Trabalho e ruas

Sindicalista diz que agenda das ruas é a da CUT, e alerta para conservadorismo

João Felício alerta que PT se tornou 'pesadamente institucional', o que conduz ao risco de perder a base e que ascensão social leva sociedade a exigir novas conquistas

Danilo Ramos. RBA

Felício diz que os movimentos tradicionais precisam repensar as formas de organização

São Bernardo do Campo – Os movimentos de ruas dos últimos dias trazem um desafio ao movimento sindical, que pode estar sendo “conservador na ação”, avalia o secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício, para quem, no entanto, a agenda sindical e dos jovens é a mesma. “Não estamos fora do movimento. Essa pauta também é da CUT”, afirmou, na abertura da plenária da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da central. Mas Felício também faz críticas ao PT, ao qual é filiado, que tem se tornado “pesadamente institucional”, correndo o risco de perder a sua base social e, com isso, virar um “Partido Socialista francês”.

O dirigente aponta outros fatores para as manifestações. “Houve uma ascensão social, e é natural que as pessoas cobrem mais. Essa agenda da juventude está absolutamente correta. Quem avalia positivamente a qualidade do ensino, quem é que gosta do atendimento médico-hospitalar, quem é que gosta da segurança? Mesmo reconhecendo os avanços sociais, tem muito espaço para questionar o poder público. E vamos ter de conviver com isso até 2014”, diz, destacando a necessidade de enfrentar as candidaturas contrárias àquela que, provavelmente, será liderada por Dilma Rousseff. “Qualquer outra proposta será contra mais pobres deste país.”

Também não se pode questionar o perfil dos manifestantes, acrescenta. “É verdade que a maioria da juventude que está lá não é juventude operária, é classe média e classe média-alta. Mas sempre foi assim”, afirma, citando os protestos de maio de 1968 na França e o encontro entre “operários e uma juventude mais escolarizada”. Para Felício, o movimento sindical também precisa mudar o jeito de se comunicar. Ao lembrar que em seu início de militância ele rodava boletins em mimeógrafos, o dirigente disse considerar “apaixonantes” as redes sociais. “Será que as nossas organizações não estão precisando se reformular um pouco?”, questiona.

Ele também pediu mais “sensibilidade” da presidenta em relação à pauta trabalhista. Criticou a “onda conservadora” no Congresso, ao citar a aprovação da proposta de “cura  gay” na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, chamando a união de religiosos conservadores e ruralistas de “aliança do demônio com o capeta”.

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