direito à moradia

Famílias do extremo sul de São Paulo protestam em subprefeitura

Sob risco de serem despejados, moradores de seis ocupações realizam manifestação para pressionar poder público por negociação de terrenos

Danilo Ramos/Arquivo/RBA

Famílias querem prosseguir com negociações para construir suas moradias nas áreas ocupadas

São Paulo – Cerca de 500 moradores de seis ocupações da região do Grajaú, extremo sul de São Paulo, realizaram na manhã de hoje (27) um protesto em frente à subprefeitura da Capela do Socorro, exigindo a retomada das negociações sobre os terrenos com a administração. Segundo os manifestantes, após o protesto no centro da capital, em 19 de agosto, o secretário adjunto de Relações Governamentais, José Pivato, havia dito às famílias que encaminharia uma reunião entre elas e a Secretaria Municipal de Habitação (Sehab), mas nada aconteceu.

Eles também reivindicaram o cumprimento da promessa da subprefeita Cleide Pandolfi, de não realizar reintegração de posse nos terrenos ocupados que fossem de propriedade da prefeitura. Na última sexta-feira, a Guarda Civil Metropolitana realizou o despejo de aproximadamente 600 famílias que ocupavam um terreno da Sehab no Jardim Itajaí desde 29 de julho. Segundo Sandra de Oliveira, moradora dessa ocupação, “a prefeitura ofereceu abrigo e possibilidade de cadastro, mas não queremos isso, queremos construir nossas casas nessa área que está sem uso”.

Morador da ocupação do porto de areia desativado, no Jardim Porto Velho, Alex Firmino dos Santos disse que a subprefeita recebeu a população após muita pressão e que vai encaminhar a reunião. “A subprefeita não queria nos receber e entrou no carro para ir embora. Mas nós fizemos um cordão humano e fechamos o portão de entrada”, contou. Segundo Santos, Cleide Pagani teria afirmado que vai encaminhar a demanda à Sehab, mas sem definir prazos para responder à população.

A subprefeitura não retornou o pedido de entrevista da reportagem da RBA nem confirmou a informação.

“Fica muito fácil dizer que vai cadastrar em CDHU, Minha Casa Minha Vida. Nós queremos negociar o terreno, fazer um financiamento através da Caixa Econômica Federal e pagar o terreno e a construção das casas. Ninguém aqui quer nada de graça”, afirma Leanir Costa, morador da ocupação que está no terreno da organização não governamental Instituto Anchieta Grajaú, no Jardim Belcito, onde estão cerca de 400 famílias. Segundo Costa, muitas famílias que participam das ocupações fizeram cadastro há muitos anos e nunca foram contempladas.

De acordo com a prefeitura, 1,1 milhão de pessoas estão inscritas nos cadastros da Secretaria Municipal de Habitação. No entanto, somente 125 mil inscrições estão ativas e podem participar dos sorteios para distribuição de unidades habitacionais construídas pelo município. De acordo com a administração, os cadastrados têm de realizar atualização das informações anualmente e, mesmo considerando essa redução no número de cadastrados ativos, seria preciso construir quase o dobro das 55 mil unidades prometidas para atender à população.

A manifestação foi iniciada as 6h, na altura do número 1000 da Avenida Dona Belmira Marin. De lá seguiu até a Avenida Senador Teotônio Vilela, onde algumas faixas foram bloqueadas por cerca de duas horas. Por volta das 10h, em assembleia, os participantes decidiram ir até a subprefeitura.

Além da ocupação que sofreu despejo na sexta, outras duas áreas estão com reintegração de posse concedida pela Justiça. O terreno da Granja Onoda, chamado pelos moradores de ocupação Recanto da Vitória, onde vivem 900 famílias, deve ter o cumprimento da decisão na próxima semana. E o terreno da ONG Instituto Anchieta Grajaú ainda não tem data definida para o despejo.

Uma área do Jardim Gaivotas, a ocupação Jardim da Luta, com cerca de 500 famílias, e outra do antigo Clube Aristocrata, no Jardim Lucélia, Povo Unido Para Vencer, com 240, permanecem ocupados e sem informações sobre possíveis reintegrações de posse. O segundo é uma área pública, desapropriada em 2008 para a construção de um parque linear.

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