Copacabana

Esquerda católica vai às ruas na Jornada Mundial da Juventude

Munidos com bandeiras vermelhas, jovens ligados à Teologia da Libertação protagonizam marcha mundial contra o extermínio da juventude e defendem igreja aberta e comprometida com os pobres

Carla Santos

Severine: “A pastoral tem inserção forte nas comunidades e faz uma discussão sobre a questão social”

Rio de Janeiro – “Estamos nas ruas contra a redução da maioridade penal e também contra a violência e o extermínio de jovens”, afirmou o paraense Thiesco Crisóstomo, secretário nacional da Pastoral da Juventude (PJ), durante a Marcha Mundial “A Juventude quer Viver”, realizada na tarde de ontem (26), pouco antes da missa com o papa Francisco, na zona sul do Rio de Janeiro.

Depois de percorrer cerca de três quilômetros, do Arpoador à praia de Copacabana, a marcha encerrou as atividades da Tenda das Juventudes, espaço oficial da Jornada Mundial, que reuniu uma rede de entidades e pastorais comprometidas com as transformações sociais.

Severine Macedo, secretária nacional de Juventude do governo da presidenta Dilma Rousseff, participou do protesto. A jovem de 31 anos iniciou sua militância em uma área rural de Santa Catarina. “A pastoral tem uma inserção forte nas comunidades e faz uma discussão sobre a questão social. Além disso, discute a espiritualidade e a Igreja Católica, mas com um pé na luta. A galera também atua em partidos, sindicatos e movimentos sociais. Acho que isso diferencia muito a PJ de outras organizações católicas”, define.

Com o nome de jovens pregados à cruz, tocando instrumentos e cantando palavras de ordem, como “para a Igreja avançar, tem que ser mais popular”, mais de duas mil pessoas lembraram os 20 anos da chacina da Candelária, o massacre do Pinheirinho, de Eldorado dos Carajás, entre tantos outros episódios rotineiros de assassinato da população juvenil.

“Hoje nós estamos celebrando a Via-Sacra na Jornada Mundial da Juventude. Quando a gente olha para a morte de Jesus, a forma como foi feita, é lógico que também temos que olhar para nossa realidade. Então a gente quis trazer junto com a Via-Sacra de Jesus, a Via-Sacra de tantos jovens que são mortos todos os dias no país. A gente quis trazer não só o Jesus da Igreja, mas o Jesus que está no rosto de cada um e cada uma de nós”, refletiu Thiesco.

Futuro em risco

Para Severine, “esse é um momento muito importante da Jornada porque chama atenção do mundo inteiro para este problema”. “A violência é bastante alta no no mundo, especialmente nos países em desenvolvimento. No Brasil, é como se caíssem oito aviões lotados de jovens todos os meses. São em torno de 28 mil jovens assassinados por ano, vítimas de arma de fogo. Mais de 90% são homens e mais de 70% são negros moradores das periferias dos grandes centros urbanos.”

A secretária também lembrou que, em conjunto com a PJ e o movimento negro, foi elaborado o Plano Juventude Viva que tem por objetivo combater o extermínio de jovens no país. A recente aprovação do Estatuto da Juventude também foi comemorada como uma das medidas para enfrentar o problema.

Ao longo de sua passagem, a marcha despertou diferentes reações na multidão que aguardava a passagem do papa desde cedo pela orla de Copacabana. Houve quem confundisse a manifestação com os protestos pelo Fora Cabral ou achasse que se tratava de uma atividade de partidos políticos. Alguns poucos faziam o sinal da cruz, como se estivessem se protegendo de alguma coisa. A grande maioria, porém, aplaudiu e expressou apoio às bandeiras dos manifestantes.

Quem também passou para dar o seu apoio foi o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Ele se disse encantado com a Jornada Mundial da Juventude. “Você vê centenas de milhares de jovens de várias nacionalidades andando pelas ruas, cantando, sorrindo, trocando ideias, vendo uma manifestação popular, como esta da Pastoral da Juventude. Eu acho que o Brasil precisava deste gesto”, disse.

A Jornada Mundial da Juventude iniciou nesta segunda-feira (22) e segue até domingo (28) na capital fluminense. A organização recebeu 375 mil inscritos, vindos de 175 países, sendo 220 mil inscrições brasileiras. O evento, realizado a cada dois ou três anos, promove um encontro internacional de jovens católicos com o papa. A última edição ocorreu em 2011, em Madri, na Espanha, e reuniu cerca de 2 milhões de pessoas, de mais de 190 países. O JMJ 2013 também marca a primeira visita do papa à América Latina desde sua nomeação, em 13 de março.

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