Sede da Pastoral da Terra no Acre é invadida pela sétima vez

Duas pessoas estão ameaçadas de morte. Polícia local trata os casos como vandalismo. Militantes acreditam em represália a atuação contra manejo irregular

São Paulo – A sede da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Rio Branco, capital do Acre, foi invadida, depredada e roubada pela sétima vez em apenas dois anos na madrugada de hoje (30). Documentos e o boletim de ocorrência registrado na invasão anterior foram levados. Para a coordenação da CPT, as ações visam coagir a organização, que se destaca na defesa de famílias extrativistas. 

Desde 2007, a pastoral denuncia sistematicamente a autorização irregular da retirada de madeira valiosa por empresas de áreas onde há demanda para criação de reserva ambiental. 

Dois militantes da CPT estão ameaçados de morte no Acre. Cosme Capistano da Silva e Maria Darlene Braga Martins receberam ligações em agosto de 2011 em que eram lembrados dos crimes contra outros militantes da questão ambiental no norte do país. 

“Um homem ligou para o Cosme e disse assim: ‘Estou ligando para você avisar a seus amigos da CPT que morreu gente no Pará, em Rondônia e agora vai ser no Amazonas e no Acre’”, relata Darlene, coordenadora da comissão no Acre.

“Achamos que eles estão atrás de documentos. Porque sempre somem documentos ou CPUs de computador. Desde o começo vimos que era uma coisa direcionada para isso. Mas a polícia local sempre diz que é vandalismo, coisa de drogados que entram para pegar qualquer coisa e vender”, afirma Jane Silva, da coordenação nacional da CPT. “Para nós, essas invasões estão ligadas ao manejo”, acredita.

O Ministério Público estadual e o federal foram acionados logo depois das ameaças telefônicas em 2011, mas nada teria sido feito. Só após a invasão do dia 21 de janeiro, quando ameças foram pichadas nas paredes das sede da entidade, e da interferência do secretario estadual de direitos humanos, Nilson Mourão, é que um inquérito foi aberto. 

Na próxima sexta, representantes da entidade irão ter uma reunião na Secretaria de Direitos Humanos, em Brasília. “Vamos pedir proteção e investigação. Porque eles estão afunilando cada vez mais. Eu não tenho medo. Você fica apreensiva, claro. Claro que meu emocional fica abalado. Mas eu acho que você vai secando, perdendo algumas coisas dentro de você. A pior coisa que eles fazem com você é ir matando aos poucos” diz Darlene.

“A gente fica indignada diante de um estado ausente, que não cumpre seu papel, que não faz reforma agrária, o que faz com que esses grandes fazendeiros, madeireiros, grileiros de terra expulsem populações tradicionais. Isso indigna. Em dez dias invadiram a CPT três vezes. Só fazem isso porque têm certeza da impunidade”, aponta. 

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