Reitores de USP, Unesp e Unicamp ignoram audiência sobre cotas paulistas

Em audiência pública realizada ontem (29) na Câmara Municipal de São Paulo, entidades criticaram o Plano de Inclusão por Mérito no Ensino Público Paulista (Pimesp)

Considerado segregacionista por movimentos sociais, o Pimesp foi aprovado pela Unesp na quinta (25) (Foto: Núcleo de Consciência Negra da USP/Facebook)

São Paulo – Reitores da USP, Unicamp e Unesp não comparecerem nem mandaram representantes à audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo para discutir o sistema de cotas nas universidades públicas paulistas proposto pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), batizado de Programa de Inclusão por Mérito no Ensino Público Paulista (Pimesp). O sistema é considerado segregacionista e preconceituoso.

No debate, o vereador Orlando Silva (PCdoB) salientou que as experiências anteriores de cotas devem exercer peso no modelo escolhido para São Paulo. “Considero que devemos levar em conta resultados inciais que as políticas de cotas já mostraram no Brasil, inclusive um dado que surpreende a muitas pessoas, de que o aluno cotista tem desempenho igual ao não cotista e em muitos casos, superior”, disse.

Ele também ressaltou o modelo de cotas das universidades e instituições federais, decretado por lei em outubro do ano passado, garantindo a reserva de 50% das vagas nas universidades federais, em um prazo progressivo de até quatro anos, para estudantes que cursaram o ensino médio em escolas públicas. “Sobretudo as experiências das cotas nas universidades federais devem ser consideradas quando examinamos a proposta debatida no interior das universidades paulistas.”

O Pimesp prevê a reserva gradativa de vagas para alunos provenientes de escolas públicas e negros nas três universidades estaduais até o cumprimento da meta de 50% em 2016, sendo 35% delas para negros e indígenas. A entrada desses alunos, no entanto, ficaria condicionada ao desempenho acima da média 7 em um curso preparatório semipresencial, nos moldes do College norte-americano. A criação de tal mecanismo é criticada por acadêmicos e militantes, que o classificam como um segundo processo classificatório.

“O sistema impõe aos estudantes de periferia um segundo processo de seleção ao qual os estudantes das escolas particulares não estão submetidos. Isso é segregacionista e preconceituoso”, opinou a diretora de comunicação da União Nacional dos Estudantes (UNE).

O coordenador da Educafro, Douglas Belchior, criticou o Pimesp também, sobretudo sobre a sistema não presencial. “A educação muda a leitura e o entendimento de mundo das pessoas, além de mudanças econômicas. É pra essa educação que temos que nos voltar, e não apenas para ter vida economicamente melhor no mundo do capital, porque isso não tem resolvido nossos problemas.”

O secretário municipal da Igualdade Racial, Netinho de Paula (PCdoB), criticou a exclusão dos movimentos negros nos debates que serviram para estruturar o programa paulista. “O que está em jogo é exatamente a ideologia do racismo, muito presente na forma de construção do programa, que ausentou parte do chamado movimento negro e não considerou as experiencias de ação afirmativa na educação existentes no país.”

De acordo com o Pimesp, a inclusão das cotas será feita gradativamente, em três anos: 35% em 2014, 45% em 2015, e 50% em 2016. Na quinta-feira (25), o conselho universitário da Unesp aprovou o Pimesp, mas a universidade ainda pretende discutir a criação do college. USP e Unicamp ainda não aprovaram a proposta do governo paulista.

Ouça aqui a reportagem de Cláudio Manzzano.

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