Depois da sanção

Artistas cobram empenho do governo em defesa da cultura e da vida periferia

Ativistas levam reivindicações a Dilma em evento de apresentação do Estatuto da Juventude, que passou nove anos no Congresso e foi apresentado como parte da agenda positiva pós manifestações

Roberto Stuckert Filho/PR

Dilma e representantes de movimentos da juventude posam para fotos durante cerimônia de sanção do Estatuto, na segunda (5)

São Paulo – Ativistas culturais e artistas da periferia cobraram da presidenta Dilma Rousseff mais empenho na defesa da vida da juventude negra na periferia. A carta de reivindicações que teve como signatários Mano Brown, Dexter, Sérgio Vaz, Criolo, Emicida e outros foi entregue a Dilma durante a cerimônia de sanção do Estatuto da Juventude, quando a presidenta destacou que a violência contra jovens negros e pobres é um dos maiores problemas enfrentados pelo país atualmente.

“A violência mostra um lado da nossa sociedade com que nós não podemos conviver pacificamente. Contra esse lado da violência contra a juventude negra e pobre, temos de ter um pacto, dentro do novo estatuto, temos que construir as trincheiras para lutar contra essa questão”, afirmou a presidenta.

Cláudio Silva, que faz parte dos movimentos Bocada Forte Hip Hop e Linha do Funk, afirma que há 15 anos movimentos sociais pedem por políticas públicas para jovens da periferia e destaca papel da cultura como alternativa de combate a violência.

“A cultura é fundamental porque toca na identidade das pessoas, pegar o hip hop e o funk, levar para dentro das escolas, para dentro das comunidades, sensibilizamos os jovens e despertamos vocação. A escola se tornou ambiente hostil ao jovem, a cultura é fundamental nesse sentido”, disse à Rádio Brasil Atual.

O poeta Sérgio Vaz, do sarau da Cooperifa, zona sul de Sâo Paulo, ressalta que é preciso promover cultura e educação para a formação de cidadania dos jovens. “Precisamos de uma melhora da educação pública. Não adianta só criarmos profissionais dentro da escola, precisamos criar cidadãos. A cultura tem esse poder de criar cidadãos, aliada à educação. A cultura não pode ser um paliativo só para tirar a pessoa do crime, mas sim ser algo importante na formação de cidadania.”

Estatuto

O texto passou nove anos em tramitação no Congresso e foi aprovado apenas em julho passado, como parte da agenda positiva imprimida pelos parlamentares depois das manifestações dos últimos meses. Mais políticas públicas voltadas para os jovens, por meio de uma declaração de direitos da população com idade entre 15 e 29 anos e benefícios como o pagamento de meia-entrada em 40% do total de ingressos para eventos culturais, reservas de duas cadeiras gratuitas e outras duas vagas nos ônibus ao preço de meia passagem para pessoas dessa faixa etária são alguns dos pontos do Estatuto.

O presidente da Comissão da Infância e da Juventude da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Bernardo do Campo, Ariel de Castro Alves, destaca outros temas importantes levantados pelo estatuto. “A necessidade de reforçar o ensino técnico, a profissionalização de jovens, programas como Projovem, Prouni, que precisam ser ampliados, existe exclusão muito grande no ensino superior. Há a questão da inclusão digital, do incentivo ao empreendedorismo com linhas de crédito especificas, e a questão de tratamento específico para jovens dependentes de drogas.”

Alves ressaltou um tema que, apesar de ser de fundamental para mais acesso à direitos básicos por parte da juventude, foi deixado de fora do Estatuto. “Não se chegou ao passe livre, os movimentos foram originários a partir dessa discussão. Muitos jovens não conseguem chegar às escolas porque não tem como pagar transporte público, e a falta de inclusão na escola desencadeia processo de exclusão da juventude.”

Ele afirma que é papel também dos estados e municípios irem além das questões tratadas pelo estatuto sancionado na segunda-feira. “Esperamos que no processo de regulamentação da lei os municípios e estados consigam ir além da aprovação em vista na questão do transporte. Mesmo que outros setores tenham que subsidiar. Quem tem mais tem que pagar mais, mesmo aí quem tem carro tem que ajudar a subsidiar o transporte daquelas pessoas, principalmente dos jovens que mais precisam.”

Ouça aqui a reportagem de Anelize Moreira.

Ouça aqui a entrevista de Ariel de Castro Alves.

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