Ativistas realizam ato em São Paulo exigindo uma Copa do Mundo para todos

Ato 'Copa pra quem?' reuniu cerca de 1500 manifestantes no centro da capital para exigir respeito aos direitos das pessoas atingidas por obras do mundial

Manifestação pacífica percorreu a região central da cidade questionando a quem serve a Copa do Mundo (Foto: Rodrigo Gomes)

São Paulo – Nem a forte chuva, que banhou a cidade na tarde de ontem (1º), desanimou as cerca de 1500 pessoas que se manifestaram na região central da capital, exigindo respeito às populações atingidas pelas obras da Copa do Mundo de 2014 e que seja assegurada a soberania das leis brasileiras durante o evento. O ato “Copa pra quem?” reuniu movimentos sociais, sindicatos, artistas e estudantes, organizados no Comitê Popular da Copa de São Paulo, que caminharam desde um prédio ocupado na rua Mauá, no bairro da Luz, no centro, até o Pavilhão do Anhembi, na zona norte, onde foi realizado o sorteio das chaves da Copa das Confederações, que irá ocorrer no ano que vem.

O ato se iniciou às 14h com uma intervenção artística do grupo teatral Hangar de Elefantes, que representou os incêndios ocorridos em diversas favelas da capital desde o início do ano, e sobre os quais pesa a suspeita de estarem conectados à especulação imobiliária. O grupo construiu um barraco de papelão, que foi queimado por um “especulador” interessado em liberar a área para um empreendimento, entre gritos desesperados dos moradores. Após a intervenção, o carro de som tocou o hino nacional, que foi seguido de palavras de ordem, exigindo uma “Copa com inclusão social, contra todas as remoções forçadas e a exclusão do povo pobre”.

De acordo com a pesquisadora do Observatório das Metrópoles e membro do Comitê, Talita Gonsales, o objetivo do ato era dar voz àqueles que estão sofrendo com as obras para o Mundial. “Queremos mostrar que além da festa que vai ocorrer, muitas pessoas estão sendo removidas de suas casas, os trabalhadores informais não poderão se beneficiar do evento, populações de rua estão sendo varridas da região central da cidade. Não somos contra a Copa. Só que não podemos ignorar tudo o que vem acontecendo para garantir a realização do evento”, explica Talita.

Em frente ao Parque da Luz a marcha fez nova pausa para uma intervenção teatral. Um grupo de atores, vestidos com saiões de folhas de bananeira seca, tentava vender acarajés, cachorros quentes e refrigerantes, por detrás de uma cerca improvisada. Livre, um outro grupo propagandeava, sorrindo e fazendo poses, os patrocinadores do evento. Em determinado momento, todos levantavam placas onde se lia as principais preocupações dos manifestantes: exclusão social, especulação, violência, higienização, entre outras.

“Hoje entra em vigor a Lei Geral da Copa. Com isso, em todos os eventos e jogos, a Federação Internacional de Futebol (Fifa) estabelecerá zonas de exclusão, poderá exigir o fechamento de ruas e estabelecer o que pode ou não ser comercializado, ou mesmo exposto, em determinados locais, de acordo com seus interesses e o de seus parceiros. Ou seja, ficaremos sujeitos aos preceitos de uma organização privada internacional, acima das leis do nosso país”, lamenta Talita.

O ato seguiu pacificamente pela avenida Tiradentes, onde a Polícia Militar realizou bloqueios nas vias de acesso para facilitar a passagem dos manifestantes. Alternavam-se ao microfone do carro as vozes de lideranças sociais das cerca de 90 organizações que compõem o Comitê. Em frente ao prédio do batalhão das Rondas Ostensivas Tobias Aguair (Rota), ouve nova intervenção. Ao som de A Casa, de Vinícius de Moraes, um grupo construiu barracos, ou se cobriu com as folhas de bananeira, em alusão à situação da população de rua na capital. Ao som de uma sirene, outro grupo destruía os barracos, expulsando os desabrigados com chutes e pauladas.

Um dos mais exaltados oradores da tarde, o coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, Anderson Miranda, acredita que a Copa do Mundo poderia ser uma oportunidade para a população de rua, mas tem sido o contrário. “A Copa é muito importante, precisa de muito trabalho. Nós somos carpinteiros, engenheiros, pintores, pedreiros, e o evento poderia acolher essa população. Queremos também aproveitar a festa, com ingresso social para que a população pobre possa participar. Mas, ao invés disso, o que o Mundial tem causado é higienização, expulsão e morte da população de rua”, critica.

Ao chegar à ponte das Bandeiras, os manifestantes foram surpreendidos por uma forte chuva. No entanto, apesar de forçar a substituição das bandeiras por guarda-chuvas, o aguaceiro não desanimou o ato. A marcha contornou a praça Campo de Bagatelle e prosseguiu até a entrada do Pavilhão de Exposições do Anhembi, onde, horas antes, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, abria o sorteio das chaves da Copa das Confederações com a presença da presidenta Dilma Rousseff, ministros de estado, delegações das seleções participantes do torneio e mais 800 convidados.

No carro de som, o coordenador da Pastoral do Povo da Rua, padre Júlio Lancellotti, se exaltava em denunciar o caráter elitizado que o futebol, de apelo comumente popular, está tendo com a Copa no Brasil. “A Copa é da elite, dos poderosos. Tudo que o povo vê é uma grande vassoura que quer varrê-los da cidade. Não queremos que o futebol, um esporte tão popular, seja usado como justificativa para esmagar os pobres e expulsá-los. Nós não podemos permitir isso”, disse o padre. 

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