Ato desta quinta-feira em Porto Alegre será concentrado em frente ao Palácio Piratini

Porto Alegre – Depois de diversas marchas pelas ruas de Porto Alegre, a manifestação de hoje (26) será realizada de forma fixa, com a ocupação da Praça da Matriz. Rodeado […]

Porto Alegre – Depois de diversas marchas pelas ruas de Porto Alegre, a manifestação de hoje (26) será realizada de forma fixa, com a ocupação da Praça da Matriz. Rodeado pelo Palácio Piratini, pela Assembleia Legislativa e pelo Palácio da Justiça, o local havia sido cercado pela Brigada Militar durante os últimos protestos – impedindo, inclusive, a circulação dos moradores da região.

Irritados com a proibição de acesso à praça pública, os manifestantes pretendem, agora, concentrar a ação naquele espaço. A intenção é, também, enviar um recado direto ao governador Tarso Genro (PT), criticado pelo comando dado à Brigada Militar. Na tarde desta quarta-feira (26), ele sinalizou que vai liberar a permanência no local.

A avaliação dos integrantes do Bloco de Lutas pelo Transporte Público é de que, em Porto Alegre, os protestos não estão assumindo um caráter apolítico, com pautas dispersas e afastadas de causas históricas da esquerda. Existe a leitura de que isso pode ter ocorrido nos atos da semana passada, com a presença de setores da direita nas caminhadas. Mas o entendimento é de que, a partir de segunda-feira (24), as organizações populares conseguiram estabelecer a linha política do movimento e ter como foco as demandas na efetivação de um transporte 100% público, na conquista do passe livre nacional, na crítica à repressão e criminalização dos ativistas, na abertura das contas das empresas do transporte e na condenação da Copa do Mundo de 2014.

“O movimento se ampliou muito em nível nacional e houve intervenções de setores organizados de diferentes campos políticos, principalmente da direita, que tentaram mudar o foco das manifestações. Aqui em Porto Alegre temos uma situação distinta com a existência do Bloco de Lutas, que possui um programa de esquerda bem definido. Isso está fazendo toda a diferença”, afirma Matheus Gomes, integrante do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRGS e da Juventude do PSTU. Ele informa que o ato desta quinta-feira terá apresentações culturais e artísticas, mas não perderá de vista “o sentido político de se ocupar a praça como forma de protesto”.

Pepe Martini, integrante do movimento Defesa Pública da Alegria, observa que “a direita, quando viu que não poderia acabar com os protestos apenas com a repressão policial, quando viu que essa repressão gerava ainda mais solidariedade e adesão popular, mudou de estratégia e passou a tentar esvaziar o discurso dos atos”. Para ele, essa tática se mostrou fracassada: “a estratégia da mídia e da direita em geral parece não estar funcionando muito. O povo continua na rua e sem perder a vontade de lutar por pautas concretas, como a passe livre”.

Ativistas cobram ações mais contundentes de governos

Desde que as mobilizações começaram, algumas respostas já foram dadas por alguns governos, que acabaram cedendo a certas pautas oriundas das ruas. Em São Paulo, o prefeito da Capital e o governador do Estado revogaram os reajustes das passagens de ônibus, trens e metrôs. E no Congresso Nacional, foi rejeitada a PEC 37, que limitava os poderes de investigação do Ministério Público.

Entretanto, os militantes observam que as revogações dos aumentos de passagens se deram mediante remanejos orçamentários e isenções de impostos – e não através da diminuição da margem de lucro dos empresários do setor, por exemplo. “É um momento de avaliar as vitórias que tivemos e aprofundar outras pautas. O modus operandi entre governantes e empresários não mudou. Estão isentando impostos que deveriam ir para saúde e educação apenas para manter o lucro das empresas”, critica Lucas Maróstica, ativista do JUNTOS, coletivo de jovens ligado ao PSOL.

Militante da Federação Anarquista Gaúcha (FAG) – que teve sua sede invadida pela Polícia Civil –, Lorena Castillo critica as tentativas de infiltração no movimento, que, segundo ela, partem da direita e da polícia. “Repudiamos a cooptação de setores reacionários e de direita infiltrados em nossas fileiras. Existe uma pauta bem definida desde o início das mobilizações. Nossa intenção é que as classes trabalhadoras e os oprimidos possam ser cada vez mais uma parte construtora deste processo. Nosso movimento é popular, não é um protesto de classe média alta”, pontua.

Para ela, a ocupação da Praça da Matriz é uma resposta à ação repressiva da Brigada Militar, que vinha impedindo os manifestantes de chegarem até o local. “Nas duas últimas manifestações, as caminhadas pacíficas não conseguiram lograr seus desfechos por conta da interferência da polícia. Não vamos permitir a existência de solo sagrado na cidade, como tem sido o Palácio Piratini e (o prédio sede da) Zero Hora”, comenta.

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