Transporte coletivo

Pacífico na maior parte do tempo, protesto contra tarifa perde controle em São Paulo

Movimento formado por jovens de várias orientações políticas pede revogação do aumento da passagem do transporte público que subiu de R$ 3 para R$ 3,20

Ônibus é incendiado na Av. Paulista, em resposta à prisão de integrantes do protesto contra aumento das passagens <span>(cc/ninja)</span>Policiais tentavam dispersar manifestantes na Praça da Sé com disparo de bombas de gás lacrimogêno <span>(mídia ninja)</span>Movimento e Polícia Militar estimaram em 5 mil o número de participantes no protesto <span>(midia ninja/divulgação)</span>Polícia reprime manifestantes que queriam entrar em terminal para protestar por aumento dos ônibus <span>(cc/ninja mídia)</span>PM detém manifestantes. Cerca de 20 pessoas foram levadas à prisão na noite da terça-feira durante protesto <span>(cc/mídia ninja)</span>Manifestantes correm dos efeitos de bombas de gás lacrimogêneo durante novo protesto contra alta dos ônibus <span>(cc/mídia ninja)</span>

São Paulo – Aproximadamente 5 mil manifestantes, de acordo com os organizadores, e 3 mil, segundo a Polícia Militar, participaram de protesto ontem (11) contra o reajuste da tarifa de transporte público de São Paulo. A marcha saiu da Praça do Ciclista, na esquina da Avenida Paulista com a Rua da Consolação, e seguiu por esta até a Praça Roosevelt, na região central. O grupo, então, pegou um trecho da Ligação Leste-Oeste até a Rua Vergueiro. De lá seguiram para a Praça da Sé. As lideranças do Movimento Passe Livre (MPL), que estavam em contato direto com o comando da PM para negociar trajetos e evitar confrontos, tinham a intenção de encerrar a passeata no Terminal Parque Dom Pedro II, também no centro. A polícia não permitiu.

A marcha havia transcorrido de maneira pacífica até este preciso momento. Os manifestantes permaneceram longos minutos parados na entrada do terminal enquanto Mateus Preis, representante do MPL, e o tenente-coronel Pignatari, comandante do operativo policial, negociavam uma saída para o impasse. O jovem insistia em que as manifestações pela redução da tarifa normalmente acabam em terminais de ônibus, como já ocorreu inclusive no Parque Dom Pedro II em anos anteriores – 2010, por exemplo. Pignatari expressou seu temor de que uma parte do grupo se exaltasse dentro do terminal e praticasse atos de vandalismo, colocando em risco os cidadãos que estavam no local.

Leia também:
>> Movimento pela redução da tarifa pede audiência com prefeito e promete novas marchas
>> Violência impede diálogo, diz prefeita em exercício de São Paulo

Pouco antes, um grupo de manifestantes havia contrariado as orientações da organização e tentado atear fogo em um coletivo. Alguns policiais que escoltavam e assessoravam o tenente-coronel, como o capitão Giampaolo, pediam encerramento imediato da manifestação para evitar feridos – e urgiam o comandante a tomar uma decisão. A essa altura, homens da Força Tática já estavam a postos, com seus tradicionais escudos e armas antimotins. Viaturas das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), tropa de elite da PM, começaram a chegar com homens fortemente armados, inclusive com metralhadoras automáticas. A tensão venceu: pedras, paus e rojões voaram de um lado; bombas de efeito moral, gás lacrimogênio e balas de borracha, de outro.

A partir de então, a manifestação pela redução tarifa do transporte público em São Paulo deu lugar a um jogo de gato e rato entre manifestantes – que fugiam da agressão policial e tentavam se agrupar – e soldados com ordem expressa para dispersar a multidão. Dois helicópteros Águia da PM se uniram ao operativo, e também homens da Tropa de Choque. No início do protesto, na Praça do Ciclista, havia 400 efetivos da polícia, de acordo com Pignatari. No final, o número nitidamente se multiplicou. Enquanto boa parte dos manifestantes deu o protesto encerrado e foi para casa, escapando da repressão, os reforços policiais perseguiam grupos mais exaltados pelos arredores da Praça da Sé.

A reportagem da RBA assistiu à detenção de pelo menos cinco pessoas – no total, 20 foram detidas durante a jornada. Dezenas de bombas foram arremessadas, inclusive contra um grupo de usuários de crack. Ao fugir do aparato policial, os manifestantes que insistiam em seguir com o protesto construíam pequenas barricadas nas ruas com lixo em chamas para tentar evitar – sem sucesso – o avanço das viaturas. Os veículos iam logo atrás dos homens da Força Tática, dando retaguarda e efetuando prisões.

Por volta das 21 horas, Pignatari dava por encerrado o operativo no centro da cidade. No entanto, mais tarde, na Avenida Paulista, haveria mais confronto. Manifestantes que subiram a Avenida Brigadeiro Luiz Antonio fugindo das bombas se reagruparam nos arredores do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e foram novamente reprimidos pelas autoridades.

“A dificuldade é que não existe uma liderança. E quando há algum rompimento de acordo, eles alegam que há pessoas de outros grupos que não obedecem as orientações. E eles reconhecem que perdem o controle”, argumentou o comandante do operativo. “Não é uma negociação firme, pois da parte dos manifestantes não existe uma figura única que possa assumir a responsabilidade de manter a ordem do grupo.”

A RBA questionou Pignatari se a PM não seria capaz de fazer uma distinção entre os grupos que praticam atos de vandalismo e os manifestantes pacíficos – que foram a esmagadora maioria do protesto. “Não há diferenciação”, respondeu. “A partir do momento em que todos integram a mesma massa… se fosse um grupo fechado, eles não permitiriam que pessoas desconhecidas aderissem ao movimento. A liderança deve ter responsabilidade. Eu estava negociando com um deles enquanto alguns outros agrediam a linha de policiais. Aí não há mais acordo. Não há conversa.”