Carandiru

Fleury teria ordenado entrada da Polícia Militar no Carandiru se estivesse no gabinete

Depoimento do ex-governador de São Paulo reitera declarações da primeira etapa do julgamento: 'Temor de fuga em massa justificou a entrada da PM'

divulgação/sociedade rural do paraná

Para Fleury Filho, ‘gigantismo’ da rebelião justificou invasão da polícia ao presídio

São Paulo – O ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho (PMDB) e o ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo Pedro Franco de Campos reafirmaram hoje (30) que a invasão da casa de detenção do Carandiru em 2 de outubro de 1992, que terminou com o assassinato de 111 detentos, foi “necessária” para debelar a rebelião no pavilhão 9. Para eles, havia a possibilidade de uma fuga em massa.

Os dois depoimentos duraram cerca de uma hora e reiteraram as declarações da primeira etapa do julgamento, em abril. Durante todo o dia de hoje, serão ouvidas as testemunhas de defesa de 26 policiais acusados de matar 73 pessoas no terceiro pavimento do pavilhão 9.

Nenhuma das duas autoridades esteve no Carandiru no dia do massacre. Franco de Campos era informado sobre o fato pelo secretário adjunto de Segurança, que teria defendido a invasão do presídio devido ao “gigantismo” da rebelião.

Fleury fazia campanha para seu candidato a prefeito em Sorocaba, Paulo Francisco Mendes. Mas repetiu que, caso estivesse em seu gabinete, tendo acesso às mesmas informações, teria dado a ordem da invasão. “A responsabilidade política da decisão era minha. No meu governo não tinha preso jogando futebol com cabeça (de preso morto) e com a polícia assistindo”, disse.

A rebelião ocorreu dois dias antes das eleições municipais de 1992. O número oficial de mortos só foi divulgado uma hora depois do fechamento das urnas. O então governador afirmou que a demora não teve relação com a corrida eleitoral, mas se deu em função da dificuldade de se chegar ao número de mortos. O candidato de Sorocaba acabou eleito.

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Diferente do primeiro julgamento, a Promotoria transmitiu dois trechos de uma entrevista coletiva dada pelo governador em 7 de outubro de 1992, cinco dias depois do massacre.

No primeiro trecho, ele afirma que esperava condutas diferentes da polícia caso acontecessem novas rebeliões. Questionado pela Promotoria se reiterava a declaração dada há quase 21 anos, o governador disse acreditar que a Polícia deve evitar o uso da “violência desnecessária”.

No outro trecho, uma repórter afirmou ter recebido informações de fontes policiais de que, depois que um dos comandantes da operação se feriu, provavelmente o coronel Ubiratan Guimarães, os policiais receberam a mensagem: “Matem!” por rádio.

O promotor Fernando Pereira da Silva questionou se o governador havia iniciado alguma investigação em função daquela informação. Diante dos jurados, Fleury disse que desconhecia tal denúncia e que não se lembrava o que respondera à jornalista.

Por duas vezes, os jurados questionaram as testemunhas se elas acreditavam em excesso da Polícia em função do grande número de mortes. Mas, alegando se tratar de questão subjetiva, nem Franco de Campos nem Fleury responderam.

A terceira testemunha arrolada pela defesa não teve a identidade revelada. Apenas os advogados dos réus, os promotores, o juiz e os jurados tiveram acesso ao depoimento.

A advogada dos réus Ieda Ribeiro de Souza optou por reproduzir vídeos com os depoimentos feitos na primeira etapa do julgamento pelos desembargadores da Justiça Ivo de Almeida e Luís Augusto San Juan França. Na época, eles eram juízes corregedores e estiveram na Casa de Detenção.

A presença e concordância dos corregedores em relação à necessidade da invasão para debelar a suposta rebelião foi apontada por Fleury e por Pedro Franco de Campos como um dos fatores que influenciaram na decisão de entrar no Carandiru.

Os juízes teriam participado de reuniões com o comando da Polícia, mas não chegaram a entrar no Pavilhão 9 por falta de garantias de segurança.

San Juan lembrou que em 90% das vezes em que negociou com presos em rebeliões, a Polícia não precisou atuar. Ele afirmou que as informações de que os presos do pavilhão 8 também poderiam se rebelar e a possibilidade de fuga em massa dos presos colaboraram para a tomada da decisão sobre a invasão.

Almeida garantiu que não viu nenhum policial atirar em detentos rendidos e que não se lembrava de apreensões de armas de fogo dentro da Casa de Detenção, em seus oito anos como corregedor.

Ele garantiu diante dos jurados, que apesar do barulho, ouviu ruídos “semelhantes” a tiros antes do início da operação da Polícia. Supostos disparos contra as tropas que cercavam o pavilhão foram apontados como uma das principais razões da entrada da Polícia. Detentos e funcionários, no entanto, afirmam que não havia armas dentro da Casa de Detenção.

 

 

 

 

 

 

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