Movimentos reprovam intenção de Telhada de controlar entrada na Câmara

Ex-comandante da Rota apareceu fardado em cerimônia de diplomação e disse ser a favor de maior controle de entrada e saída na Câmara dos Vereadores

Coronel Telhada foi o quinto vereador mais votado em São Paulo com o slogan “Uma nova Rota na política de São Paulo” (Foto: Diogo Moreira/Folhapress)

São Paulo – Movimentos sociais reprovaram a intenção sinalizada pelo ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), Paulo Adriano Lopes Telhada, de implementar um sistema de controle sobre quem entra e sai da Câmara dos Vereadores de São Paulo. Ele afirmou em entrevista coletiva, na diplomação do prefeito e vereadores eleitos em São Paulo que ocorreu ontem (19) na Sala São Paulo, que pretende discutir a possibilidade de haver um controle mais rígido sobre os que circulam no Palácio Anchieta, sede do Legislativo em São Paulo.

Telhada afirmou que não é “contra morador de rua”, mas está preocupado com o acesso livre da Câmara. “Hoje entram várias pessoas que ficam tomando banho nas pias dos banheiros. Recebi diversos relatos de funcionárias que se deparam com desconhecidos dentro dos gabinetes. Isso precisa mudar”, disse.

O ideal, segundo o ex-comandante, seria que a entrada no prédio funcionasse como uma empresa. “Com foto e RG, com a pessoa dizendo para qual gabinete está indo. Isso não tem nada de ruim ou invasivo. Mas a pessoa que entra na Câmara precisa se identificar.”

Para o coordenador da Frente de Luta por Moradia (FLM), Osmar Borges, a Câmara tem apresentado um posicionamento deficitário com a sociedade. “Principalmente nos últimos anos, a casa não foi aberta de forma democrática à população, e acho que agora isso vai piorar. Parece que teremos a Câmara dos homens da bala e a volta do conservadorismo. ”

Borges afirma que a ideia de Telhada não poderá ser levada a diante com sucesso. “Ele não pode impedir a entrada das pessoas, é uma casa aberta, temos acesso às comissões e direito a participar de audiências públicas. Não dá para ele achar que trará o conceito de disciplina militar para dentro da Câmara.”

O papel do Legislativo, segundo ele, será distorcido se o projeto de Telhada for de fato implementado. “Os vereadores tem de pensar em políticas públicas que protejam sua população, e não menosprezar as pessoas pela sua condição social e decidir que não terão acesso ao que é do povo. A casa não é do vereador, é do povo.”

Direitos Humanos

O jornal O Estado de S. Paulo publicou no último dia 14 informação referente à possível indicação de Telhada pelo PSDB para presidir a Comissão de Direitos Humanos, Cidadania, Segurança Pública e Relações Internacionais da Câmara. Em entrevista, o ex-comandante afirmou que “não existe ninguém que defenda mais os direitos humanos, os direitos do cidadão, do que a PM [Polícia Militar]. Mas defendo que o cidadão de bem seja valorizado e o bandido seja colocado na cadeia.”

Telhada é responsável pela morte de 36 pessoas nos anos em que serviu a Polícia Militar, em episódios caracterizados como confrontos com a polícia. Os registros destas mortes aparecem como “resistência seguida de morte”. Ele foi comandante da Rota entre 2009 e 2011. Recentemente, foi acusado de ameaçar de morte o jornalista André Caramante, do jornal A Folha de S. Paulo, que ficou fora do país durante durante três meses com a família.

Após a publicação de um artigo publicado no dia 14 de julho na Folha, em que questionava os métodos usados pela Rota, Caramante passou a receber ameaças. Uma delas foi postada pelo próprio Telhada em sua página no Facebook: “quem defende bandido, é bandido também. Bala nesses safados”.

Para a fundadora da Associação Mães de Maio, Débora Maria da Silva, a possível indicação de Telhada para a Comissão de Direitos Humanos é um grave problema. “Vemos uma pessoa que se alimenta do sangue periférico se tornar representante dos direitos humanos. Isso é um absurdo e com certeza as Mães de Maio irão repudiar, não seremos reféns de uma situação como essa.”

As Mães de Maio existem desde 2006, quando mais de 400 pessoas foram mortas em maio deste ano após ataques da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Até hoje ninguém foi responsabilizado pelas mortes. Débora conta que Telhada chegou a afirmar num programa de televisão aberta que a Associação Mães de Maio é “um grupo de mulheres formado para defender bandidos”.

Débora pediu então pedido de resposta, que foi concedido a ela. Porém, segundo ela, a resposta não foi ao ar. “A gente não defende bandido, a gente defende o ser humano, independentemente do que ele vai fazer. A gente defende a vida, e uma pessoa que será representante de direitos humanos tem de representar a vida, tem de ser humano.”

O coronel foi eleito vereador com quinta maior votação na cidade – mais de 89 mil votos -, e sua candidatura foi alvo de três pedidos de impugnação por parte do Ministério Público: por incitação à violência nas redes sociais, uso indevido da farda da PM e por publicidade irregular.  

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