PMs de São Paulo matam mais do que os de outros estados somados

Anuário confirma crescimento de crimes de roubo e latrocínio no estado mais rico do país e multiplicação das mortes de agentes de segurança; investimento e homicídio melhoram

Apesar do recuo em taxa de homicídios, houve aumento em quase todas as outras ocorrências e nos autos de resistência (Rivaldo Gomes/Folhapress)

São Paulo – O Anuário Brasileiro de Segurança Pública confirma a deterioração do quadro geral de violência em São Paulo. Divulgado no mesmo dia em que os governos federal e estadual oficializaram uma parceria para dar fim à escalada de mortes na unidade mais rica da federação, o estudo indica crescimento nos números gerais sobre roubo, nas ocorrências de latrocínio e no número de mortes de policiais.

Em 2011, 437 pessoas foram mortas em confronto com a Polícia Militar paulista, mais do que os 384 mortos em todos os outros estados que forneceram informações ao Ministério da Justiça, base para o levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Não é exatamente um título inédito: no ano anterior, foram 495 casos, contra 431 nos demais estados. A Polícia Civil de São Paulo é superada pela da Bahia em termos de letalidade, com 50 e 23 mortes, respectivamente.

Mas o principal aumento se dá no número de óbitos de policiais militares, questão que já vinha sendo demonstrada pela escalada de violência das últimas semanas, com uma disputa entre grupos criminosos organizados e a corporação. Segundo a Secretaria de Segurança Pública estadual, 90 policiais militares morreram em serviço este ano, contra 16 em 2011 e 14 em 2010, de acordo com os dados fornecidos ao Ministério da Justiça.

Nos dados sobre a criminalidade em geral, São Paulo apresentou queda na taxa de homicídio doloso, de 4.321 para 4.194 vítimas, o que levou a Secretaria de Segurança a emitir um comunicado comemorando os dados do anuário. A nota destaca a comparação com o Rio de Janeiro. Enquanto a taxa paulista é de 10,1 homicídios para 100 mil habitantes, a fluminense fica em 24,9 para 100 mil. Alagoas lidera neste quesito, com 74,5 casos para 100 mil pessoas, tendo atrás Espírito Santo, com 44,8, e Paraíba, com 43,1.

Em São Paulo, apesar do recuo nos índices de assassinatos, houve crescimento em praticamente todas as demais ocorrências, a começar pelo crime de latrocínio, o roubo seguido de morte, que passou de 253 para 316 casos, um avanço de 23,9%. O segundo colocado neste quesito, o Pará, teve 138 casos, 39% a menos na comparação com 2011. No Rio de Janeiro e no Distrito Federal também houve recuo, de 21,2% e de 68,8%, respectivamente. As tentativas de homicídio foram 5.103 em São Paulo em 2011, 78 casos a mais do que em 2010.

As estatísticas paulistas em relação a crimes contra o patrimônio também apresentaram retrocesso. Em 2011 foram 255 roubos a instituições financeiras, abaixo apenas do Paraná, com 375 casos, e com um crescimento de 19% frente ao período anterior. Os roubos de carga registrados em São Paulo foram 6.958, menos que os 7.294 de 2010, porém superiores à soma de todos os outros estados. Foram registrados 79.190 roubos de veículos, quase 11 mil a mais, e com 60 mil casos a mais do que o Rio de Janeiro, segundo colocado na lista. Mesmo quando se toma como base a proporção em relação à população, São Paulo tem a terceira maior taxa do país, atrás do Amazonas e do Rio. 

No total, 774 paulistas a cada grupo de 100 mil habitantes foram vítimas de algum tipo de roubo em 2011, atrás de Pará, Amazonas e Distrito Federal em termos proporcionais. Em números absolutos, foram 321.984 ocorrências informadas pela Secretaria de Segurança Pública, 116 mil a mais do que o Pará. 

Investimentos

O aporte realizado pelos governos estaduais em segurança pública continua se apresentando como um problema geral. A área de “informação e inteligência”, responsável pela solução de crimes, segue como aquela que recebe os investimentos mais baixos. Apenas 0,66% do total destinado ao setor em todos os estados foi voltado a este trabalho de apuração, quase a metade de 2010 e menos de um quarto do que se via em 2007. Em termos totais também houve um recuo representativo, de R$ 162 milhões em 2007 para R$ 96 milhões em 2010 e R$ 36 milhões no ano passado.

Os gastos com segurança representaram 0,4% do total de recursos da União em 2011, dentro da média registrada ao longo da segunda metade da década passada. São Paulo investiu 7,7% de seu orçamento no setor, menos do que os 8,5% em 2006 e 7,9% em 2007, e acima dos 5,5% de 2010. Em termos proporcionais, Minas Gerais vem no topo da lista, com 13,6% do total das despesas, seguido por Rondônia (13,3%), Alagoas (12,4%) e Sergipe (12,2%). 

No total, São Paulo injetou R$ 12,2 bilhões em segurança, crescimento de 67,38% na comparação com 2010, o maior entre as unidades da federação. O gasto em policiamento avançou 74,34%, de R$ 6 bilhões para R$ 10,4 bilhões. Informação e inteligência recebeu apenas 2% do total, ou R$ 275 milhões.  

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