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Interior do Rio ainda está à margem das políticas públicas para juventude

Municípios afastados dos centros urbanos e jovens da área rural ainda não são alcançados pelas iniciativas do poder público para o setor

Instituto Imagem e Cidadania

Encontro de Conhecimentos Livres em Aldeia Velha, em dezembro, envolveu alguns Pontos de Cultura de Tapinoã, Rio Bonito, Cabo Frio, Macaé e Bom Jardim

Rio de Janeiro – Um dos maiores entraves à aplicação de políticas públicas para a juventude no Rio de Janeiro é a falta de interiorização. Quanto mais afastados da capital e dos principais aglomerados urbanos, mais os jovens fluminenses ficam à margem do alcance das iniciativas tanto do poder público quanto das organizações da sociedade civil. Apesar das dificuldades, o trabalho com os jovens no interior do estado existe e persiste e, com o objetivo de tentar trazer esse contingente para o centro da elaboração política para o setor, o governo estadual aposta na realização, entre os dias 4 e 6 de julho, do Encontro de Conselhos e Órgãos Municipais de Juventude do Estado do Rio de Janeiro.

“O encontro será uma grande oportunidade para a troca de experiências entre os diversos atores. Acreditamos que as políticas públicas de juventude precisam ser fortalecidas na base, ou seja, nos municípios. Então, não apenas é importante que os municípios tenham seus órgãos gestores, coordenadorias, assessorias ou superintendências de juventude, mas também que criem seus conselhos municipais para auxiliar na efetivação dessas políticas locais”, diz Tiago Santana, titular da Superintendência de Políticas para a Juventude, órgão subordinado à Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos (SuPJ).

Um dos objetivos do encontro é aumentar o número de Conselhos Municipais de Juventude, já que até hoje apenas nove foram criados. O aumento das representações nos municípios é fundamental para dar capilaridade às discussões e elaborações que ocorrem no Conselho Estadual de Juventude (Cojuerj), órgão de controle social integrado por entidades representativas da juventude, pelos Conselhos Municipais de Juventude, pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e por oito secretarias do governo estadual.

“Nossa expectativa para o encontro de julho é poder estreitar os laços entre os conselhos e órgãos de juventude e o Cojuerj, e assim trabalhar nos desejos e anseios das juventudes de nosso estado. Acreditamos, com esse encontro, ser possível ter um mapa concreto de como nossas juventudes estão e o que de fato precisam. Além disso, os conselhos e órgãos de juventude poderão trocar experiências e informações entre si nas regiões”, diz Adrielle Saldanha, presidente do Cojuerj.

O trabalho a fazer não é pouco. Coordenadora do Instituto Imagem e Cidadania (Imac), organização que se notabilizou pelo trabalho com jovens no Rio de Janeiro e há seis anos mudou sua sede para o município de Bom Jardim, na região Serrana, Marjorie Botelho atesta as dificuldades da nova missão que abraçou: “As poucas políticas públicas de juventude para o interior, pelo menos na região Serrana, estão concentradas nas áreas urbanas dos municípios”, diz.

O afastamento dos grandes centros contribui para o esvaziamento das ações tomadas pelo poder público: “Aqui em Bom Jardim foi implementado o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem Adolescente) e realizamos em 2011, no distrito de Barra Alegre, a 1ª Conferência Municipal de Bom Jardim. O evento reuniu jovens de todas as localidades daqui e muitas demandas foram apresentadas, mas não tivemos desdobramentos. Não se tem na prefeitura de Bom Jardim nenhuma coordenadoria de juventude ou órgão semelhante voltado para pensar políticas para esse segmento”, lamenta Marjorie, que também é integrante do Conselho Nacional de Juventude.

Área rural

Marjorie Botelho aponta como um dos principais problemas a falta de políticas públicas para os jovens do campo: “Quando pensamos nos jovens das áreas rurais, não temos iniciativa nenhuma sendo implementada no Rio de Janeiro. Os jovens das áreas rurais do estado ficam alijados das políticas públicas de juventude. Esse debate, por exemplo, não chega aqui em Bom Jardim, e as políticas públicas, quando são elaboradas, sempre têm uma perspectiva urbana”, diz.

A falta de apoio do poder público local e a precariedade do contato com o governo estadual já pôs fim a diversas iniciativas no interior do Rio. Montada no município de Guapimirim pelo professor Guilherme Ribeiro há 15 anos, a Central Única de Cursos Associados (Cuca), que tinha o objetivo de preparar os jovens locais sem recursos financeiros para as provas e concursos públicos, não chegou a completar uma década de funcionamento: “Sem apoio da prefeitura ou qualquer outro recurso, tivemos que fechar as portas, deixando vazio um espaço de oportunidade para o jovem de Guapimirim que até hoje não foi preenchido’, diz.

Rede de Gestores

A expectativa do governo é que essa realidade comece a mudar após o Encontro de Conselhos e Órgãos Municipais de Juventude do Estado do Rio de Janeiro: “Este encontro vai permitir a construção de uma Rede de Gestores no Estado do Rio. Ela irá envolver os Conselhos e Gestores de Juventude, mas também teremos vereadores jovens incluídos, pois o Legislativo tem um grande papel a cumprir através de leis que autorizem a criação desses órgãos nas cidades”, diz o superintendente de Juventude do governo, Tiago Santana.

Outro objetivo da SuPJ é capacitar os jovens para sua atuação política e cidadã: “O encontro também será um momento de capacitação dos conselheiros em Gestão Pública, Orçamento e Fiscalização e outras áreas, para que tenhamos conselhos fortes e autônomos”, diz Santana.

O controle do evento pela SuPJ e a participação de parlamentares, no entanto, são alvos das críticas de entidades com importante representação, como o Fórum de Juventudes, que faz oposição ao governo estadual e é composto por dezenas de organizações de todas as regiões do estado: “Temos pouca expectativa com o encontro, pois há um claro aparelhamento do evento pela juventude partidária. A influência de PMDB e PT sobre esse processo é intensa, o que dificulta a participação de outras institucionalidades” diz Fransergio Goulart, coordenador do fórum.

RBA publica esta semana uma série de reportagens sobre a juventude brasileira. Cinquenta e um milhões de pessoas, ou 37% da população entre 15 e 29 anos, os jovens padecem da falta de políticas públicas específicas. Quando existem, no geral são trabalhadas sob a perspectiva de que o jovem é um problema em potencial, e não o responsável por ideias inovadoras e o ator da conquista de novos direitos.

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