Entrevista

Haddad condiciona revogação de aumento a novas medidas do governo federal

Prefeito afirma que outra possibilidade é aprovação pelo Congresso de projeto que reduz custos e sinaliza que não vai baixar preço do transporte caso isso implique cortes em outras áreas

©adriana spaca/brasil photo press/folhapress

Haddad preferiu não polemizar com Alckmin na questão da omissão policial

São Paulo – O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), sinalizou hoje (19) que a revogação do aumento da tarifa de transporte público na cidade dependerá de novas desonerações a serem feitas pelo governo federal. “Não temos três alternativas. Temos duas. Ou corta em outras áreas, ou avança na política de desoneração”, disse durante entrevista coletiva na sede da administração municipal, no centro da cidade. No último mês a gestão Dilma Rousseff desonerou a cobrança de PIS/Cofins sobre o transporte público como modo de evitar aumentos. Com isso, o reajuste em São Paulo, que deveria levar a tarifa de R$ 3 para R$ 3,40, foi de R$ 3,20. “Estamos procurando alternativas para não inviabilizar investimentos em outras áreas.”

O petista informou que a reunião de ontem com Dilma Rousseff na capital para discutir a questão da mobilidade urbana já estava acordada e evitou dar detalhes sobre a conversa. Hoje de manhã a presidenta esteve reunida com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, com quem Haddad também conversou. “Existem demandas de creches, de hospitais, existem demandas as mais variadas. Agora, com o orçamento que nós temos fomos a um patamar de subsídio da ordem de R$ 1,250 bilhão.” Nos cálculos da prefeitura, revogar o aumento implicaria neste ano em um aumento dos custos com subsídios às empresas, de R$ 1,6 bilhão neste ano e de R$ 2,7 bilhões até 2016 caso fosse mantida a tarifa.

Haddad reforçou a necessidade de que a população seja amplamente informada sobre as perdas em outras áreas caso se decida aumentar o subsídio. “Fizemos uma reunião com cem representantes da sociedade no Conselho da Cidade, estamos aqui falando com vocês da imprensa para que a população seja informada”, afirmou.

Ele lembrou também que foi definida no encontro com o Conselho a prorrogação da consulta pública sobre o edital de licitação das cooperativas e empresas de ônibus da cidade. “O novo edital muda o sistema de remuneração, que deixa de ser por passageiro e passa ser pra o sistema. Isso pode levar a ganhos importantes de qualidade e conforto”, defendeu.

Além da desoneração, a prefeitura calcula que a aprovação do Projeto de Lei 310, de 2009, permitiria cortar de imediato em 7% o valor da tarifa. O PL, parado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, institui o Regime Especial de Incentivos para o Transporte Coletivo Urbano e Metropolitano de Passageiros (Reitup). Segundo Haddad, Mantega se comprometeu a calcular o impacto desta medida para a União.

Haddad rejeitou a possibilidade de revogar imediatamente o aumento da tarifa, afirmando que não pode se deixar tomar por medidas simples, que soem como “populistas”, para se livrar do problema. “É um gesto que não educa no sentido de que essas escolhas representam menos investimentos em outras áreas. Ou você acha que não? Que essas decisões não vão impactar em investimentos em outras áreas? A não ser que haja uma nova agenda de desoneração.”

O petista afastou também a ideia de abrir mão do Bilhete Único Mensal, em fase de implementação, como forma de compensar os custos necessários para garantir a tarifa a R$ 3. “Não há contradição entre a rua e a urna. Essa contradição que querem criar, a meu ver não existe. Para revogar o aumento da tarifa tenho de abrir mão do Bilhete Único Mensal, que defendi durante 60 dias?”

Perguntado sobre a participação dos lucros das empresas de ônibus na composição da tarifa, Haddad afirmou que os empresários tiveram perdas de produtividade nos últimos anos. “O ganho de produtividade dos empresários tem que ser repassado, mas o sistema teve perda de produtividade nos últimos anos pela falta de novos corredores”, defendeu.

Ele acusou as gestões anteriores, de José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD), de levarem a um aumento de custos por não investirem nas faixas exclusivas para o transporte público. Segundo ele, a velocidade média dos ônibus baixou para 12 km por hora e poderia ser de 25 km/h com investimento em novos corredores. Com isso, menos passageiros são transportados a cada hora de trabalho dos motoristas, diminuindo a eficiência do sistema. “Se o carro perde velocidade, quem perde é o dono do carro. Mas se o ônibus perde velocidade, quem perde é a cidade”, afirma.

Atualmente são 130 quilômetros destas vias, e o plano de governo petista prevê construir outros 155 até 2016. A promessa é de no próximo mês ser realizada a licitação dos projetos, para no mês seguinte abrir os editais das obras e ao longo de 2016 entregar os trabalhos concluídos. “Não há contradição entre a rua e a urna. Essa contradição que querem criar, a meu ver não existe. Para revogar o aumento da tarifa tenho de abrir mão do Bilhete Único Mensal, que defendi durante 60 dias?”

Em instantes, mais informações.