Corte de árvores em Porto Alegre acentua desafios de mobilização para movimentos sociais

Ramiro Furquim. Sul21 Embora com pautas divergentes, cidadãos têm se mobilizado para cobrar soluções e cativar mais pessoas Porto Alegre – Desde o início deste ano, Porto Alegre tem assistido […]

Ramiro Furquim. Sul21

Embora com pautas divergentes, cidadãos têm se mobilizado para cobrar soluções e cativar mais pessoas

Porto Alegre – Desde o início deste ano, Porto Alegre tem assistido a pelo menos dois movimentos sociais que têm ido às ruas da cidade para protestar de forma constante. No final de janeiro, um grupo realizou a primeira marcha contra o aumento da passagem de ônibus. No início de fevereiro, teve início a mobilização contra o corte de árvores no Centro Histórico para ampliação das avenidas João Goulart e Edivaldo Pereira Paiva.

Esses movimentos realizaram diversos atos e intensificaram formas similares e distintas de organização e atuação. No plano institucional, decisões do Tribunal de Contas do Estado e da Justiça acabaram fortalecendo os atos contra o aumento da passagem – que modificaram a cobrança e passaram a exigir a redução da tarifa que estava em vigor antes do reajuste.

A repressão policial também acabou ampliando a adesão às manifestações. O maior ato ocorreu no dia 1 de abril, logo após o protesto do dia 27 de março, em que uma ativista foi presa dentro da prefeitura, vidros foram quebrados por militantes e a Brigada Militar disparou pelo menos cinco bombas de efeito moral no centro.

No que diz respeito à luta contra a remoção das árvores, o maior ato também ocorreu após a ação policial – no caso, em seguida à detenção de 27 pessoas que estavam acampadas na área verde ao lado da Câmara Municipal, na madrugada do dia 29 de maio. Entretanto, enquanto o movimento contra o aumento da tarifa de ônibus reuniu milhares – até dez mil, de acordo com ativistas – de pessoas nas ruas, a mobilização contra o corte de árvores não conseguiu ultrapassar a marca das centenas. Nesta reportagem, o Sul21 expõe a interpretação de diversos integrantes destes movimentos a respeito da organização, adesão e abrangência de suas mobilizações.

As duas constatações mais evocadas pelos militantes apontam que a diferença entre as pautas e o acúmulo de forças são fatores que ajudam a explicar a intensidade dos movimentos. Enquanto o combate à tarifa de ônibus toca diretamente o bolso da população, a oposição ao corte de árvores pode ter sido interpretada como algo mais restrito e localizado. Na visão de alguns ativistas, talvez tenha sido pouco dimensionado, inclusive pela mídia tradicional, que a pauta ambiental é muito mais ampla e envolve a luta contra um projeto de cidade.

Além disso, muitos observam que a luta contra o aumento das passagens ocorre todos os anos e, historicamente, nunca havia atingido os patamares logrados em 2013. O longo acúmulo e as experiências passadas teriam contribuído para o sucesso do movimento neste ano. “Eram poucas pessoas, mas muito mobilizadas e envolvidas com a causa”, resume um integrante do Ocupa Árvores, grupo de pessoas que ficaram acampadas durante mais de um mês para tentar impedir os cortes.

Ele avalia que a pauta tinha potencial para cativar a população – assim como a da passagem de ônibus –, mas que uma série de fatores contribuíram para não dar tanta força ao movimento. “As 115 árvores valem a luta por si só, mas, neste caso, eram o símbolo de uma crítica a um projeto de cidade. O acampamento despertava simpatia, outros grupos iam lá nos apoiar, motoristas diminuam a velocidade ao passar por lá e nos elogiavam. Mas tínhamos consciência de que, apesar de termos incomodado o poder público e pautado o debate, só conseguiríamos resistir ao corte criminoso e à realização da obra se fôssemos numericamente maiores”, comenta.

Formas de organização

Embora as pautas sejam diferentes, muitos ativistas apontaram semelhanças entre as duas reivindicações: ambas dialogam com soluções para a mobilidade urbana de Porto Alegre e surgem a partir de um comportamento restritivo do poder público. Muitos militantes que foram às ruas combater a ampliação das avenidas também estavam nas marchas contra o aumento das passagens.

Mas alguns fatores pesaram para que houvesse um refluxo de ativistas originários na luta contra o reajuste da tarifa de ônibus. “Vários articuladores do movimento estão sofrendo processos judiciais e sendo investigados pela polícia, isso leva o pessoal a ficar mais ressabiado”, aponta um militante anarquista e integrante da Frente Autônoma do Bloco de Luta pelo Transporte Público.

Outro fator que teria diferenciado os dois movimentos diz respeito à forma de organização. Ambos contaram com o apoio de diversos coletivos e organizações e fizeram uso das redes sociais para convocar e informar a população. Mas a mobilização contra o aumento da passagem contava com uma instância organizativa ampla e heterogênea, uma espécie de guarda-chuva que congregava os agentes envolvidos: o Bloco de Luta pelo Transporte Público.

“A condição para a vitória foi a unidade e organização que tivemos em torno do Bloco. Isso foi uma dificuldade enfrentada pela luta (contra o corte das árvores), que não conseguiu ter um espaço de frente única e de articulação entre as organizações. Mas não acho que esse seja o elemento central (para explicar a menor adesão)”, avalia Matheus Gomes, da coordenação do DCE da UFRGS e militante da Juventude do PSTU.
Engajamento institucional de entidades

A mobilização contra o aumento da passagem contou com a participação de diversos setores da sociedade. Entidades estudantis, coletivos anarquistas e autônomos, sindicatos, partidos políticos e pessoas que não integravam nenhum grupo compuseram as marchas. Entretanto, o movimento contra o corte das árvores careceu de um envolvimento orgânico de sindicatos, centros e diretórios estudantis e militantes partidários. Nas marchas contra a duplicação das avenidas, não se viam bandeiras do PSOL e do PSTU – os dois principais partidos que apoiaram o movimento contra o reajuste da tarifa.

“A pauta ecológica ainda não é muito abraçada pela esquerda. Outro fator é que estava ocorrendo o congresso da UNE e da ANEL e a prioridade dos partidos era lotar os ônibus com todos que conseguissem angariar”, aponta um militante anarquista do Bloco de Luta pelo Transporte Público.

Leia a reportagem completa na página do Sul21.