Atos no Rio e em São Paulo se opõem a efeitos negativos da Copa

Após investimento de R$ 1 bilhão, o Maracanã está prestes a ser vendido (Foto: Vladimir Platonow. Agência Brasil) São Paulo e Rio de Janeiro – Milhares de pessoas se reuniram hoje […]

Após investimento de R$ 1 bilhão, o Maracanã está prestes a ser vendido (Foto: Vladimir Platonow. Agência Brasil)

São Paulo e Rio de Janeiro – Milhares de pessoas se reuniram hoje (1º) no Rio de Janeiro e em São Paulo para atos contra obras e medidas tomadas pelo poder público para viabilizar a realização da Copa do Mundo de 2014. As manifestações foram uma forma de marcar oposição ao torneio no dia do sorteio das chaves da Copa das Confederações, evento prévio ao Mundial que será realizado em junho de 2013 em seis capitais. 

No Rio, os cidadãos tomaram as ruas da zona norte da cidade para protestar contra a demolição da Escola Municipal Friedenreich, do Estádio de Atletismo Célio de Barros, do Parque Aquático Julio Delamare e do antigo Museu do Índio para as obras do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã. A concentração ocorreu na praça Saenz Peña, na Tijuca, e reuniu estudantes, ativistas sociais, políticos e índios de várias etnias.

O pajé Kunue Kalapalo chegou de madrugada de sua aldeia, no Xingu, para apoiar a manifestação contra a derrubada do antigo museu, onde o marechal Candido Rondon iniciou o Serviço de Proteção ao Índio. “Nós estamos preocupados. Há muitos anos, meu avô esteve neste prédio para conversar com o marechal Rondon, que usava o local para receber os índios. Eu era pequeno nessa época. Precisamos manter o prédio, porque é um ponto de referência para nossa cultura”, disse o pajé.

O cacique Carlos Tukano, que ocupa o prédio com mais 35 índios, disse que a situação é dramática porque o governo do estado acaba de lançar o edital para a demolição do imóvel. Para evitar que isso aconteça, foram chamados índios de vários estados para ocupar o espaço. “Fizemos uma convocação e estão chegando índios do Espírito Santo, de Mato Grosso, de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Ninguém vai arredar o pé. Vamos resistir até o final”, garantiu o cacique.

A manifestação de hoje foi organizada pelos comitês populares da Copa em quatro cidades, além do Rio: São Paulo, Distrito Federal, Natal e Curitiba. No Rio, um dos integrantes do comitê, Gustavo Mehl, explicou o motivo do protesto. “Temos um processo de privatização do Maracanã, um complexo esportivo no qual foi investido R$ 1,5 bilhão desde 1999. Isso é um desrespeito com o nosso dinheiro e com a coisa pública”, disse Mehl, contrário ao processo de privatização lançado pelo governo do estado em outubro deste ano, que vai conceder o estádio à iniciativa privada por 35 anos, em troca do recebimento de R$ 7 milhões anuais. A reforma do estádio para a Copa 2014 está orçada em quase R$ 900 milhões em recursos públicos.

Outro efeito das obras do Maracanã é o desalojamento de 350 estudantes da escola Friedenreich, que funciona ao lado do estádio. Pais de alunos participaram do protesto. “A escola está ali há 50 anos, passamos por vários eventos e nunca tivemos problema algum. Jogar esta escola no chão é demolir um projeto pedagógico que a transformou na décima melhor escola pública do Brasil, no segmento educação básica, e a quarta melhor do Rio de Janeiro”, protestou Carlos Sandes, que tem uma filha na escola.

O Ministério Público Estadual ingressou na Justiça, em 21 de novembro, com uma Ação Civil Pública contra o governo do estado e a prefeitura, pedindo a preservação da escola e impondo multa diária de R$ 5 mil, caso seja impedida a matrícula dos alunos. O governo do Rio alega que as alterações e demolições são necessárias para adequar o Maracanã às exigências da Federação Internacional de Futebol (Fifa) para a Copa 2014.

Copa para quem?

Em São Paulo, cerca de 2 mil pessoas, de acordo com a Polícia Militar, participaram da manifestação “Copa para quem?”, que reuniu integrantes de 50 movimentos sociais de São Paulo, cidade que sediou o sorteio da Copa das Confederações. De acordo com a coordenadora do Comitê Popular da Copa em São Paulo, Graziela Natasha Massoneto, o protesto quer mostrar que as Copas não trazem só o futebol, mas sim muita especulação imobiliária, despejos de famílias inteiras e uso dos recursos públicos de maneira a não beneficiar toda a população. “Esse recurso público vai ser utilizado só para a elite porque o povo não vai poder participar efetivamente deste grande evento.”

Graziela ressaltou que o grupo reivindica que as famílias sejam retiradas de maneira planejada e com destino certo. “Isso deveria ser feito de forma pacífica e com cadastro nos movimentos sociais, com todos sabendo para onde vão”.

Um outro ponto destacado é o que ela chama de “estado de exceção”, no qual comerciantes estarão impedidos de vender seus produtos em estabelecimentos no entorno dos estádios. Além disso, Gabriela chamou a atenção do fato de que espaços públicos serão fechados para as fun zones, áreas onde serão montados telões para a exibição dos jogos.

“Mas o acesso será pago. Se a pessoa não tiver o ingresso não poderá entrar. O trabalhador comum também não conseguirá assistir aos jogos nos estádios porque o ingresso mais barato custa mais de R$ 50,00. Um trabalhador que ganha um salário mínimo não vai poder participar porque ele não vai ter esse dinheiro para dispensar no futebol”.