Remoções

Metrô destrói casas desapropriadas e vizinhança vive em meio a ruínas em SP

Mais de 300 casas já foram demolidas no Buraco Quente, na zona sul da cidade, para passagem da Linha 17. Trinta famílias ainda negociam indenização em meio a insetos e ratos

Danilo Ramos/RBA

“Compro mamadeira toda semana. Mesmo tomando cuidado, o bico aparece roído por rato” Clique e confira galeria

São Paulo – A paisagem é de destruição. No últimos meses, a Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) demoliu quase 300 casas desapropriadas para a passagem da Linha 17-Ouro em comunidades à margem da avenida Washington Luís, no Campo Belo, zona sul da capital paulista. No Buraco Quente, visitado pela RBA há duas semanas, a maioria dos moradores optou por indenizações em vez de esperar indefinidamente por unidades habitacionais.

Cerca de 30 famílias ainda vivem na comunidade. Muitas negociam melhores condições para deixar suas casas. Outras se dizem injustiçadas. O relato de que inquilinos foram cadastrados no lugar de donos de imóveis é recorrente, assim como a reclamação de ofertas baixas de indenização para pontos comerciais.

A resistência dessas famílias para garantir seus direitos, no entanto, é testada diariamente graças às condições degradantes a que estão submetidas. A cada acordo de remoção fechado, as casas deixadas pelos removidos é parcialmente demolida para impedir que sejam invadidas. As ruínas, no entanto, atraem outros problemas: insetos e ratos, além de abrir brecha para que lixo doméstico seja despejado em qualquer lugar. Mães relatam problemas de saúde em crianças relacionados a poeira e a contato com as pragas.

“Eu compro mamadeira para o meu filho toda semana. Porque, mesmo tomando cuidado, o bico aparece todo roído por rato”, afirma Elaine Pereira, que mora na comunidade há cinco anos com um irmão e dois filhos, de dois e de cinco anos. Ela conta, em meio a corredores estreitos da comunidade enquanto busca um deles na escola, que, em função das demolições, as telhas de sua casa racharam. Quando chove ela precisa espalhar baldes pela casa, inclusive em cima da cama.

Elaine rejeita a proposta de R$ 16 mil de indenização porque espera que a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) e o Metrô tratem ela e o irmão como dois núcleos familiares e indenize-os separadamente.

O valor oferecido a ela foi o mesmo oferecido pelo bar de Naiede de Jesus Souza, uma das líderes da comunidade, dona do estabelecimento com portas voltadas para a movimentada rua Estevão Baião. “R$ 16 mil eu gastei só na laje disso aqui. Onde eu vou arrumar outro ponto desse com esse dinheiro?” questiona.

O Metrô pagou no máximo R$ 119 mil de indenização para pessoas que conseguiram comprovar 10 anos de residência no local e levando em consideração a metragem do imóvel. A conta é complicada: para cada ano comprovado, são pagos R$ 8,5 mil, mais um valor no limite de R$ 119 mil para os metros quadrados construídos. Caso a unidade tenha um quintal descoberto, por exemplo, a área não é computada. “Mas, para murar, acertar o piso, você gasta dinheiro também”, reclama Naiede.

Segundo a CDHU, a média dos pagamentos é de R$ 78,5 mil, valor bem abaixo do praticado no mercado. Apartamentos com 25 m² no Campo Belo, bairro onde está encravada a favela desde 1956, próximo ao Aeroporto de Congonhas, não são anunciados por menos de R$ 220 mil.

A CDHU afirmou, por meio de nota, que “na área das favelas Buraco Quente e Comando será construído um empreendimento com 432 unidades habitacionais para o atendimento das famílias que optaram por esta modalidade”. Mas afirma, no entanto, que as unidades ainda estão “em fase de projetos”. E garantiu que a demolição e remoção dos entulhos é de responsabilidade do Metrô, que, por sua vez, não respondeu aos questionamentos da reportagem.

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