Agressão policial

Movimento de direitos humanos pede que ordem para repressão seja investigada

Para instituição, é inaceitável que Alckmin e Haddad não abram diálogo com movimentos. Agressões contra jornalistas foram para apagar provas de violência policial, diz advogado

Mário Angelo. Sigmapress. Folhapress

“O intuito é incitar os manifestantes para provocarem uma desordem e legitimar a repressão”, diz Ariel de Castro Alves

São Paulo – “A atuação violenta da polícia foi claramente no intuito de incitar os manifestantes para a prática da violência, para que depois ela intensificasse a repressão”, avalia o membro do Movimento Nacional de Defesa dos Direitos Humanos Ariel de Castro Alves, sobre a atuação da Polícia Militar para reprimir os manifestantes no quarto ato contra o aumento da tarifa de transporte público, realizado ontem (13), em São Paulo.

“O intuito é incitar os manifestantes para provocarem uma completa desordem, que pudesse legitimar uma ação repressiva da polícia, tentando dispersar o movimento reivindicatório”, avalia. “O que é preciso ser apurado é se os policiais receberam ordens de seus comandantes para praticar os atos de repressão ou se eles foram isolados. A postura demonstra o total descontrole e despreparo da polícia.”

Durante o protesto, centenas de pessoas foram agredidas pela Tropa de Choque da Polícia Militar, que usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, em uma ação truculenta de repressão. Pelo menos 235 pessoas foram presas, muitas delas sem qualquer motivo aparente, sendo que as prisões começaram antes do início do ato, com batidas policiais no centro histórico da cidade. Ao longo da madrugada, 231 pessoas foram liberadas e quatro permanecem presas por terem sido enquadradas no crime inafiançável de “formação de quadrilha”.

Para Castro, especialista em segurança pública, a ação da polícia foi inconstitucional. “A atuação repressiva começou logo no início, quando as pessoas se concentravam. Nós não vivemos em uma ditadura”, afirmou. “Essa ação, no entanto, fortalece o movimento. Ele vai ganhando adesão. Mas não podemos nos esquecer que essa violência, com tortura e até mortes, ocorre todos os dias nas periferias, com os jovens pobres.”

Pelo menos cinco jornalistas que cobriam o ato foram agredidos, entre eles a repórter da RBA, Gisele Brito. Para Castro, a repressão aos profissionais de imprensa foi uma forma de “tentar acabar com as provas de abusos policiais. Outras pessoas que estavam fotografando e filmando com o celular também foram agredidas. É exatamente para tentar obstruir as provas”. Ele reivindica que o Ministério Público investigue os crimes cometidos pela polícia durante o ato.

“É preciso também que as autoridades estejam abertas para o diálogo. O movimento acabou se tornando um movimento contra o autoritarismo, a repressão e a Polícia Militar. É fundamental que as autoridades abram dialogo e coíbam violência por parte do estado”, avalia. “As afirmações do governador Geraldo Alckmin, que tacha todos os manifestantes como vândalos, acabam instigando a violência. O prefeito também tem que se predispor a dialogar com as lideranças dos movimentos, para não termos mais esse cenários de horror e prática e violência covarde por agentes do estado.”

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