Mobilização

Da ‘cura gay’ à Copa, manifestantes em Brasília pedem Congresso atuante

Várias manifestações passaram durante todo o dia pela Esplanada dos Ministérios cobrando concretização da agenda definida pela sociedade

Mídia Ninja. CC

À noite, na Esplanada, o tema voltou a ser a saída de Feliciano da presidência da CDH

 

Brasília A polícia ainda não conseguiu fazer um cálculo preciso, mas manifestações diversas, reunindo entre 3 mil e 7 mil pessoas cada uma delas, em pontos distantes e se encontrando de vez em quando, deram a tônica desta quarta-feira (26) em Brasília ao longo do dia. E, com agenda cheia na Câmara e no Senado, muitas delas ainda não têm hora de acabar.

Os grupos, que fazem parte do movimento “Acorda Brasília”, foram todos até o Congresso Nacional e depois voltaram para trechos estratégicos do Plano Piloto, onde se dividiram em várias frentes: alguns ficaram concentrados em frente ao estádio Mané Garrincha, nas imediações do Palácio do Buriti (onde se localiza a sede do governo do Distrito Federal). Outros partiram da Torre de TV (próxima ao Setor Comercial Sul) e da Rodoviária. Mais uma mobilização saiu do Museu da República. Além disso, representantes de setores diversos preferiram se dirigir diretamente para a Esplanada dos Ministérios, evitando as tradicionais concentrações, para poderem ter tempo de assistir ao jogo do Brasil.

As mobilizações foram iniciadas bem cedo. Por volta das 8h já tinham sido instaladas bolas de futebol no gramado do Congresso, numa forma de protesto contra os parlamentares sobre os erros relacionados aos preparativos para a Copa do Mundo e para que deputados e senadores passem a trabalhar de forma mais célere e dentro dos anseios da população, conforme enfatizaram os organizadores do movimento, vinculados à entidade Rio da Paz.

Um pouco depois se manifestaram, no mesmo local, representantes de entidades de defesa de Direitos Humanos contra o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) e o projeto intitulado “cura gay”, que trata a homossexualidade como se fosse doença, aprovado semana passada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara. No final da manhã, foi a vez de um grupo de profissionais da área de saúde protestar contra o anúncio da vinda de médicos do exterior para trabalhar no interior do país.

“Não estamos fazendo oba oba. Nossa reivindicação é legítima e expressa um desejo da população. Até mesmo porque, apesar dos anúncios feitos pela presidenta, nada foi consolidado em definitivo, com raras exceções”, disse a socióloga Renata Queiroz. Muitos estudantes levaram faixas e cartazes e deixaram claro que as intenções do movimento são pacíficas. “Precisamos ver a concretização de toda essa movimentação iniciada nas últimas semanas e que só começou a ser semeada agora. Ainda há muito por fazer”, acentuou o estudante paraense Fred Oliveira, da União Nacional dos Estudantes (UNE).

“Estamos vivendo um momento histórico no Brasil, em que, pela primeira vez, o fator medo está sendo observado nos governantes. Eles estão com medo do povo e é preciso aproveitar este momento para promovermos uma reforma profunda no país, no modo de fazer política. Queremos um Brasil padrão Fifa”, afirmou o presidente da Rio da Paz, Antonio Carlos Costa, ao acrescentar que o objetivo do protesto de hoje é “passar a bola para o Congresso, para termos um Legislativo que fiscalize o Executivo, mas não o boicote, que desengavete projetos de lei de grande interesse popular e que não se sujeite a lobbies que visam apenas ao interesse próprio e não da nação”.

Precauções

Como prevenção por conta do saldo da manifestação da última quinta-feira, quando uma ala do Palácio do Itamaraty foi depredada, o governo reforçou o policiamento nas ruas. Também o trânsito na área onde foram definidas as concentrações para as várias passeatas foi modificado várias vezes, conforme a aglomeração das pessoas.

A expectativa da Polícia Militar é de que, desde as 6h até a meia-noite, cerca de 50 mil pessoas venham a passar pela Esplanada dos Ministérios. Por isso, foi montado um esquema especial, com quatro mil policiais, incluindo o regimento de cavalaria, a tropa de choque, o batalhão de cães e o batalhão de rondas ostensivas táticas motorizadas (Rotam). Também foram revistadas mochilas e objetos portados pelos manifestantes.