Sem controle

Com marcha de 300 mil, Rio de Janeiro tem noite de repressão e feridos

Tropa de Choque dispara contra hospital, grupos depredam prédios e jogo da Copa das Confederações motiva manifestações contra a Fifa

Fernando Frazão. Agência Brasil

A manifestação tranquila virou tumulto devido à ação de grupos isolados e à repressão policial

São Paulo – A manifestação que reuniu 300 mil pessoas no Rio de Janeiro terminou com repressão policial e feridos. Inicialmente tranquila, a marcha surgida das passeatas pela revogação do aumento da tarifa do transporte público seria uma comemoração ao sucesso da mobilização após o prefeito Eduardo Paes (PMDB) e o governador Sérgio Cabral (PMDB) recuarem na véspera.

Hoje, a multidão caminhou pela Avenida Presidente Vargas em direção à sede da prefeitura, no centro. “Estava tudo tranquilo e pacífico, até que chegou um grupo de mascarados, com um líder que chamava para a baderna. Aí começaram a quebrar coisas e subir nos pontos de ônibus”, declarou o contador Márcio Soares à Efe.

Na sede do governo municipal, os manifestantes foram recebidos por bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral da polícia. Nesse momento, pôde constatar no local, várias pessoas abandonaram o protesto e partiram no sentido contrário. “Estávamos em paz e a polícia vinha avançado, com tiros de borracha e bombas de gás, não tínhamos pra onde fugir”, afirmou o estudante Olavo Bianchini.

Depois da dispersão da marcha, a Tropa de Choque da Polícia Militar atirou bombas contra o Hospital Municipal Souza Aguiar, que recebeu ao menos 40 feridos. Segundo médicos e enfermeiras, os policiais queriam invadir o local. A Secretaria de Segurança Pública informou que vai investigar o caso.

No centro, os manifestantes que permaneceram jogaram pedras contra os policiais e incendiaram algumas latas de lixo na Presidente Vargas. No confronto, a polícia usou um camburão como escudo de proteção e dispara balas de borracha, enquanto um grupo usava tapume como escudo para se proteger das bombas jogadas pelos agentes. Após o confronto na prefeitura, vários manifestantes invadiram o Terreirão do Samba, também no Centro da Cidade, e depredaram o local, acendendo várias fogueiras.

Alunos do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS-UFRJ) foram agredidos por outros manifestantes com pedradas por estarem levando bandeiras de partidos políticos – o mesmo ocorreu em São Paulo. Skinheads presentes no protesto atacavam, com estiletes, pessoas que estavam vestidas de vermelho.

Alguns manifestantes aproveitaram a partida entre Espanha e Taiti, no Maracanã, para protestar contra os gastos públicos em obras da Copa. “Queremos escolas e hospitais de padão Fifa”, era a mensagem em um dos cartazes dentro do estádio. Vários torcedores, porém, reclamaram que não conseguiram chegar ao estádio levando cartazes, porque a Força Nacional de Segurança e policiais da Tropa de Choque da Polícia Militar recolhiam o material que estampava frases de protesto.

Um casal que estava com um cartaz pedindo que a revisão da passagem nos ônibus urbanos no Rio não fosse feita com subsídio público teve o material recolhido por funcionários da Federação Internacional de Futebol (Fifa) antes do jogo. “É um absurdo não poder se manifestar em um ambiente público, já que o Maracanã é do estado”, disse Luiz Renato Bigio.

A enfermeira Sílvia Gonzalez foi ao estádio com os dois filhos, cada um levando um cartaz pedindo saúde e educação pública. “Tentaram duas vezes recolher nossos cartazes, mas nós insistimos e acabamos ficando com eles. A gente vê que o gasto público para reforma dos estádios é absurdo. A gente não vê isso sendo investido em serviços públicos como saúde educação”, declarou.

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