Gonçalves.

Para ele, o Congresso Internacional do Fórum Universitário Mercosul (FoMerco) que teve sua 14ª edição realizada na semana passada, em Palmas, no Tocantins, é importante porque reúne acadêmicos interessados no processo de integração, mas lamenta que não seja um tema pelo qual a maioria dos políticos e a imprensa brasileira costuma se interessa.

Segundo ele, os pronunciamentos sobre o Mercosul se restringem a litígios comerciais, o que faz com que a maior parte da população brasileira desconheça aspectos sociais do Mercosul.

“O cidadão comum brasileiro tem apenas um tipo de conhecimento, quando os argentinos não querem mais comprar nossas geladeiras, por exemplo. Os problemas relativos a imigração, desenvolvimento, convênios universitários, enfim, uma quantidade enorme de questões que estruturam o Mercosul, são temas desconhecidos do grande público” afirmou o professor da UERJ à Rádio Brasil Atual.

O Mercosul, explicou, aparece sempre nos jornais e na televisão de maneira negativaa, geralmente quando empresários brasileiros reclamam de colegas dos países vizinhos, quando estes bloqueiam as exportações brasileiras.

Ele ressaltou que os objetivos que norteiam hoje a mídia são diferentes do jornalismo do século 20, quando a imprensa era chamada de “quarto poder”. “Porque ela expunha e trazia à luz questões que eram ‘secretas’, que políticos não divulgavam, que o povo de maneira geral ignorava. Ela tinha o poder de expor, de dar transparência ao processo de decisões referentes à coisa pública. A mídia hoje tem seus próprios interesses, ela se organiza em grandes corporações que têm seus próprios objetivos econômicos e políticos, e nenhum pudor em usar seus meios para defender estes mecanismos.”

Ele ainda aponta que os grupos de comunicação, em geral, são refratários quando o assunto é integração regional. “A mídia não suporta a participação da Venezuela (no Mercosul), e fará uma série de observações negativas e colocará uma série de obstáculos para a entrada da Bolívia e do Equador (ao bloco), como está previsto.”

Ouça aqui a reportagem de Marilu Cabañas.