Ex-viciado em crack procurou tratamento, mas diz que problema maior é o álcool

O Cratod tem apenas 10 vagas para internações. A maioria dos atendimentos, como a de Erivelton, é ambulatorial

Erivelton: “A pinga, com ou sem dinheiro, você toma” (Foto: Gerardo Lazzari)

São Paulo – Erivelton de Souza, de 32 anos, cumpriu cinco em regime fechado por tráfico de drogas ilícitas, como cocaína e crack. Mas não atribui a elas a fragilidade atual de seu corpo. Ao se separar da mãe de seus três filhos passou a beber cada vez mais e a morar na rua e em albergues públicos. Levou três tiros na cabeça. Foi atropelado. Tentou se matar pulando na frente de um ônibus. “Eu estava perdido”, diz com a voz fraca, assim que saiu do atendimento que já dura oito meses no Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod), na manhã de hoje (21).

O Cratod tem apenas 10 vagas para internações.  A maioria dos atendimentos, como a de Erivelton, é ambulatorial.

Minutos antes era feito o anúncio oficial da instalação no local de uma espécie de vara especial para acelerar os procedimentos para a realização de internações compulsórias, conforme determinação do governador Geraldo Alckimin (PSDB).  Depois de aprovada a internação, os dependentes serão encaminhados a um dos 681 outros leitos espalhados pelo estado. 

Erivelton avalia o atendimento que recebe como “muito bom”. “Ah, eles perguntam como foi seu fim de semana, como está a sua vida. Por que você está depressivo. É muito bom”, diz, animado.

Ele contabiliza trinta dias de vício em crack, um ano em cocaína e, durante a maior parte da vida, em álcool.  “Quando eu fiquei viciado em crack, passei recolhido um mês sem tomar banho. Só fumando”, lembra.

Ainda assim, acredita que se livrar da bebida é mais difícil. “Uma pedra de crack custa dez reais. Um pedacinho assim. No farol, você faz esse dinheiro em duas, três horas. A pinga, com ou sem dinheiro, você toma. Com dois reais você compra uma corotinha [embalagem de 490 mililitros de cachaça de baixíssima qualidade]. Aquilo lá mata a gente”, avalia.

“Eu não estava conseguindo mais andar, falar. Aí eu percebi e me levantei. Eu sou sozinho. Tenho mãe, irmã, mas é como se não tivesse ninguém. Mas a culpa foi minha. Não foi minha mulher, minha mãe ou minha irmão que foi errada. A culpa foi minha. Outros, que estão lá ainda tomando, fumando, cheirando, não admitem isso”, justifica o sucesso de seu tratamento. “Eu fiquei oito meses aí sem fumar nem um cigarro. Sai gordo, parecendo um toro”.

Mesmo com a percepção da melhora, Erivaldo só apareceu no atendimento depois de uma semana de ausência porque os assistentes sociais disseram que ele precisava ir ou poderia perder a vaga. Questionado se era difícil mudar, mesmo tendo consciência, ele diz que não. “Eu tenho força de vontade. Tem um louvor que diz assim: Sara-me senhor…”, cantarola a música religiosa e garante que no começo do tratamento ia todos os dias a igreja, depois de vender doces no farol, sua fonte de renda. “O que tá faltando, mas eu não estou preparado ainda, é eu ter um amigo para conversar, desabafar”, acredita. 

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