Familiares de vítimas cobram ações do governo municipal contra violência

Audiência pública contou com a participação dos secretários Netinho de Paula e Rogério Sottili (Foto: CC/Overmundo) São Paulo – Aproximadamente cem pessoas, entre militantes e familiares de vítimas do estado, […]

Audiência pública contou com a participação dos secretários Netinho de Paula e Rogério Sottili (Foto: CC/Overmundo)

São Paulo – Aproximadamente cem pessoas, entre militantes e familiares de vítimas do estado, cobraram do secretário municipal de Direitos Humanos, Rogério Sottili, e de Promoção da Igualdade Racial, Netinho de Paula, ações de combate à violência, durante uma audiência pública realizada na tarde de ontem (24), no Parque Santo Dias, zona sul da capital. Dentre as reivindicações estão a assistência a famílias que estão em dificuldade após a morte de algum familiar e o desenvolvimento de políticas públicas que contraponham a lógica de enfrentamento proposto pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).

O coordenador da ONG Capão Cidadão, Paulo Magrão, espera que a audiência ajude a sensibilizar o poder público sobre a situação das famílias de vítimas e cobra assistência aos familiares. “Esperamos que este governo desenvolva ações com a juventude, no esporte, na cultura, na educação, que propiciem a superação dessa lógica de violência. Queremos que as famílias sejam amparadas financeiramente. Perderam o pai, um filho que ajudava, e estão com medo, não conseguem se reestruturar. Algumas já precisaram de doação de cesta básica”, diz.

Um exemplo vivo da falta de assistência às famílias é o senhor Francisco José Guedes, pai do jovem Pedro Thiago Souza Magalhães, de 20 anos, morto com nove tiros por três homens encapuzados, em 14 de outubro do ano passado, no meio da tarde. Ele afirmou que nunca teve acesso a informações sobre a morte do filho ou assistência do poder público. “Meu filho era trabalhador e estudante. Não só não sei o que houve, como hoje temo pela minha vida e a dos meus outros filhos. Eu vou embora de São Paulo, porque não é seguro viver aqui”, desabafa Guedes.

Magrão afirma que a falta de assistência é um caminho para a perpetuação da violência. “O garoto que hoje perdeu o pai na ação de um agente do Estado e não vê a justiça atuar, que a família não recebe assistência para superar a situação, vai crescer revoltado, vai ser um barril de pólvora”, avalia. O militante criticou a ausência de representantes do governo Alckmin na audiência que, segundo ele, precisa mudar a visão do enfrentamento da violência. “Mas a gente não consegue sentar com o governo do estado e não é por falta de convite. Eles sempre alegam não ter agenda”, protesta.

Netinho de Paula também criticou a postura do governo e disse que é preciso ir além das palavras. “Precisamos levar ações como esta ao secretário de segurança, ao governador. Vamos fazer manifestações, levar uma caravana de familiares ao Palácio dos Bandeirantes e exigir que nos atendam. O governador tem se negado a conversar. Não está levando a sério o problema da violência”, indignou-se. O secretário afirmou que é preciso fiscalizar as ações da Polícia Militar de São Paulo, por exemplo, com câmeras de filmagem nos veículos.

Rogério Sottili prometeu trazer à cidade o Programa Juventude Viva, que propõe diversas ações de juventude por meio de parceria entre secretarias e ministérios. “Nós vamos trazer o programa para São Paulo, buscando prevenir as situações de violência a partir de uma série de ações de promoção da cultura, do esporte, atuando dentro do que cabe ao governo municipal”, afirmou Sottili. No entanto, o secretário disse não levar propostas à audiência. “Viemos aqui ouvir a comunidade.”

O militante do Comitê Contra o Genocídio da População Negra, Douglas Belchior, avaliou como positiva a audiência. “Foi possível demonstrar que a sociedade está reagindo. Queremos ações que demonstrem que a prefeitura tem um ideal de política de segurança diferente do governo estadual. Este é um ponto importante, porque é possível que a gestão municipal contraponha a lógica do estado, por exemplo, desmilitarizando a Guarda Civil Metropolitana e encerrando a operação delegada”, disse. Belchior defendeu a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a atuação da Polícia Militar em São Paulo.

Cerca de duas mil pessoas morreram durante a onda de violência no ano passado. Aproximadamente 400 delas foram mortas em supostos confrontos com forças policiais. Neste ano, de acordo com dados do Comitê, já foram vitimadas cerca de cem pessoas, sendo que a primeira chacina, em que sete pessoas foram assassinadas, foi em 4 de janeiro no Jardim Rosana, na região do Capão Redondo. 

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