Vencer cultura do preconceito contra LGBT é desafio para cidade de São Paulo

Secretaria Municipal de Direitos Humanos promove debate da série #dialogoSP, ouve reivindicações e críticas e reafirma proposta de uma 'nova forma de governar São Paulo' contra 'cidade proibida'

Passeata LGBT 2012. Apesar de sediar uma das maiores manifestações do mundo pelos direitos da comunidade, São Paulo ainda mantém preconceitos (Mauricio Morais/RBA)

São Paulo – Dando sequência à série de debates promovidos pela prefeitura de São Paulo com setores representativos dos movimentos sociais da capital, a Coordenadoria de Políticas LGBT, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), reuniu na noite de ontem (13) cerca de 150 pessoas para discutir políticas públicas voltadas à comunidade formada por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.

O secretário Rogério Sottili e o coordenador de Políticas LGBT, Julian Rodrigues, participaram do encontro, #dialogoSP/LGBT, com a proposta de “ouvir a comunidade para inaugurar uma nova forma de governar São Paulo”, segundo Sotilli. O secretário afirmou que o debate de ontem se insere no contexto da transversalidade, com o desenvolvimento de políticas conjuntas pelas pastas que têm relação com as políticas públicas, no caso, voltadas à comunidades LGBT, as secretarias de Educação, Saúde, Esportes, Cultura, Planejamento, por exemplo.

Um dos problemas mais importantes a se enfrentar, para Sottili, é vencer o preconceito arraigado na sociedade. “São Paulo e o Brasil sofrem com uma cultura de violação dos direitos humanos, e vencer isso depende de um longo trabalho de educação”, disse. 

Julian Rodrigues, coordenador de Políticas LGBT, chamou a atenção para a conjuntura, citando a eleição do novo papa, Francisco I, o argentino Jorge Mario Bergoglio, como parte de um “momento difícil” em que o “fundamentalismo religioso” auxilia na propagação do preconceito. “O novo papa foi um dos maiores opositores do casamento gay, teve ligação com a ditadura. Vimos a nomeação do presidente da Comissão de Direitos Humanos (da Câmara dos Deputados, deputado Marco Feliciano, do PSC). São fatos que aparentemente não têm ligação, mas mostram a conjuntura atual”, acredita.  

Segundo Rodrigues, o debate promovido ontem é consequência da “resposta da sociedade, com a eleição do prefeito Fernando Haddad, que não quer uma cidade proibida, mas a afirmação dos direitos humanos”. Ele citou a Guarda Civil Metropolitana como um exemplo de instituição que precisa ser reformada. “A GCM tem de parar de ser violadora para ser protetora dos direitos”, afirmou.

Demandas e críticas

O secretário Rogério Sottili disse que a Secretaria de Direitos Humanos está disposta, mais do que debater, a ouvir críticas. “Porque a democracia precisa de críticas para construir políticas públicas.” Representantes da comunidade LGBT apresentaram inúmeras demandas e críticas no debate. Algumas das principais reivindicações são: albergues para pessoas em situação de abandono; mais estrutura para as Coordenadorias de Assuntos de Diversidade Sexual (Cads), subordinadas à SMDH; políticas de emprego para a comunidade LGBT; comunicação mais eficiente da prefeitura para a área; políticas educacionais voltadas a combater o preconceito, entre outras.

Dário Neto, membro do setor LGBT do PSOL, disse que a nova gestão da prefeitura ainda não nomeou os representantes da SMDHC para o Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual, órgão consultivo e vinculado à Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual. Segundo Neto, isso é um sintoma de falta de diálogo. O coordenador Julian Rodrigues desmentiu a informação e disse tratar-se de “má-fé”. Segundo ele, “o conselho foi nomeado na semana passada e a primeira reunião será realizada até o final do mês de março”.