moradores de rua

Sem confronto, prefeitura de São Paulo remove barracas da Praça da Sé

Pessoas irão para espaço no Parque Dom Pedro e depois receberão auxílio-aluguel; movimentos alertam para a necessidade de política habitacional de longo prazo

São Paulo – A prefeitura de São Paulo realizou hoje (9) de manhã uma ação de retirada de barracas e tendas da Praça da Sé, na região central da cidade. A orientação da gestão Fernando Haddad (PT) é de não deixar que os moradores de rua montem essas barracas. Desde o final de setembro, equipes formadas pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) e pelas secretarias de Assistência Social, Saúde e Habitação abordam os moradores e fazem um trabalho de convencimento para que recolham as barracas.

A ação de hoje na Sé ocorreu sem confrontos. Havia cerca de 60 pessoas acampadas em 20 barracas, que acabaram desmontadas pelos próprios moradores.

Segundo o subcomandante da GCM, Vanderlei Bento Barbosa, a guarda estava lá apenas para garantir a segurança dos demais funcionários da prefeitura. “A ideia é uma parceria entre as diversas áreas da prefeitura, para fazer trabalho de convencimento. Essas pessoas têm o direito de ficar nas ruas, mas o espaço é público, e as barracas atrapalham circulação. Além disso, as pessoas não têm a menor estrutura.”

Segundo ele, desde o início deste ano, com a nova gestão da prefeitura, a Guarda tem trabalhado cada vez mais com o caráter preventivo na segurança pública. “Com a questão dos dependentes químicos também é muito importante saber diferenciar o dependente e o traficante. O dependente não é caso de polícia”, afirmou.

Não houve resistência por parte de moradores no desmonte das barracas. Caixas, colchões e cobertores eram colocados para fora das moradias improvisadas, e seriam levados, pela prefeitura, para o espaço intersetorial “Braços Abertos”, localizado perto do terminal Parque Dom Pedro II, onde funcionava a antiga “tenda”.

A previsão é que, depois de cadastrados, os moradores fiquem acampados no local por aproximadamente um mês. Depois disso, o auxílio-aluguel de R$ 300 seria concedido por três meses. A iniciativa serviria como uma forma de incentivo para a saída das ruas.

Expectativas

Luciano de Oliveira é morador de rua desde criança e está na praça da Sé faz mais de um ano. Ele gostou da perspectiva de ir para “a tenda”, onde foi prometido, pela prefeitura, banho, comida e maior segurança. A promessa do auxílio aluguel convenceu a maioria dos moradores da Sé, segundo ele. A maior resistência está nos usuários de drogas.

“É bom porque eu nunca tive uma oportunidade dessa, se eu estou aqui é porque não tive oportunidade. Fizemos o cadastro para um dia pegar o aluguel social. Mas tem muita gente que não quer, as pessoas que usam drogas, não é fácil tirar elas das ruas.”

Ele afirmou também que a GCM não cometeu nenhuma violência durante o trabalho de convencimento com os moradores. “Eles são os bonzinhos”, afirmou. Já a Polícia Militar, segundo Luciano, quando aparece de noite, “bota todo mundo pra correr”.

“É só colocar uma toca na cabeça durante a noite que eles chegam maltratando, manda encostar na parede, dá enquadro em todo mundo. E eu nem fumo nem bebo.”

Segundo a prefeitura, as pessoas serão encaminhadas para programas de “acolhimento social”. “Quando chegarem neste espaço, serão encaminhadas para nossos serviços, a partir do cadastro que fizemos. Ou para serviços de saúde, porque alguns são usuários de drogas, ou para o Pronatec para a população de rua, e para o aluguel social”, afirmou a chefe de gabinete da Secretaria Municipal da Assistência Social, Angélica Reck.

O Pronatec para a população de rua é uma parceria entre a prefeitura e o Senai/SP, que oferece cursos profissionalizantes específicos para essas pessoas. Os cursos são de almoxarife, auxiliar administrativo, confeccionador de bolsas em couro e material sintético, mecânico de bicicleta, mecânico de motores a diesel e padeiro, entre outros. A meta da prefeitura, em 2013, é capacitar 2,5 mil pessoas em situação de rua.

Mais diálogo

O coordenador do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), Anderson Miranda, estava presente na ação de hoje para monitorar o trabalho dos agentes da prefeitura. “Desde o começo do ano estamos em contato constante com a GCM, com a Secretaria de Segurança Urbana da prefeitura, e de fato percebemos uma valorização maior dos direitos dessa população.”

Ele destaca, porém, que é preciso ter políticas públicas mais estruturais e de longo prazo. “Estamos aqui também para cobrar a prefeitura, cobrar uma política permanente para essa população, uma política habitacional de verdade.”

Segundo Miranda, a divisão entre quem quer ou não sair das ruas é muito clara. “A população que está aqui quer sair das ruas. O usuário de drogas não quer, e este é um caso de saúde, de assistência social, e não de segurança.”

Falta de preparo

O coordenador da Pastoral do Povo de Rua, padre Júlio Lancellotti, também presente na operação, afirmou que a prefeitura não está articulada o suficiente para levar todas as pessoas dali para a antiga “tenda”.

De acordo com ele, representantes da Pastoral e do Movimento da População de Rua estiveram no espaço “Braços Abertos” ainda quando os moradores desmontavam suas barracas na Sé, e encontraram o local despreparado. “Tinha guarda civil consertando porta, os banheiros todos sujos, água sendo jogada agora no chão, poucos chuveiros funcionando, pouca água. Quer dizer, só vão mudar o pessoal de lugar, exatamente igual, mas em outro lugar”, diz.

Segundo ele, a maioria dos moradores estava animada com a perspectiva de ir para o espaço no Parque Dom Pedro por causa da promessa do auxílio-aluguel. “Eles estão animados de receber esse dinheiro. Mas vão ter de procurar sozinhos as casas em São Paulo. Você não arranja nessa cidade um lugar para alugar por R$ 300.”

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