Futebol

Seleção das periferias brasileiras conquista ‘Copa do Mundo’ dos sem-teto

Torneio engloba também pessoas que vivem em “situação de risco” por morarem em áreas violentas, em habitações precárias e em áreas sem acesso a infraestrutura básica

Agência Pública

Por falta de recursos, o ‘país do futebol’ mandou a menor delegação entre os 59 países participantes

São Paulo – Acostumado a ser Golias nos torneios de futebol internacional, o Brasil viveu seu dia de Davi. E não faz muito tempo não. No último dia 18, quatro jovens brasileiros conquistaram a Homeless World Cup, a Copa do Mundo dos Sem Teto, campeonato de futebol criado há dez anos para denunciar as precárias condições de moradia que afetam um grande número de pessoas no mundo.  O primeiro torneio, em 2003, reuniu moradores de rua de diversos países na cidade de Graz, na Áustria. O mais recente, que deu a vitória aos brasileiros reuniu equipes de 50 países em Poznan, na Polônia.

Hoje o torneio engloba também pessoas que vivem em “situação de risco”  por  morarem em áreas violentas, em habitações precárias, em áreas sem acesso a infraestrutura básica, condição em que se encaixam boa parte dos moradores das periferias das grandes cidades brasileiras.

O jogo é dividido em dois tempos de sete minutos e as equipes se organizam como no futebol de rua: três jogadores na linha e um no gol. Vale até aquela clássica tabela com a parede, usada pra ajudar a driblar os adversários em campinhos e quadras no Brasil. Naquele dia 18 de agosto, estavam na linha Darlan Martins, morador do Cantagalo (Rio), Douglas Batista, do Jardim Ângela (São Paulo) e Robson Martins, do Campo Limpo (São Paulo); Vinícius Araújo, da Rocinha (Rio) estava no gol.

Por falta de recursos, o “país do futebol” mandou a menor delegação entre os 59 países participantes: além dos quatro atletas, viajou o técnico Flávio “Pupo” Fernandes, professor de Educação Física. Guilherme Araújo, da ONG Futebol Social, responsável pela montagem da equipe, explica: “A gente já vinha trabalhando com o mesmo patrocinador desde 2011, o patrocínio para esse ano era algo quase que automático. Como o patrocinador nos apoia mediante a Lei de Incentivo ao Esporte, o projeto foi submetido ao Ministério do Esporte, mas não foi aprovado a tempo”, conta.

O patrocinador em questão é a Eletrobras, empresa estatal de energia elétrica, e como era considerado certo, a ONG já se mexia para conseguir os aportes para o ano, quando veio a notícia de que a verba não viria. “A informação que a gente teve era de que faltava uma carta de intenção de patrocínio. Esse nosso patrocinador, uma estatal, não faz esse tipo de carta. E a empresa está passando por uma grande reestruturação, passando por sua maior crise da história, então era inviável”, resume.

Diversos patrocinados sofreram cortes com crise da Eletrobrás, que chegou a registrar a maior queda de suas ações em quinze anos – 15% – em novembro do ano passado. O aporte dado à Confederação Brasileira de Basquete (CBB), por exemplo, caiu 42%: passando de R$ 13 milhões em 2012 para R$ 7,5 milhões em 2013.

Já a delegação mexicana, que disputou a final com o Brasil, levou 45 pessoas à Polônia: além de 20 atletas, incluindo a comissão técnica, 25 pessoas foram como convidadas da Fundação Telmex, braço social da Telmex, gigante do ramo das telecomunicações que atua em países como a Argentina, o Chile, a Colômbia, os Estados Unidos, o Equador, a República Dominicana, e até mesmo no Brasil, como controladora  da Claro, uma das quatro gigantes de telecomunicação brasileiras. O dono da Telmex, o bilionário mexicano Carlos Slim Helu, foi eleito o homem mais rico do mundo pelo quarto ano seguido no ranking da revista Forbes. Sua fortuna é estimada em nada menos do que R$ 73 bilhões, R$ 6 bilhões à frente do segundo colocado Bill Gates.

Leia a reportagem completa no saite da Agência Pública

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