Visita do papa Francisco

Cidadãos do Rio de Janeiro relatam detenções arbitrárias durante atos

Entre os dez detidos estão três integrantes do coletivo Mídia Ninja que faziam a cobertura dos protestos. Um jovem foi ferido com arma letal

Fernando Frazão/ABr

Manifestantes e polícia entram em confronto em frente ao Palácio Guanabara, após recepção ao papa

Rio de Janeiro – Dez pessoas, entre elas três integrantes do coletivo Mídia Ninja, foram detidas na noite de ontem (22), no Rio de Janeiro, durante ação da Tropa de Choque da Polícia Militar contra manifestantes que protestavam em torno do Palácio da Guanabara, onde o papa Francisco foi recebido pela presidenta Dilma Rousseff e pelo governador Sérgio Cabral.

A ação da PM começou nas proximidades da sede do governo fluminense, minutos depois que o Papa Francisco e as autoridades brasileiras se retiraram do local. Depois de realizarem um Beijaço LGBT à tarde, em frente à Igreja Nossa Senhora da Glória, zona sul do Rio de Janeiro, manifestantes partiram em passeata para a sede do governo do estado.

Bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha foram lançadas pela Tropa de Choque da Polícia Militar contra os manifestantes. Pelos menos dez pessoas foram detidas e levadas para a 9ª Delegacia de Polícia. O jovem Rafael Rêgo Caruso deu entrada no Hospital Souza Aguiar, no Centro, com ferimento de tiro de arma letal na perna esquerda.

Integrante do Mídia Ninja, Filipe Peçanha, conhecido como Carioca, afirma ter sido abordado por um “P2” (policial à paisana) antes de ser detido. O motivo das detenções dos integrantes daquele coletivo não foi esclarecido.

Assista ao vídeo da prisão de Carioca:

Com o objetivo de pressionar pela liberação dos detidos, centenas de jovens permaneceram em frente à delegacia. Os três integrantes do Mídia Ninja foram soltos sem o pagamento de fiança. Uma vaquinha entre os presentes também arrecadou fundos para a liberação dos demais.

Roberto Mello, que vestia uma camiseta com a imagem de Nossa Senhora, negou participar da manifestação em Laranjeiras e disse que estava num ponto de ônibus quando foi levado pelos policiais. “Um PM pisou em mim”, denunciou após a sua liberação. Ao mostrar a imagem sacra em sua camiseta, disse: “Nossa Senhora não concorda com a ação da polícia”. A PM alega ter preso Roberto por desacato.

Violência em escala

Em sua versão, a PM do Rio acusou o grupo conhecido como Black Blocs de ter começado o confronto nas proximidades do Palácio Guanabara. O grupo é caracterizado pelo uso de roupa preta e máscaras e é acusado de se infiltrar em manifestações pacíficas.

Em sua página no Twitter, a PM alega que cerca de 1.500 pessoas estavam concentrados nas imediações do palácio e que um manifestante teria sido flagrado com 20 coquetéis molotov. A versão é contestada pelos ativistas, que acusam os próprios policiais de levar esse tipo de explosivos para os protestos.

Para a pesquisadora e fotógrafa Mariana Correa dos Santos, 36 anos, do coletivo Das Lutas, “a polícia vem recrudescendo bastante desde junho” e a presença de policiais infiltrados nas manifestações contribui para a violência. A pesquisadora é autora do artigo “Criminalização dos Black-Blocs: uma armadilha”, publicado originalmente no blog do coletivo.

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