Templo da tortura

Sede do Dops no Rio será transformada em memorial às vítimas da ditadura

Anúncio foi feito durante cerimônia de instalação da Comissão Estadual da Verdade pelo governador Sérgio Cabral, que sinalizou transformação de outros prédios públicos em centros de memória

Shana Reis. Governo do Rio

“O governo dará total apoio à proposta de referências físicas à memória dos mortos e desaparecidos”, disse Cabral

Rio de Janeiro – O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), irá transformar a antiga sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) na capital em um memorial em homenagem às vítimas da ditadura no estado. A decisão foi anunciada hoje (8) e atende a um pedido feito pela Comissão Estadual da Verdade do Rio, oficialmente instalada durante cerimônia realizada na sede da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ).

Cabral, que se fez acompanhar pelo pai (o jornalista Sérgio Cabral, também preso pela ditadura), avalizou a proposta feita pela comissão: “O governo dará total apoio à proposta de referências físicas à memória dos mortos e desaparecidos. Em todo o mundo é assim. Dessa lista apresentada posso falar efetivamente da sede do Dops. Vamos fazer um centro de memória na rua da Relação”, disse o governador do Rio, sugerindo que ocorrerão outras mudanças. “Vamos começar por aqui.”

O projeto “Marcas da Memória” foi apresentado durante a cerimônia pelo presidente da Comissão Estadual da Verdade, Wadih Damous, que citou alguns pontos conhecidos no Rio de Janeiro. “Quando falamos em memória e justiça, é preciso que tenhamos a visão de que precisamos marcar determinados locais. A sociedade precisa lembrar que no quartel da Polícia do Exército na rua Barão de Mesquita, na Tijuca, funcionava o tenebroso Doi-Codi e que a central do Dops funcionava na rua da Relação, no centro da cidade. Saber que o estádio Caio Martins era utilizado como campo de concentração. Que todos sejam transformados em memoriais que mostrem que o país já viveu sob um regime de terror”, disse.

Damous propôs também a mudança do nome em locais que homenageiam os criminosos da ditadura. “Reexaminemos os nomes de ruas, viadutos, escolas e estádios dados em homenagem a quem torturou e golpeou a sociedade democrática. Por que não dar ao nome de João Saldanha ao Engenhão? Me causa repulsa passar na ponte Rio-Niterói e saber o nome que ela tem (Costa e Silva).”

O governador, que prometeu também “apoio à estrutura e garantia de autonomia” à Comissão Estadual da Verdade, lembrou sua experiência de vida. “Quando eu tinha uns 7 anos de idade, ia visitar meu pai, Sérgio Cabral, que estava na cadeia na Vila Militar. Eu não entendia por que ele estava preso e aquilo me tocava muito. Por outro lado, vi na minha casa a resistência de perto, com intelectuais, jornalistas e artistas. Na adolescência, já como militante do Partido Comunista, vi heróis como Modesto da Silveira, Marcelo Cerqueira, Raymundo de Oliveira e Heloneida Studart.”

Cabral recebeu elogios pelo fato de o governo fluminense estar pagando indenizações aos perseguidos pela ditadura, já que o Rio é o estado onde ocorreu o maior número de assassinatos. O secretário estadual de Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira, disse que a secretaria abriu 1.115 processos na comissão de reparação, dos quais 900 foram aprovados e 653 já foram pagos. “Simbolicamente, representa um aporte financeiro de R$ 20 mil. Mas, o que importa é o pedido de perdão do estado a essas pessoas que foram perseguidas pela ditadura”, afirmou.



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