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Marchas se multiplicam por São Paulo pelo segundo dia seguido. MPL ocupa a Paulista

Maioria dos cidadãos trabalha para manter tom pacífico da marcha e isolar exaltados. Na porta da prefeitura, grupo de radicais pratica atos de vandalismo condenados pelo movimento

Mídia Ninja. CC

A Praça da Sé, no centro da capital, foi o ponto de concentração da sexta marcha contra o aumento

São Paulo – Marchas se multiplicam pela região metropolitana de São Paulo pelo segundo dia seguido em protesto contra o reajuste das tarifas de transporte público e a repressão policial, somando aproximadamente 50 mil pessoas. Além dos atos surgidos da Praça da Sé, marco zero da capital, há manifestações convocadas pelas redes sociais na zona sul e em Cotia, na Grande São Paulo, em Ribeirão Preto, no interior, e em Cubatão, no litoral. O Movimento Passe Livre (MPL) alertou que não deixará as ruas da capital até que o aumento de R$ 3 para R$ 3,20 seja cancelado. No final da tarde, a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniram-se com o prefeito Fernando Haddad (PT) em busca de uma solução para o impasse criado pelo aumento que vigora desde o último dia 2.

A Companhia de Engenharia e Tráfego (CET) informou que as marchas interditaram a Avenida Paulista, o Largo 13 e o Largo do Rio Bonito, na zona sul, além da Praça da República, no centro. Também ficaram fechadas a rodovia Cônego Domenico Rangoni e a via Anchieta, em Cubatão, litoral sul.

Um pequeno grupo que protesta desde as 17h na porta da prefeitura, no Viaduto do Chá, no centro, ateou fogo em um carro da TV Record e em um posto da Polícia Militar. Em seguida, passaram a depredar uma agência do banco Itaú e a saquear uma loja da rede Marisa. Mais cedo, esta parcela isolada de manifestantes radicais tentou invadir a prefeitura, mas foi contida com dificuldade por guardas policiais metropolitanos (GCMs), que conseguiram fechar as portas do Edifício Matarazzo, sede do Executivo paulistano. Contrariando as orientações do MPL, esses manifestantes arrancaram as grades de proteção do prédio e tentaram entrar.

Haddad relatou ao portal UOL que monitorou a situação durante a reunião com Dilma: “Eu estava com ela [a presidente], quando saí, vi o que estava acontecendo. Estou monitorando, mas me parece que é uma depredação meio geral, estão saqueando o centro.”

Este homem comandou a depredação da prefeitura. Até o momento não foi identificadoO grupo se valeu de pedras na tentativa de provocar danos ao edifício e ao protesto. Dois deles subiram nos mastros em frente ao edifício e arrancaram as bandeiras da cidade e do estado.

Às 21h, a prefeitura paulistana informou que aproximadamente 100 homens da GCM faziam a segurança dentro do prédio – dois guardas ficaram feridos. Continuam no local parte do secretariado e funcionários do gabinete, além da assessoria e jornalistas de alguns veículos. “O prefeito Fernando Haddad deixou o edifício por volta das 17h30 para uma reunião com a presidente Dilma Rousseff e, diante da situação, foi orientado a não retornar ao edifício”, informou a prefeitura, que fará amanhã um levantamento dos danos.

Antes de alguns manifestantes se exaltarem, a marcha transcorria normalmente. A bandinha que faz a batucada do Passe Livre incentivava a multidão a entoar músicas e gritos remetendo ao tema do transporte. “Chega de tarifa e político babaca. A gente tá a fim de uma vida sem catraca”, diziam. Depois do ato de ontem, que reuniu 100 mil pessoas, nos cálculos do movimento, o Passe Livre passou a debater como seria possível manter a pauta em torno da mobilidade urbana com tantas ideias diferentes dentro dos atos.

A manifestação liderada pelo Passe Livre seguiu da Praça da República para a Avenida Paulista.  Portando a faixa do movimento contra o aumento das tarifas, o grupo passou pelo Viaduto do Chá convocando as pessoas a se dirigir à Rua da Consolação. Próximo à igreja da Consolação, o coordenador do grupo, Mateus Preis, sugeriu uma nova rota. Algumas pessoas se opunham, e defendiam a caminhada até a Avenida Paulista. Mateus retrucou: “Mas na Paulista não cabe tanta gente”.

O major Góes, um dos três comandantes da PM que negocia o trajeto com os organizadores da marcha, respondeu: “Cabe, sim”. “Então o senhor sugere que a gente siga para a Paulista?”, indagou uma ativista. “Não sugiro nada. Vocês é que decidem.”

No entanto, há várias outras frentes de comando, criando diversos atos. Também ainda há centenas de manifestantes em frente à prefeitura. A Rodovia Raposo Tavares está fechada nos dois sentidos próximo ao km 33, em Cotia, onde 3 mil pessoas protestam.

Trem suspenso

A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) informou que a operação da Linha 9-Esmeralda, que faz o percurso Osasco-Grajaú, foi suspensa às 18h50, por motivo de segurança. Segundo a empresa, “houve depredação dos trens por manifestantes exaltados”. Foi acionado o Plano de Apoio entre Empresas em Situação de Emergência (Paese), que usa ônibus no trajeto.

De acordo com a CPTM, a confusão teve origem na falha de um trem, que trafegava no sentido Grajaú, na chegada da estação Morumbi, por volta das 16h40. “Alguns usuários não aguardaram o restabelecimento e acionaram o botão de emergência, descendo a via férrea. Às 17h20, o trem foi removido, mas como havia muitos usuários andando na via, a circulação dos trens passou a ser realizada com velocidade reduzida”, diz a companhia.
Era horário de pico, o que fez encher as plataformas da estação. A essa altura, “um grupo iniciou a depredação de algumas composições, razão pela qual a operação dessa linha foi suspensa”.

Haddad

O ato de hoje é realizado depois de uma reunião no Conselho da Cidade com o prefeito Fernando Haddad (PT). No encontro desta manhã o petista sinalizou pela primeira vez com a possibilidade de revogar o aumento do valor da passagem, de R$ 3 para R$ 3,20, válido desde o dia 2.

Haddad afirmou que vai analisar as reivindicações do MPL e considerar a posição dos conselheiros que se manifestaram favoráveis à revogação, e os convidaria para negociar até o fim desta semana. Mas ponderou que a redução vai provocar uma necessidade de subsídio da ordem de R$ 1,4 bilhão até o fim deste ano, dinheiro que teria de ser retirado de outras áreas do orçamento. “O que eu não posso é omitir da população que isso vai demandar o deslocamento da verba de um setor para outro. Mas, se a população considerar que isso vale a pena, nós teremos de fazer.”