Romeiros se reúnem em Tocantins para recordar padre morto por fazendeiros

Há 27 anos, Josimo Morais Tavares era assassinado por defender trabalhadores rurais na região do Bico do Papagaio, marcada por grilagem

Romeiros recordaram que mortes na luta pela terra continuam ocorrendo sem que se resolva a questão agrária <span>(Douglas Mansur. RBA)</span> <span></span> <span></span> <span></span> <span></span> <span></span> <span></span> <span></span>

São Paulo – Romeiros de todas as regiões do país se reuniram neste fim de semana em Esperantina, no interior de Tocantins, para recordar os 27 anos da morte do padre Josimo Morais Tavares, morto a mando de fazendeiros. Durante dois dias, os cidadãos debateram a concentração agrária, o desmatamento e os problemas provocados pelo uso de venenos agrícolas.

A 13ª edição da Romaria da Terra e da Água teve como lema “Firmes na terra, semeando vida”, e foi organizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pela Diocese de Tocantinópolis, na região do chamado Bico do Papagaio, que reúne, além de parte do território do Tocantins, porções do Pará e do Maranhão. Trata-se de uma região marcada pelos conflitos agrários. Em um deles, Josimo Morais Tavares foi morto a tiros por um pistoleiro contratado por fazendeiros da região, irritados com as denúncias de grilagem e com a proteção oferecida a trabalhadores rurais.

Nascido em Marabá em 1953, Josimo se mudou com a família ainda criança a Xambioá, no Tocantins. Aos 11 anos, migrou para o seminário em Tocantinópolis e, ao concluir os estudos, regressou a Xambioá. Mais tarde, como coordenaor da CPT no Bico do Papagaio, amealhou afetos, se tornando conhecido como o “padre negro de sandálias surradas”, e desafetos. Em 16 de abril de 1986, o carro no qual dirigia foi acertado por uma série de disparos.

Sabendo que estava marcado para morrer, Josimo leu em público, dez dias depois, seu testamento espiritual: “Se perseguirem a mim, hão de perseguir vocês também. Tenho que assumir. Agora estou empenhado na luta pela causa dos pobres lavradores indefesos, povo oprimido nas garras dos latifúndios. Se eu me calar, quem os defenderá? Quem lutará a seu favor? Eu pelo menos nada tenho a perder. Não tenho mulher, filhos e nem riqueza sequer, ninguém chorará por mim. Só tenho pena de uma pessoa: de minha mãe, que só tem a mim e mais ninguém por ela. Pobre. Viúva. Mas vocês ficam aí e cuidarão dela. Nem o medo me detém. É hora de assumir. Morro por uma justa causa”, afirmou na ocasião.

Após a morte, sete anos se passaram até que fossem denunciados os mandantes do crime, e outros cinco transcorreram antes que fossem julgados alguns dos envolvidos no caso. Adailson Vieira, Geraldo Paulo Vieira, pai de Adailson, receram sentença de 19 anos de reclusão, e Guiomar Teodoro da Silva foi condenada ao regime fechado por 14 anos.