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Prefeitos concluem que passou o tempo em que cidades podiam ignorar vizinhas

Para administradores que se encontraram em Canoas, ser periferia não é mais um problema, desde que haja integração de políticas públicas com a cidade central

Ireno Jardim. Falp

Na visão dos prefeitos brasileiros, caiu por terra a visão de que cada cidade é uma unidade isolada

Canoas (RS) – Governança metropolitana, baseada no diálogo, no planejamento conjunto e na interdependência são a chave para o enfrentamento dos problemas urbanos. Para os prefeitos reunidos em um dos debates do 3º Fórum Mundial de Autoridades Locais de Periferia, realizado em Canoas, no Rio Grande do Sul, não se trata de uma questão de se “anular” o centro das cidades, mas de distribuir a responsabilidade e buscar soluções conjuntas para as questões metropolitanas.

Para o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), a falta de recursos das cidades pequenas e a dinâmica economica e política das grandes não pode ser usada como parâmetro para dizer que uma não pode se desenvolver e que a outra deve se resolver sozinha. “As cidades têm tamanhos, populações e recursos diferentes, mas os problemas e os desafios são praticamente os mesmos nas regiões metropolitanas: saúde pública, mobilidades, tratamento do lixo, entre outros. Não importa se no Brasil ou na Cidade do México.”

O prefeito de Canoas, Jairo Jorge da Silva (PT), destacou o atual momento da região metropolitana de Porto Alegre como exemplo de compartilhamento de políticas e potenciais. “Hoje isso é uma prática consolidada, que criou uma nova governança metropolitana, relacionando municípios de igual para igual, que fortaleceu muito o desenvolvimento dessa região”, disse. “Me orgulho de ser periferia porque isso representa pensar em alternativas de desenvolvimento”, completou.

Considerando que o Brasil ainda é iniciante no processo de valorização dos municípios, o prefeito de Guarulhos, Sebastião Almeida (PT), lembrou que por muito tempo se propagou a ideia de cada município cuidar do seu território e dos seus problemas. “O que é um grande equivoco”, afirmou. Almeida destacou o papel do governo Lula, iniciado há dez anos, considerando que foi alterada a forma de relação entre o governo federal e as cidades. “Hoje, tendo bons projetos, a municipalidade pode obter recursos do governo central para desenvolver políticas públicas e realizar obras. Isso revolucionou as possibilidade das cidades”, afirmou.

O prefeito de Pikine, no Senegal, Papa Sagna Mbaye, considera que a situação na maior parte do mundo é urgente, pois “é evidente que existe uma situação de exploração, discriminação, na relação entre metrópole e periferia”. Para ele, este enfrentamento necessita de uma forte ação conjunta das periferias, investindo em educação e qualidade de vida. “Temos emergência de soluções eficazes que permitam resolver problemas de base, como saúde e educação, para reduzir as desigualdades no seio do espaço metropolitano a partir da mobilização social”, complementa.

Para o prefeito da cidade argentina de Quilmes, Francisco Gutiérrez, o que acontece hoje em muitos lugares do mundo, com destaque para o Brasil e a América Latina, é um redescobrimento da política nas cidades. “Hoje há governos que não são frutos de cúpulas, multinacionais, corporações financeiras ou midiáticas. Muitos governos têm sido impostos pela vontade popular. É um processo novo”, afirmou.

Também participaram do debate as prefeitas de Bobigny, na França, Catherine Payge, e da cidade argentina de Rosário, Mónica Fein, o vice-prefeito de Rabat, no Marrocos, Rachid Sassy, e o diretor de assuntos estratégicos de Cidade do México, Cuauhtémoc Cárdenas.

Nesta edição, o Falp pretende reunir 1.100 autoridades locais de 200 cidades, de 50 países da América Latina, África, Oriente Médio e Europa. Serão discutidos temas como identidade e multipolaridade, governança e participação, igualdade e políticas de gênero. Além dos debates políticos, haverá atividades culturais tradicionais dos países participantes e seminários paralelos sobre temas diversos. O evento se encerra na quinta-feira (13), com uma palestra do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O fórum foi idealizado em 2003, durante o processo do Fórum Social Mundial (FSM) e do Fórum de Autoridades Locais pela Inclusão Social e a Democracia Participativa. Propõe a criação de novos paradigmas para o espaço urbano, baseado no estabelecimento de novas centralidades, na solidariedade, na sustentabilidade, na valorização das diferentes culturas, na inclusão social e na defesa dos direitos. Desde então foram realizadas duas edições, a primeira em 2006, na cidade francesa de Nanterre, e a segunda em 2010, em Getafe, na Espanha.

Leia a cobertura completa dos debates em Canoas:
>> Em debate, prefeitos defendem participação popular e cidades menores
>> Tarso Genro afirma que neoliberalismo destrói a dignidade da política

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