Educação

Falta de articulação e de mapeamento atrapalha melhora em índices de alfabetização

Organização aponta necessidade de reavaliação de programa federal para garantir avanços. Dados do IBGE mostram estabilidade entre 2011 e 2012, com taxa de analfabetismo em 8,6%

São Paulo – Ações articuladas serão necessárias para garantir uma nova fase de avanços na luta contra o analfabetismo no Brasil. A revisão dos programas atuais, a melhor articulação entre órgãos governamentais e um mapeamento mais preciso da demanda por ensino são indicados como as principais necessidades em torno da questão.

Para o coordenador de projetos da ONG Ação Educativa, Roberto Catelli Junior, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2012 (Pnad), divulgados ontem (27) pelo IBGE, apontam que é necessário reavaliar o Programa Brasil Alfabetizado, criado em 2003, voltado para a alfabetização de jovens, adultos e idosos em todo o território nacional.

A Pnad mostrou que o número de analfabetos no Brasil, com idade acima de 15 anos, passou de 12,9 milhões para 13,2 milhões de pessoas entre 2011 e 2012, o que indicou estabilidade. Com isso, a taxa de analfabetismo, que era de 8,6% em 2011, chegou a 8,7% em 2012, frente a 11,5% em 2004.

A maior concentração de analfabetos com essa idade está na região Nordeste, com 54% dos analfabetos do país, um contingente que soma 7,1 milhões de pessoas. Na região a taxa de analfabetismo medida entre pessoas com 15 anos ou mais foi de 17,4%. O valor é 0,5 ponto percentual acima da taxa de 2011 (16,9%) e 5,1% abaixo da medida em 2004 (22,5%).

No Centro-Oeste, a taxa de analfabetismo das pessoas acima de 15 anos passou de 6,3% em 2011 para 6,7% em 2012. Segundo o IBGE, a variação apresentada nas duas regiões não é estatisticamente significativa.

“O resultado (da Pnad) não é totalmente incompreensível. Os resultados do Brasil Alfabetizado não são públicos, não existem esses dados. E é necessário entender, de fato, até onde o sujeito que passa por esse programa está sendo alfabetizado”, afirma Catelli, que sugere, além da avaliação de desempenho, a promoção de seminários para articulação em redes públicas, da importância “que essas pessoas continuem a estudar. Ninguém acha que ser alfabetizado basta”.

A coordenadora do Centro de Referência Paulo Freire, Sonia Couto Feitosa, afirma que há necessidade de ações combinadas com outras secretarias, além de educação, para melhorar a eficiência no ensino. “Não sabemos porquê esse educando não vai à escola, se é por causa de longas distâncias, se é porque não há transporte. Não há mapeamento dessa demanda e não sabemos se há estímulo para esse aluno frequentar as aulas.”

Segundo os resultados da Pnad, o percentual de pessoas de 25 anos ou mais de idade sem instrução ou com menos de um ano de estudo caiu de 15,1% para 11,9% no Brasil, uma diminuição 3,4 milhões de pessoas em um ano. E o percentual de pessoas com nível superior completo passou de 11,4% em 2011 para 12,0% em 2012, um aumento de 6,5% (867 mil pessoas a mais), totalizando 14,2 milhões de pessoas.

“Essa expansão é natural, tendo em vista o número de políticas públicas nessa direção, como o ProUni, que permite que outras pessoas hoje tenham acesso à universidade”, afirma Roberto Catelli Jr.

Reconhecemos o avanço da população mais pobre, que finalmente tem conseguido entrar nas universidades por causa dos programas sociais, mas fazemos uma ressalva: o dinheiro público deve ser investido na criação de mais universidades públicas, para garantir educação para todos”, destaca a educadora da Área de Educação de Adultos do Instituto Paulo Freire Jany Dilourdes Nascimento

Em 2012, o percentual de crianças de 6 a 14 anos que frequentavam a escola (taxa de escolarização) é o mesmo observado no ano anterior, 98,2%. Para os jovens de 15 a 17 anos, a taxa de escolarização em 2012 era de 84,2%, superior à de 2011 (83,7%). Na faixa de 18 a 24 anos, o percentual situava-se em 29,4%.

A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Teresa Campello, afirmou em entrevista coletiva ontem que o entendimento é de que realmente falta avançar no combate ao analfabetismo no país.“Você tem o aumento do nível de escolaridade em todas as faixas do Brasil. Existe um esforço grande em relação à educação, todos os demais dados mostram o aumento da escolaridade, em todas as faixas de renda. Nossa avaliação é que não teve aumento da taxa de analfabetismo no Brasil e nosso entendimento é o mesmo do IBGE, que permanece estável”, afirma