Relatório da Comissão da Verdade ‘será contundente’, afirma coordenador
Balanço parcial será divulgado na semana que vem. Rosa Cardoso foi escolhida como próxima coordenadora
Publicado 13/05/2013 - 16h13
São Paulo – O relatório da Comissão Nacional da Verdade “será contundente, não duvidem”, disse hoje (13) o atual coordenador da CNV, Paulo Sérgio Pinheiro. “Desde os altos escalões até o operador da ‘maquininha’, todos têm a sua responsabilidade (pelos crimes da ditadura)”, afirmou, ao observar que não era a “tigrada” que, “por conta própria, matava e torturava”. Um balanço parcial das atividades será divulgado no próximo dia 21. Durante seminário em Brasília, Pinheiro confirmou a escolha da advogada Rosa Cardoso como próxima coordenadora.
Três ministros prestigiaram o seminário preparativo à divulgação do balanço. “Cabe ao governo apoiar de todas as formas para que esta comissão leve a cabo seu trabalho, que nós consideramos essencial para a construção da verdadeira democracia no nosso país”, afirmou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Segundo ele, a CNV trabalha “sob grandes pressões, grandes contradições e grandes dificuldades”.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que em determinado momento chegou a duvidar da aprovação da lei que criou a comissão, um ano atrás. “A história demonstrará a razão de ser dessa comissão”, declarou. “Até o próximo ano, esse processo nos dará muitos bons resultados”, acrescentou a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário.
Ela destacou a formação de uma rede “muito poderosa” envolvendo, além da CNV, comissões estaduais, comitês diversos, a Comissão de Anistia e familiares para o acúmulo de informações sobre o período. “A democracia não está pronta. Ela é sempre construída.” Maria do Rosário disse acreditar “no processo pedagógico, no despertar de consciências”, mais do que em relatórios finais. “Tudo o que está acontecendo faz com que as instituições hoje possam ser melhores.”
“Muitas vezes, os resultados obtidos não refletem a dimensão dos nossos esforços. Claro que isso preocupa, porque nosso empenho tem sido enorme”, afirmou Pinheiro. Mesmo com dificuldades, ele disse que a CNV “esclarecerá fatos obscuros do período em que o Estado de Direito se encontrava suspenso e a violência era um fato cotidiano. “Responderemos aos anseios dos sobreviventes e dos familiares das vítimas.” Para o atual coordenador, o relatório deve expor, com o cuidado necessário, a cumplicidade de setores do poder judicial, por exemplo, e reconstituir a cooperação de empresas com o regime opresso. “É preciso que isso seja reconstituído de maneira competente.”
Até aqui, foram feitos 18 acordos de cooperação com comissões parceiras e colhidos 220 depoimentos, sendo 61 agentes da repressão, além de recebidos 56 pedidos de investigação. “Estamos implementando um sistema que permite ampliar o número de depoimentos”, afirmou Pinheiro. “Decidimos dar prioridade absoluta às audiências públicas com vítimas e familiares”, acrescentou, destacando “o engajamento” do Estado brasileiro nesse processo de recuperação histórica.
No seminário, a historiadora Heloísa Starling, que integra a assessoria da CNV, exibiu um protótipo do relatório multimídia da comissão. O objetivo é “desmentir as versões da ditadura por documentos”.